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terça-feira, 21 de outubro de 2014

Alexandre Soares dos Santos, acordou!??

Sempre ouvi dizer que burro velho não aprende línguas, mas Soares do Santos está quase lá!! É verdade que o homem está "quase reformado", mas mais vale tarde que nunca!

Referiu ao expresso que está farto do investimento "chinês" que não considera investimento, considera comprar barato.
Já me cansei de escrever aqui no blog, que o investimento que Portugal necessita não é do tipo vender uma empresa e alguém comprar. O investimento necessário é aquele em que se convence os grandes investidores a trazerem para Portugal algo que ainda não exista cá. Isso sim é investimento. Isso sim gera empregos. Isso sim aumenta o PIB.

Vender a EDP, REN, Fidelidade, quanto muito ainda vai desequilibrar as coisas. O PIB vai cair devido à saída de dividendos e de investimento e como o privado quer as empresas eficientes, vai espremer funcionários despedindo alguns... É só pensar um pouco.

http://expresso.sapo.pt/soares-dos-santos-detesto-investimentos-chineses=f894657



sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Assim não tem piada; Assim, não vamos lá; por mim, assim não brinco!

Sobre o caso Tecnoforma faltou algo por dizer. Não sei se o senhor primeiro-ministro cometeu, ou não, alguma ilegalidade, mas após ter lido o texto publicado pelo JOÃO MIGUEL TAVARES, (ver post em baixo) e relembrado aqueles tempos dos cursos de formação profissional, financiados pelos fundos europeus, só posso pensar que este, a que o senhor primeiro-ministro parece ter estado ligado, foi mais um daqueles que não serviu para ajudar a desenvolver o país e aumentar a sua capacidade produtiva, mas antes para o benefício de uns quantos. Como? Não sei, mas como dizia o outro, é só fazer as contas. Para além da enorme falcatrua que envolveu a crise financeira de 2008, com todos aqueles produtos tóxicos de que todos já ouvimos falar, fonte na qual muitos dos nossos queridos bancos foram beber (até férias ofereciam em troca de créditos), como a pesado custo temos continuamente vindo a sentir na carteira, da brutal inflação que se deu neste pequeno e mal preparado país com a entrada no Euro, o terceiro grande responsável pela crise que estamos e vamos continuar a atravessar foram os enormes fundos que entraram no país provenientes da UE que em grande parte foram aplicados para benefício de uns quantos, mas pouco ou mal aproveitados para desenvolver ao máximo o país e desse modo, não só aproveitar os fundos mas também os baixos juros. O país desistiu dos fatores produtivos e apostou no endividamento e nas engenharias financeiras, tão bem ilustrado no caso Estamo (ver post, “Jogar golfe é um direito humano. Nas Amoreiras”). A ganância e o egoísmo de uns levou a que o país se endividasse ao ponto de não ter dinheiro para pagar os salários e quem nos emprestava dinheiro disse basta, agora se querem, pagam, e claro, como todos sabemos, pagam principalmente os que não são “chicos-espertos”. Como é que isto não havia de acabar mal? E ainda vão uns tipos para a TV dizer que os portugueses viviam acima das suas possibilidades. Haja descaramento.
 


quinta-feira, 9 de outubro de 2014

“O Estado social somos todos nós”, diz Lobo Antunes


Tal como na medicina, é indispensável fazer o “diagnóstico das causas da crise” para acabar com ela e para prevenir reincidências, afirma o neurocirurgião, acrescentando que a crise económica “ameaça esfarrapar o Estado social”.

