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terça-feira, 22 de novembro de 2022

Descer a inflação? Até onde? E, até quando?

Não consigo deixar de achar alguma graça às notícias que têm sido transmitidas pela comunicação social, nos últimos dias, relativas a vários bancos terem decidido distribuir prémios pecuniários aos seus funcionários.

Quer dizer, os bancos (seguindo orientações do banco central) para fazer descer a inflação, tiram poder de compra a todos os seus clientes com empréstimos, subindo-lhes as prestações, e em simultâneo, contrariam essa intenção de fazer descer a inflação, aumentando o poder de compra dos seus funcionários.

Sim, é verdade que os clientes são em muito maior número, mas onde fica o critério e o exemplo?

Um amigo diz que não tem nada a ver com isso, que os bancos apenas estão a evitar pagar tantos impostos sobre os lucros.

Então onde fica esse grande imperativo de fazer descer a inflação?

A esse propósito, continuo com aquelas dúvidas na cabeça: existe algum estudo que diga que são as pessoas que têm empréstimos contratados, as únicas responsáveis pela subida da inflação? Não haverá forma mais eficiente de fazer descer a inflação?

Ou será que isto de poder subir e descer as taxas de juro não passa de um poderosíssimo instrumento ao serviço de quem o pode usar?

A verdade é que muitas pessoas estão a ver o fruto do seu trabalho diminuir, algumas de forma considerável, mesmo que estejam a remar em sentido contrário!

E nem sequer conseguem ficar com a sensação que isto de fazer descer a inflação é para levar a sério!

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Deixem os mercados funcionar!

Recentemente li uma notícia que dizia que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) teve lucros de quase 700 milhões nos primeiros nove meses do ano[1].

Não considero mau as empresas terem lucro, mas não consegui evitar que me viesse à memória uma pergunta, em jeito de resposta, que um amigo deu a outro:

- Sabias que o fulano tal vai casar?

- Ai vai! Contra quem?

Mas o meu comentário vai para outra notícia, igualmente da CGD, que diz que o banco público pretende avançar com uma compensação salarial de até 900 euros, a trabalhadores que aufiram um rendimento mensal até 2.700 euros[2] (900 para os que ganham até 1.500 e 600 para quem ganha entre 1.500 e 2.700€).

A decisão visa compensar a subida acelerada da inflação (que já vai numa “histórica inflação”).

Não tenho qualquer inveja e até acho muito bem que uma empresa/instituição que tenha lucros, decida atribuir compensações salariais aos seus trabalhadores.

Aliás, a esse respeito, tenho a dizer que lamento que cada vez menos empresas distribuam lucros com os seus trabalhadores. Vivemos um tempo em que o capital-humano tem perdido valor para o capital-capital.

Mas, não consegui evitar de pensar que a CGD, por interposta decisão do Banco Central Europeu (e sua presidente, Sr.ª Christine Lagarde) aumente as taxas de juro aos seus clientes para lhes retirar poder de compra, e dessa forma fazer descer a inflação, e, em simultâneo, procure combater a perda de poder de compra dos seus trabalhadores, com compensações salariais.

Afinal, qual é o critério?



[1] https://observador.pt/2022/11/10/caixa-lucra-692-milhoes-em-nove-meses-mais-61-e-preve-pagar-ao-estado-o-maior-dividendo-de-sempre/

[2] https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/banca---financas/detalhe/cgd-avanca-com-compensacao-salarial-de-ate-900-euros-a-trabalhadores

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

A Inflação e a Subida dos Juros

 

Recentemente ouvi um economista dizer que estávamos perante uma tempestade perfeita:

- Falta de algumas matérias-primas (porque nada neste mundo é infinito, e porque ainda não se encontraram alternativas);

- Escassez de artigos para entrega, resultante do encerramento de fábricas devido ao Covid;

- Aumento dos preços dos produtos energéticos e dos produtos alimentares, devido à guerra na Europa;

- E, quanto a mim, alguma especulação, resultante da vontade de subir margens para aumentar lucros.

