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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Outro arauto da verdade absoluta

Quando ouvi pela primeira vez o comentador Camilo Lourenço, já lá vão alguns anos, achei o tipo o máximo. Depois comecei a ouvir com alguma regularidade e a magia inicial foi-se perdendo. Algumas das suas intervenções não passam de constatações óbvias. Dizerem que o estado gasta demais, é como que dizerem que o céu é azul. Se acumula défices atrás de défices é porque está a gastar mais do que gera. É óbvio. Dizer que a culpa é quase exclusivamente dos funcionários do estado parece-me troglodita. Primeiro porque na verdade não passam de 20% do total dos gastos do estado. Ou seja 40mil milhões. As prestações sociais, que incluem pensões e todo o tipo de subsídios, custam 109mil milhões (55%). Significa que com 20% do seu orçamento o estado consegue ter um sistema nacional de saúde e educação gratuito. Não me parece nada mal, tendo em consideração que os ordenados destes dois sectores do estado são muito superiores à média nacional. E têm forçosamente de o ser, tal como na justiça ou nas polícias.
Não quero dizer que não hajam gastos desnecessários no estado. Longe disso. Há demasiadas assembleias municipais, demasiadas empresas públicas, demasiados cargos e tachos políticos. E também foram tomadas muitas decisões de forma fácil, que normalmente não defenderam os interesses do país.
Por isso custa-me ver estes entendidos da matéria sistematicamente a malhar no que é mais fácil. É o que se chama cortar a direito. Esquecendo-se que os funcionários do estado tiveram 7anos sem aumentos. Assim que motivação esperam ter? Que eficiências esperam conseguir? Não é assim que se gere uma empresa, então porque se gere assim o estado?
Mas este fim-de-semana, fez-se luz. Vi na televisão a apresentação do novo livro de Camilo Lourenço. Quem estava lá? Pedro Passos Coelho e Isabel Jonet. Olha que dupla. Curiosamente esta tripla tem a mesma visão para o estado: empobrecer os funcionários, privatizar, e dar sopa aos novos pobres (ex-classe média), que têm de se mentalizar do seu novo papel na sociedade: mendigar e calar. E já agora porque não trabalhar também ao sábado!
Agora penso, será PPC um discípulo de Camilo Lourenço, ou será ao contrário? É que a comunicação social nunca teve tantos papagaios do governo a fazer de “comentadeiros” como tem hoje. Faz-me lembrar os megafones espalhados nas praças da china ultra comunista, na mítica propaganda. De tanto se ouvir o mesmo discurso, assimila-se, interioriza-se e pactua-se.

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