Não vejo outra razão para um partido como o Chega conseguir obter os resultados que conseguiu a não ser por beneficiar desse sentimento pouco nobre que é o egoísmo que vive entranhado e se transfere nos cromossomas das almas que constituem este – cada vez menos – nobre povo.
Os candidatos deste partido são o
que são. Os discursos são o que são. O programa é o que é (ridículo). Mas Ventura
promete tudo a todos sem excepção, encaixa-se na alma mais ultraconservadora
até à alma mais brava marxista-leninista. E esse egoísmo floresce.
Recordo as palavras de Sérvio Galba,
que chegou a governar o Império Romano entre 68 e 69 D.C. e que antes governou a
Hispânia, quando se referiu ao povo Lusitano “Há, na parte mais ocidental da
Ibéria, um povo muito estranho, não se governa nem se deixa governar”.
Também Estrabão, filósofo grego do século I A.C descreveu o povo Lusitano como
sendo muito individualista e com grande falta de coesão política. Povo esse que
foi vencido. Pelo dinheiro, claro. Sempre o vil metal a alimentar-se desse egoísmo.
Roma conquistou-os, comprando-os.
O dinheiro da traição sobrepôs-se a qualquer coesão política ou identitária. O tal
egoísmo já lá estava e dois mil anos depois continua presente.
Alguém acena com euros e
perdem-se os valores cívicos, societários e políticos. Ventura sabe disso e usa
a estratégia tão bem-sucedida no passado. E como este povo é inculto, vive embriagado
entre futebol, telenovelas e reality shows, não conhecerá certamente o destino traçado
ao traidor em Roma. “Roma não paga a traidores, assassina-os”. Nesta rábula,
Ventura é a Roma, o traidor são os egoístas que o levaram em ombros. Estes, que hoje tiveram voz, amanhã poderão não a ter.
Karl Popper explica no seu
paradoxo da tolerância, que a tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da
tolerância. Segundo ele, a intolerância não deve ser tolerada, pois se a tolerância
permitir que a intolerância tenha sucesso completamente, a própria tolerância
estaria ameaçada. Foi o que todos, partidos e fundamentalmente a
comunicação social, fizeram nestes últimos anos. Podemos, pois, estar a
caminhar paulatinamente para a extinção dos tolerantes sem sequer se aperceberem.