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quinta-feira, 3 de agosto de 2023

 

Mais uma mãozinha para os bancos?

Temos ouvido falar, nos meios de comunicação social, dos lucros extraordinários que os Bancos têm tido[1], numa altura de sucessivos aumentos das taxas de juro.

Ou seja, enquanto uns vão vivendo cada vez mais sufocados com a perda de poder de compra, outros beneficiam escandalosamente.

O que não deixa de ser curioso, é que não me recordo de ter ouvido falar em prejuízos extraordinários, ou sequer em prejuízos, quando as taxas de juro estiveram em valores próximos de zero, ou mesmo em valores negativos.

Ou seja, independentemente de eventuais explicações, isto não devia de ser mais proporcional?

Com taxas de juro muito baixas, os lucros caem, é certo, mas os bancos conseguem evitar prejuízos. Quando as taxas sobem, os lucros crescem exponencialmente.

Dizem que os bancos compram dinheiro mais caro, quando as taxas estão altas, e mais barato, quando estão baixas.

No meio de tudo isto, ainda temos o “spread”, que supostamente é a taxa de lucro dos bancos.

Ou seja, o coelhinho foi com o Pai Natal, e o palhaço, no comboio ao circo…

Lá, foi lhes dito que o BCE tem como grande objetivo manter a inflação num valor relativamente baixo.

Para tal, sempre que necessário, usa a subida das taxas de juro.

Mas uma parte significativa do efeito provocado pela subida das taxas de juro não é o mesmo em todos os países afetados pelas decisões do BCE.

Há países em que cerca de 80% dos créditos à habitação são com taxa fixa, enquanto outros, como é o caso de Portugal, essa percentagem refere-se ao crédito com taxa variável

Talvez seja porque geralmente é a que compensa na altura do contrato, e (digo eu), para a grande maioria, todo o pilim faz falta.

Isto significa que as subidas das taxas de juro têm um impacto muito maior nas famílias com crédito à habitação com taxa variável.

Logo, se a maioria das pessoas optar por mudar para taxa fixa (agora não é a melhor altura, esperem que desça significativamente), as ações do BCE perdem impacto.

Se deixar de ter o efeito que tem no crédito à habitação, terá de ter maior efeito no crédito ao consumo e no crédito ao investimento.

Nesse cenário, e se continuar a ser a única ferramenta para baixar a inflação, arrisco-me a dizer que o BCE não tem outra alternativa para além de subir ainda mais as taxas de juro.

 

 



[1] https://www.dinheirovivo.pt/empresas/lucros-do-bcp-disparam-580-na-primeira-metade-do-ano--16765243.html