Era uma “reflexão despretensiosa” aquela que o neurocirurgião João Lobo Antunes se propunha fazer sobre o que o preocupa como cidadão no actual estado das coisas do Estado social. Tendo em conta a sua área de eleição, o também Conselheiro de Estado não se coibiu de mencionar uma ou outra ligação que podem ser encontradas entre a medicina e a política. Fez uma resenha sobre a história da teoria do Estado social para acabar por concluir que, hoje, “o Estado social somos nós”.
“O modelo social europeu é em si mesmo um programa político, representa uma conquista social sem preço e a sua destruição seria uma catástrofe”, afirmou Lobo Antunes na conferência Afirmar o Futuro, que esta terça-feira terminou na Fundação Calouste Gulbenkian. A ideia inicial das funções do Estado começaram a ganhar forma na Europa central no século XIX com as políticas de Bismark sobre pensões de reforma, por acidente ou doença. E materializaram-se no início do século XX com intervenções em serviços sociais como a educação, saúde, transportes, habitação, cultura, apoios sociais. Mas foi preciso esperar pelo pós-segunda guerra para que o crescimento do Estado social ficasse intimamente ligado ao boom económico, recordou Lobo Antunes, ainda que o modelo social tenha “assumido na Europa roupagens muitos variadas”.
Em Portugal as coisas demoraram mais, mas o neurocirurgião considera que “indiscutível que o Serviço Nacional de Saúde foi uma das mais felizes germinações da revolução de Abril e aquela que mais se entranhou na alma dos cidadãos como um direito inalienável”.
No final da década de 80, com o fim do muro de Berlim, começou a “questionar-se a viabilidade do modelo social vigente” e essas dúvidas adensaram-se nos últimos anos com a crise financeira. O que faz perigar as muitas formas de segurança que esse Estado social imprimia à vida dos cidadãos. Agora, politicamente, nem a direita nem a esquerda sabem lidar com o que resta desse Estado social.
“A crise económica ameaça esfarrapar o Estado social”, avisa o médico. Tal como na medicina, é indispensável fazer o “diagnóstico das causas da crise” para acabar com ela e para prevenir reincidências. Lobo Antunes considera que a saúde é uma área onde não pode haver cedências nas responsabilidades do Estado porque tem “efeito multiplicador na economia” – faz aumentar a produtividade, o capital humano e por cada ano ganho na esperança de vida a economia cresce 4%, enumera.
“O debate sobre sustentabilidade do Estado social, e particularmente da saúde, é habitualmente dominado por duas dimensões: a sustentabilidade financeira e a sustentabilidade política, tendo esta última condição da primeira e sendo ambas condições necessárias mas não suficientes”, apontou Lobo Antunes. Por isso, “o paradigma da saúde pode ajudar a recentrar a questão das prestações do Estado social” e isso é especialmente importante numa altura como a actual. “As políticas de saúde em tempo de crise implicam fazer o que é necessário”, mas fazê-lo de forma prudente, racional, informada. O que nem sempre é fácil porque, admite, “a crise tem também como consequência o turvar da tomada emocional das decisões”,
“Para a saúde ser sustentável precisamos de uma população saudável e também responsável pela sua própria saúde e de práticas de saúde bem integradas com outras políticas educativas, sociais e económicas. Ou seja, precisamos de saúde em todas as políticas.”
Até porque, continuou, o Estado social adaptado é “indispensável para servir o interesse público na educação, na justiça, na saúde, na segurança social, em todas as áreas de intervenção do Estado junto dos cidadãos. Só assim podemos ter uma democracia saudável e competitiva.” E perante este quadro global, João Lobo Antunes rematou: “O Estado social, no fundo, somos nós.”


Jogar golfe é um direito humano. Nas Amoreiras



Anos a fio ministros e autarcas andaram a esconder dívidas em centenas de entidades cujas contas não entravam nas do défice público. Já o sabíamos. Não sabíamos é que isso até incluía clubes de golfe.

Não há nada como fazer contas de somar. Ou, para ser mais exacto, juntar tudo e somar tudo, sem deixar nada de fora, sem truques, sem lixo escondido por baixo dos tapetes nem contas omitidas.

Sabíamos há muito que, anos a fio, os governos e os autarcas se tinham especializado em disfarçar as contas públicas: tudo o que pudessem tirar do perímetro da consolidação orçamental não contava para o défice e para a dívida, escapava ao cutelo de Bruxelas e iludia a crendice dos eleitores. Sabíamos também que um dia íamos ter de alterar critérios e tirar esses esqueletos dos armários. Nesse dia as contas públicas ficariam ainda mais feias. Foi isso que aconteceu agora. O que descobrimos é pior do que aquilo que imaginávamos.

Ver os défices do passado darem saltos de canguru era certo e sabido que ia acontecer. Mesmo assim não se imaginava que em 2010, o último ano do consulado Sócrates, o défice tivesse chegado aos 11,2%. Não há memória de tal desequilíbrio nas contas do Estado e só se estranha que ainda haja quem se orgulhe desse feito.

