A Inflação e a Subida dos Juros
Recentemente ouvi um economista
dizer que estávamos perante uma tempestade perfeita:
- Falta de algumas
matérias-primas (porque nada neste mundo é infinito, e porque ainda não se
encontraram alternativas);
- Escassez de artigos para
entrega, resultante do encerramento de fábricas devido ao Covid;
- Aumento dos preços dos produtos
energéticos e dos produtos alimentares, devido à guerra na Europa;
- E, quanto a mim, alguma
especulação, resultante da vontade de subir margens para aumentar lucros.
Tudo isto, em simultâneo, a tal
tempestade perfeita, resultou numa subida acentuada dos preços, o que levou à
subida da inflação, que em valor médio está nos 10.2 (em Portugal), mas que em
alguns produtos, ultrapassa o dobro desse valor.
O Banco Central Europeu tem como
objetivo controlar a inflação, tendo como valor de referência os 2%.
Para fazer baixar a inflação,
aumenta as taxas de juro.
Desse modo incentiva a poupança e, mais importante, desincentiva o consumo.
O que está errado nisto? A
injustiça da medida!
Esta medida é injusta, e não
creio que seja a mais eficiente, porque só afeta uma parte da população.
Nem todos têm empréstimos
bancários.
Alguém pode afirmar que as
pessoas que têm empréstimos à habitação são as mais consumidoras?
Ou que esta crise foi provocada
pelo consumo resultante de dinheiro emprestado?
Estou menos informado do que se
passa ao nível das empresas, mas acredito que também aí, haja empresas mais
afetadas com a subida das taxas de juro do que outras, mas tal não significa necessariamente,
que sejam as mais responsáveis pelo aumento da inflação.
Se o grande objetivo é fazer
descer os preços reduzindo a procura, então porque não subir a taxa de IVA?
Claro que esta medida não se
aplicaria aos produtos de primeira necessidade. Definia-se um cabaz com
produtos fundamentais e todos os outros ficavam sujeitos a uma subida do IVA
proporcional à subida do respetivo preço. O IVA voltaria ao valor inicial à
medida que os preços fossem descendo.
Outra medida possível, seria a
redução do poder de compra, com medidas semelhantes às adotadas no tempo da Troika.
Seriam certamente medidas mais
eficazes, mas acima de tudo, mais abrangentes, e por isso, mais justas.
Por outro lado, o dinheiro que o
Estado arrecadava a mais com o IVA, ou com o IRS, podia (e devia) ser utilizado
para ajudar aqueles que mais necessitam.
Afinal, porque é que aquelas
pessoas que contraíram empréstimos, muitas delas, vários anos antes desta
crise, estão a ver o esforço do seu trabalho cair a pique.
Muitos trabalhadores competentes
e dedicados, já viram o seu esforço ser “engolido” pelas taxas de juro.
Os aumentos salarias (que ainda
não chegaram) para ajudar a compensar os aumentos da inflação, bem como eventuais
aumentos resultantes de progressões nas carreiras, por mérito, já foram resgatados
pelas subidas das taxas de juro, e as taxas de juro vão continuar a subir.
Esta crise não devia ser
suportada por todos?
Para onde vai o dinheiro das
taxas de juro? O dinheiro que estão a tirar às famílias para que não consumam?
Alguns vão dizer que quando as
taxas de juro desceram, ninguém disse nada.
É verdade, mas até nessa altura
os Bancos tiveram lucros. Recebem sempre o montante do empréstimo mais a
respetiva taxa de lucro, o SPREAD.
Não é comparável!
O que é certo é que uma parte da
população chega ao fim do mês com muito menos dinheiro disponível na carteira.
E não é porque trabalharam menos, é porque “o sistema”, decidiu de forma
administrativa, que esse dinheiro tinha de ser entregue ao Banco.
Ou seja, sem nada de palpável que
o justifique, o dinheiro ganho a trabalhar passa do bolso de uns para a conta
de outros. Assim, por decreto!
Dizem-nos os economistas que numa
sociedade capitalista (como a nossa) devemos deixar os mercados funcionar. Não
devemos interferir.
Então tirar a uns para entregar a
outros não é uma interferência?
E, porque diabo, são sempre os
mesmos a receber?