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segunda-feira, 11 de março de 2024

O povo votou e… o egoísmo ganhou

Não vejo outra razão para um partido como o Chega conseguir obter os resultados que conseguiu a não ser por beneficiar desse sentimento pouco nobre que é o egoísmo que vive entranhado e se transfere nos cromossomas das almas que constituem este – cada vez menos – nobre povo.

Os candidatos deste partido são o que são. Os discursos são o que são. O programa é o que é (ridículo). Mas Ventura promete tudo a todos sem excepção, encaixa-se na alma mais ultraconservadora até à alma mais brava marxista-leninista. E esse egoísmo floresce.

Recordo as palavras de Sérvio Galba, que chegou a governar o Império Romano entre 68 e 69 D.C. e que antes governou a Hispânia, quando se referiu ao povo Lusitano “Há, na parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho, não se governa nem se deixa governar”. Também Estrabão, filósofo grego do século I A.C descreveu o povo Lusitano como sendo muito individualista e com grande falta de coesão política. Povo esse que foi vencido. Pelo dinheiro, claro. Sempre o vil metal a alimentar-se desse egoísmo.

Roma conquistou-os, comprando-os. O dinheiro da traição sobrepôs-se a qualquer coesão política ou identitária. O tal egoísmo já lá estava e dois mil anos depois continua presente.

Alguém acena com euros e perdem-se os valores cívicos, societários e políticos. Ventura sabe disso e usa a estratégia tão bem-sucedida no passado. E como este povo é inculto, vive embriagado entre futebol, telenovelas e reality shows, não conhecerá certamente o destino traçado ao traidor em Roma. “Roma não paga a traidores, assassina-os”. Nesta rábula, Ventura é a Roma, o traidor são os egoístas que o levaram em ombros.  Estes, que hoje tiveram voz, amanhã poderão não a ter.

Karl Popper explica no seu paradoxo da tolerância, que a tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Segundo ele, a intolerância não deve ser tolerada, pois se a tolerância permitir que a intolerância tenha sucesso completamente, a própria tolerância estaria ameaçada. Foi o que todos, partidos e fundamentalmente a comunicação social, fizeram nestes últimos anos. Podemos, pois, estar a caminhar paulatinamente para a extinção dos tolerantes sem sequer se aperceberem.

Como democrata, individuo que cresceu num país livre, pós 25 de abril, custa-me ver o caminho que este país trilha na cegueira dos seus egoísmos. Ainda haverá salvação? Temo pelas gerações mais novas. Haverá algo que possa fazer?