Pesquisa

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022


 

4.          De macaco a sapiens.

Os homens modernos, da espécie Homo sapiens, não evoluíram dos macacos, mas compartilham de um ancestral comum com eles.

Foi descoberto em 2002 por uma equipa de paleoantropólogos espanhóis uma espécie de primata que terá vivido há cerca de 12 milhões de anos e que poderá ter sido o ancestral comum do homem e dos grandes símios (gorila, chimpanzé, bonobo e orangotango).

A linhagem humana remonta há pelo menos 4 milhões de anos atrás com a descoberta no norte do Quénia de fósseis do Australopitecos Anamensis.

No decorrer desse período, a evolução deu-se de forma relativamente lenta[1]:

- Australopithecus Afarensis: estima-se que terá vivido há 3.4 milhões de anos; encontrado na Etiópia, nos Camarões e na Tanzânia; talvez o maior achado tenha sido Lucy (esqueleto encontrado em 1974 na Etiópia); tinha dentes mais humanos do que as criaturas anteriores; a mandíbula começou a ter a forma parabólica humana e estabeleceu plenamente a locomoção bípede.

Australopithecus Africanus: entre 2 a 3 milhões de anos atrás, esta espécie foi encontrada na África do Sul. Similar ao A. Afarensis no tamanho do cérebro, a mandíbula tem uma forma totalmente humana.

Homo Habilis: viveu há 1.6 milhões de anos e seus fósseis foram descobertos em 1964 na Tanzânia (África Oriental). Possuía a habilidade de usar ferramentas.

Homo Ergaster: descoberto na África do Sul, sua idade é datada em torno de 1.5 milhões de anos. Acredita-se que poderá ter sido o primeiro a usar o fogo e utilizar instrumento de pedras.

Homo Georgicus: com aproximadamente a mesma idade que o Homo Ergaster; foi descoberto em Dminisi, na Geórgia em 2002; media cerca de 1.5m e é considerado importante devido à sua descoberta ocorrer próximo das fronteiras da Ásia (mostrando processo de migração).

Homo Floresiensis: encontrados na Ilha de Flores (Indonésia), possui 1 milhão de anos. Sua marca principal era seu tamanho reduzido, que já na fase adulta chegava a medir apenas um metro (daí terem recebido a alcunha de "Hobbits").

Homo Erectus: foram encontrados fósseis no Quénia, com aproximadamente 1 milhão de anos; possui um cérebro duas vezes maior do que o de um chimpanzé. Foi a partir desta espécie que se deu início ao convívio social (juntavam-se em grupos para sobreviver).

Homo Heidelbergensis: com traços humanos bem claros, viveu há cerca de 500 mil anos atrás, sendo classificado como o ancestral comum mais recente entre H. Sapiens e o H. Neandertal; uma das suas principais características é o cultivo da fé (vários cemitérios foram encontrados, demonstrando que possuíam alguma crença religiosa); outro de seus feitos foi a capacidade de construir abrigos grandes para sua proteção; acredita-se que começou a espalhar-se por outros lugares, pois parte deles migrou para Europa (O seu nome nasce do local original de descoberta de seus primeiros fósseis, uma propriedade rural próxima de Heidelberg, Alemanha).

Homo Neanderthalensis: com cerca de 300 mil anos, viveu na Europa; sabe-se que coabitou com o sapiens; não há certezas sobre a sua extinção, embora uma das teorias aponte para nós.

Homo Sapiens: chegamos ao ponto em que estamos; com cerca de 300 mil anos e uma enorme capacidade de adaptação, utilizar ferramentas e viver socialmente.

Homo Sapiens Sapiens: é, na verdade, uma subespécie que se refere às formas mais modernas de Homo sapiens e que terão aparecido pela primeira vez há cerca de 120 000 anos; o aumento do volume craniano durante o processo evolutivo é notável, tendo crescido dos 450 cm3 (australopitecos) até os 1350 cm3 (Homo sapiens moderno), que lhe proporciona uma capacidade de raciocínio aumentada, linguagem complexa e a resolução de problemas difíceis (pensamento abstrato).



[1] https://www.hipercultura.com/conheca-as-fases-da-evolucao-do-homem/

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

 

 

3.           Reprodução sexuada.

A comunidade científica ainda está a tentar perceber como se deu exatamente a evolução da reprodução assexuada para a reprodução sexuada.

Considera-se uma evolução porque embora tenha ocorrido perda de eficácia, esta foi compensada por ganhos de eficiência, devido à maior variabilidade genética que se conseguiu.