Mas a maior das surpresas não foi ver alguns destes saltos – foi ver o tipo de entidades que, a partir de agora, são consideradas “Entidades do Setor Institucional das Administrações Públicas”, isto é, as suas contas vão directamente ao nosso bolso, o de contribuintes, sem subterfúgios ou disfarces. A lista de todas essas entidades enche 94 páginas de um documento ontem disponibilizado pelo Instituto Nacional de Estatísticas, com 40 a 50 entidades por página. Está lá tudo, desde a Assembleia da República do Clube de Golfe das Amoreiras. Sim, aquele clube de golfe onde nunca se chegou a dar uma tacada. Sim, um clube que não está sozinho, pois tem a companhia do “Porto Santo Golf Resort”. E de muitas outras coisas bizarras, como marinas, aquários ou termas, teatros e fundações, para além, claro, de estádios do Mundial. A quantidade de coisas que o Estado acha que lhe compete fazer, e para fazer, ter, é infindável.

Depois da surpresa, a leitura atenta da lista permite-nos perceber o que entrou para ela este ano – 268 entidades – e o que fez saltar os números dos défices passados. Mais: permite perceber melhor porque é que em Portugal só muda o que permite que tudo fique na mesma.

Entre as entidades que entraram para o perímetro da consolidação orçamental as que pesam mais são a CP, com as suas dívidas gigantescas, a maior parte dos grandes hospitais, incluindo todos os IPO, e empresas públicas como a Parpública ou a Estamo. A forma como o Estado geria a relação com essas entidades simboliza bem o modo como sucessivos governos trataram de disfarçar o défice real das contas públicas. É certo que, no fim do dia, paga sempre o mesmo mexilhão, mas essas entidades, ao conseguirem endividar-se fora do perímetro das contas públicas, ajudavam a criar a ilusão de que as contas do Estado estavam controladas quando, afinal, estavam era maquilhadas.

Veja-se o caso da Estamo. Essa empresa comprava ao Estado edifícios ocupados por serviços públicos. Quando o fazia, a “venda” funcionava como receita e abatia às contas do défice, apesar de só se ter trocado o dinheiro de bolso. Para realizar essas compras, a Estamo ia ao mercado bancário endividar-se, mas isso não era problema porque a sua dívida não contava para a dívida pública. Depois, para fingir que era uma empresa a sério, passava a cobrar renda aos serviços públicos que, mesmo tendo vendido os imóveis em que estavam instalados, por lá continuavam. Essas rendas passavam a ser um custo que, esse sim, pesaria no défice dos anos seguintes.

Como foram quase três centenas as entidades que agora, por imposição das novas regras europeias, tiveram de ser integradas no perímetro das administrações públicas, basta-nos multiplicar por 300 esquemas deste género, mesmo que em dimensão menor, para termos uma ideia de como se alimentou, da administração central à administração local, uma fatal ilusão sobre a saúde das contas do Estado.

Estes mecanismos não permitiam poupar dinheiro ou dívida, quanto muito atiravam para o futuro contas que deviam ser pagas hoje. Nenhum contribuinte se escaparia a pagar a factura quando ela aparecesse. O que estes mecanismos permitiam era gastar mais fingindo que se estava a gastar menos. Com eles era possível – como agora se vê com mais clareza ao conhecermos o valor das contas corrigidas dos défices de 2010 a 2013 – iludir as regras impostas pela moeda única. Com elas, no fundo, era possível manter o Estado a viver acima das suas possibilidades, uma expressão que irrita muita gente mas que este exemplo ilustra de forma especialmente eloquente.

Tão impressionante como passar os olhos pela infindável lista de entidades, é interiorizar que tudo aquilo que ali está tem responsáveis, tem administradores, tem secretariados, tem viaturas e quase sempre tem motoristas. Olha-se para ali e percebe-se a dimensão do país dos boys: até uma gráfica a CP tinha, e até essa gráfica tinha gestores de nomeação política.

É por isso que digo que Portugal não muda. E que ninguém reforma o Estado a sério e a doer. Ou que então só o “reformam” quando do exercício resulta um número não muito diferente de entidades com lugares para preencher.


As regras da União Europeia impuseram-nos esta transparência e agora o INE vai poder olhar para as contas de todas estas entidades e fazer, no fim, as contas de somar que há muito deviam ser feitas. E o que é triste é que se hoje nos assustamos com a nova dimensão dos velhos défices, amanhã lá estaremos a ver se, no Clube de Golfe das Amoreiras, o tal onde nunca se deu uma tacada mas que certamente cumpre uma qualquer nobre função pública, quiçá social, porventura tão essencial como qualquer outro direito humano, não haverá ainda alguma mordomia disponível. Quem sabe…