Tudo isto, em simultâneo, a tal tempestade perfeita, resultou numa subida acentuada dos preços, o que levou à subida da inflação, que em valor médio está nos 10.2 (em Portugal), mas que em alguns produtos, ultrapassa o dobro desse valor.

O Banco Central Europeu tem como objetivo controlar a inflação, tendo como valor de referência os 2%[1].

Para fazer baixar a inflação, aumenta as taxas de juro[2]. Desse modo incentiva a poupança e, mais importante, desincentiva o consumo.

O que está errado nisto? A injustiça da medida!

Esta medida é injusta, e não creio que seja a mais eficiente, porque só afeta uma parte da população.

Nem todos têm empréstimos bancários.

Alguém pode afirmar que as pessoas que têm empréstimos à habitação são as mais consumidoras?

Ou que esta crise foi provocada pelo consumo resultante de dinheiro emprestado?

Estou menos informado do que se passa ao nível das empresas, mas acredito que também aí, haja empresas mais afetadas com a subida das taxas de juro do que outras, mas tal não significa necessariamente, que sejam as mais responsáveis pelo aumento da inflação.

Se o grande objetivo é fazer descer os preços reduzindo a procura, então porque não subir a taxa de IVA?

Claro que esta medida não se aplicaria aos produtos de primeira necessidade. Definia-se um cabaz com produtos fundamentais e todos os outros ficavam sujeitos a uma subida do IVA proporcional à subida do respetivo preço. O IVA voltaria ao valor inicial à medida que os preços fossem descendo.

Outra medida possível, seria a redução do poder de compra, com medidas semelhantes às adotadas no tempo da Troika.

Seriam certamente medidas mais eficazes, mas acima de tudo, mais abrangentes, e por isso, mais justas.

Por outro lado, o dinheiro que o Estado arrecadava a mais com o IVA, ou com o IRS, podia (e devia) ser utilizado para ajudar aqueles que mais necessitam.

Afinal, porque é que aquelas pessoas que contraíram empréstimos, muitas delas, vários anos antes desta crise, estão a ver o esforço do seu trabalho cair a pique.

Muitos trabalhadores competentes e dedicados, já viram o seu esforço ser “engolido” pelas taxas de juro.

Os aumentos salarias (que ainda não chegaram) para ajudar a compensar os aumentos da inflação, bem como eventuais aumentos resultantes de progressões nas carreiras, por mérito, já foram resgatados pelas subidas das taxas de juro, e as taxas de juro vão continuar a subir.

Esta crise não devia ser suportada por todos?

Para onde vai o dinheiro das taxas de juro? O dinheiro que estão a tirar às famílias para que não consumam?

Alguns vão dizer que quando as taxas de juro desceram, ninguém disse nada.

É verdade, mas até nessa altura os Bancos tiveram lucros. Recebem sempre o montante do empréstimo mais a respetiva taxa de lucro, o SPREAD.

Não é comparável!

O que é certo é que uma parte da população chega ao fim do mês com muito menos dinheiro disponível na carteira. E não é porque trabalharam menos, é porque “o sistema”, decidiu de forma administrativa, que esse dinheiro tinha de ser entregue ao Banco.

Ou seja, sem nada de palpável que o justifique, o dinheiro ganho a trabalhar passa do bolso de uns para a conta de outros. Assim, por decreto!

Dizem-nos os economistas que numa sociedade capitalista (como a nossa) devemos deixar os mercados funcionar. Não devemos interferir.

Então tirar a uns para entregar a outros não é uma interferência?

E, porque diabo, são sempre os mesmos a receber?



[1] https://pt.euronews.com/my-europe/2022/06/25/porque-e-que-os-bancos-centrais-aumentam-as-taxas-de-juro-para-conter-a-inflacao

[2] https://www.ecb.europa.eu/ecb/educational/explainers/tell-me-more/html/interest_rates.pt.html