Mais uma mãozinha para os bancos?
Temos ouvido falar, nos meios de
comunicação social, dos lucros extraordinários que os Bancos têm tido[1],
numa altura de sucessivos aumentos das taxas de juro.
Ou seja, enquanto uns vão vivendo
cada vez mais sufocados com a perda de poder de compra, outros beneficiam escandalosamente.
O que não deixa de ser curioso, é
que não me recordo de ter ouvido falar em prejuízos extraordinários, ou sequer em
prejuízos, quando as taxas de juro estiveram em valores próximos de zero, ou
mesmo em valores negativos.
Ou seja, independentemente de
eventuais explicações, isto não devia de ser mais proporcional?
Com taxas de juro muito baixas, os
lucros caem, é certo, mas os bancos conseguem evitar prejuízos. Quando as taxas
sobem, os lucros crescem exponencialmente.
Dizem que os bancos compram
dinheiro mais caro, quando as taxas estão altas, e mais barato, quando estão baixas.
No meio de tudo isto, ainda temos
o “spread”, que supostamente é a taxa de lucro dos bancos.
Ou seja, o coelhinho foi com o Pai
Natal, e o palhaço, no comboio ao circo…
Lá, foi lhes dito que o BCE tem
como grande objetivo manter a inflação num valor relativamente baixo.
Para tal, sempre que necessário, usa
a subida das taxas de juro.
Mas uma parte significativa do
efeito provocado pela subida das taxas de juro não é o mesmo em todos os países
afetados pelas decisões do BCE.
Há países em que cerca de 80% dos
créditos à habitação são com taxa fixa, enquanto outros, como é o caso de
Portugal, essa percentagem refere-se ao crédito com taxa variável
Talvez seja porque geralmente é a
que compensa na altura do contrato, e (digo eu), para a grande maioria, todo o
pilim faz falta.
Isto significa que as subidas das
taxas de juro têm um impacto muito maior nas famílias com crédito à habitação
com taxa variável.
Logo, se a maioria das pessoas
optar por mudar para taxa fixa (agora não é a melhor altura, esperem que desça significativamente),
as ações do BCE perdem impacto.
Se deixar de ter o efeito que tem
no crédito à habitação, terá de ter maior efeito no crédito ao consumo e no
crédito ao investimento.
Nesse cenário, e se continuar a
ser a única ferramenta para baixar a inflação, arrisco-me a dizer que o BCE não
tem outra alternativa para além de subir ainda mais as taxas de juro.
[1] https://www.dinheirovivo.pt/empresas/lucros-do-bcp-disparam-580-na-primeira-metade-do-ano--16765243.html
Muito bem descrito. É a ganância. Bjs, Jerónimo
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