Imagine que dentro de um ano a comunidade científica vem
dizer ao mundo que o desenvolvimento da vacina contra o Covid-19 correu mal. Os
vários testes efetuados revelaram que o vírus sofre frequentes mutações e o efeito
da vacina não dura sequer meio ano. Para piorar ainda mais a situação dizem-nos
que a imunidade daqueles que já foram contagiados não é superior a esse período
de tempo.
São-nos inclusive relatados casos de pessoas que poucos meses
depois de se terem curado da doença, foram reinfectadas, e algumas delas, tendo
sobrevivido à doença da primeira vez, não o conseguiram fazer quando da segunda
infeção.
O mundo acabava de receber um enorme balde de água fria!
Todas as medidas que tinham sido tomadas para evitar o
contágio do vírus, nomeadamente o cancelamento de eventos que implicavam uma
grande concentração de pessoas, a redução da lotação de espaços fechados com
vista a garantir o distanciamento social, e o uso obrigatório de máscara, principalmente
em locais de espaço limitado, tinham associadas o pressuposto de serem
passageiras.
Agora, com esta notícia, os governos ficam sem saber até
quando isto vai durar.
Por este mundo fora, as economias continuam a ver o desemprego
a aumentar e o PIB a decrescer, sentindo-se impotentes para contrariar essa
tendência. Para tornar o cenário ainda mais desolador, há cada vez mais pessoas
a passar fome.
Os governos veem-se na obrigação de tomar uma de duas
decisões:
a)
Manter
as medidas tal como estão, até que a comunidade científica encontre alguma
solução eficaz contra o vírus, independentemente do tempo que for necessário;
b)
Atenuar
ou abandonar algumas medidas, com vista a recuperar a economia para valores
mais próximos da situação pré-pandemia.
Em qualquer dos casos, o “novo normal” veio para ficar. Temos
de aprender a viver com menos.
Isso significa que não podemos deitar a máscara para o lixo
nem voltar a abraçar aqueles que nos são mais queridos, especialmente se se
encontrarem numa situação de maior vulnerabilidade (pelo menos até que se
disponibilizem testes rápidos e de confiança).
Ao escrever estas linhas não consigo deixar de sentir alguma
frustração. Somos muito mais inteligentes que o vírus, mas o vírus agarra-se às
nossas células o que torna difícil acertar-lhe sem nos prejudicarmos. Atrevo-me
a dizer que seria mais fácil derrotar os dinossauros, se existissem.
Uma coisa é certa, necessitamos da ciência para conseguir vencer
o vírus. Sem laboratórios de investigação científica bem apetrechados e sem
cientistas investigadores não conseguiremos ultrapassar esta pandemia. Não é
algo que esteja ao alcance de qualquer um.
Até que esse momento tão desejado chegue temos que continuar
a ter cuidados. A alternativa seria um retrocesso civilizacional. Não podemos
permitir que se percam anos de vida de pessoas que têm muito conhecimento para
partilhar. Os mais aptos não são necessariamente os que detêm mais
conhecimento. Todos fazem falta!
Mas as notícias têm sido esperançosas. Existem inclusive
razões para estarmos otimistas porque tudo aponta para que no início do próximo
ano já tenhamos uma vacina.
Repare-se que meses depois de a doença ter sido anunciada já
se conhecia a sequência genética do vírus. Se compararmos com o vírus da imunodeficiência
humana (VIH) que foi descoberto há cerca de 40 anos, a diferença é impressionante.
Ainda hoje não temos vacina contra este vírus (embora, possamos suspeitar que existam
condicionantes de natureza económica). Só no ano passado, morreram cerca de 700
000 pessoas de doenças relacionadas com a SIDA.
Mas atenção! Embora tudo aponte para que o cenário hipotético
aqui apresentado não se venha a concretizar, não sabemos quando surgirá o
próximo vírus nem se será mais mortal e difícil de vencer que este.
Não podemos parar de investigar! A investigação traz-nos conhecimento
que será sempre útil e permite-nos estar melhor preparados para qualquer
eventualidade.
Se esta pandemia tivesse sido evitada graças ao conhecimento resultante
de investigação científica, todos seriam unânimes em afirmar que teria sido o
melhor investimento da nossa história.