Duas hipóteses se destacam sobre a origem do sexo:

- Originou-se do fenómeno de mistura entre o genoma de uma bactéria e de um vírus;

- Foi uma evolução do processo de trocas de material genético entre bactérias.

Acredita-se de que o sexo surgiu devido à necessidade de microrganismos (por ex. bactérias) de reparar danos (perdas ou ganhos indesejáveis de informação genética) no seu material genético.

O surgimento do sexo pode estar relacionado com a reparação do material genético, quer seja por meio da incorporação de DNA existente fora das células, quer da transferência de material genético que ocorreu entre microrganismos (bactérias, por exemplo).

O sexo “primitivo” pode ter começado por ser uma função reparadora, responsável exclusivamente por corrigir erros existentes no material genético.

Consequentemente, a evolução do sistema de enzimas que reparam os “erros” que surgem quando da transmissão da informação genética, esteve na origem dos mecanismos que promovem a troca de material genético entre indivíduos.

Em uma etapa posterior do processo evolutivo, com aparecimento dos seres eucariotas (com núcleo) e gonocorismos (com sexos separados - macho e fêmea), a reprodução sexuada envolve recombinação genética através da fusão dos gâmetas e do emparelhamento de cromossomos homólogos para certas espécies e também pela reunião de cromossomos sexuais (X e Y).

Na região ártica do Canadá foram encontrados fósseis que nos contam da primeira reprodução sexual há mil e duzentos milhões de anos (provavelmente o ancestral comum no que diz respeito à reprodução sexual).

Trata-se de um organismo multicelular (uma alga marinha) que se reproduzia sexualmente.

O ambiente hostil e em constante mudança em que viveu pode ter estado na origem da evolução para a reprodução sexuada.

*-*

Breve resumo destes primeiros três capítulos:

Dá-se uma explosão há treze mil e oitocentos milhões de anos, o Universo começa a expandir-se e nove mil e duzentos milhões de anos depois forma-se a Terra (há 4.6 mil milhões de anos).

Oitocentos mil anos depois (há 3.8 mil milhões de anos), combinam-se alguns elementos químicos (podiam ter sido estes: hidrogénio, metano, oxigénio, carbono e amónia) e formam-se aminoácidos[1] que estão na base das proteínas que são macromoléculas biológicas constituídas por uma ou mais cadeias de aminoácidos.

As proteínas estão presentes em todos os seres vivos e participam em praticamente todos os processos celulares, desempenhando um vasto conjunto de funções no organismo, como a replicação do ADN, a resposta a estímulos e o transporte de moléculas.

Note-se que podemos definir elementos químicos como sendo o conjunto de átomos com mesmo número atômico, ou seja, com a mesma quantidade de protões no núcleo.

Átomo é uma unidade básica de matéria que consiste num núcleo central de carga elétrica positiva envolto por uma nuvem de eletrões de carga negativa.

O núcleo atómico é composto por protões e neutrões. Os eletrões de um átomo estão ligados ao núcleo por força eletromagnética

Creio que é legítimo afirmar que a enorme complexidade que é a vida forma-se através da combinação de átomos.

Nós somos formados por átomos, que formam moléculas, que formam células, que formam tecidos, que formam ossos, que formam órgãos, etc.

Depois de se formar, a vida vai se mantendo através da reprodução assexuada (um dá origem a outro igual) e a diversidade apenas é conseguida através das mutações genéticas.

Dois mil e seiscentos milhões de anos depois (há 1.2 mil milhões de anos) passa a haver uma nova fonte de diversidade genética com o surgimento da reprodução sexuada.

A vida multicelular vai evoluindo e adaptando-se ao meio envolvente.

No caso de seres complexos, a reprodução sexuada só se dá quando é atingida a maturidade sexual, o que significa que tiveram de sobreviver (adaptando-se) até lá chegarem.

Por outro lado, em muitas espécies, permitiu a divisão de tarefas: por exemplo, enquanto um dos elementos do casal toma conta da cria, o outro procura alimento.

Da especialização surge mais uma fonte de variabilidade genética que será transmitida aos descendentes: “Herdei esta habilidade da minha mãe e aquela do meu pai”.

Mais ou menos novecentos mil anos depois (Qualquer coisa como trezentos mil anos antes de Cristo) surge o Homo Sapiens.



[1] Com base na experiência Henry Miller-Urey

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

 Democracia multipartidária.

A nossa democracia, ao contrário, por exemplo, da dos Estados Unidos da América, é constituída por vários partidos políticos (e não apena por dois).

Julgo que todos concordarão, que os eleitores votam em determinado partido porque se reveem no programa eleitoral, e nos ideais políticos desse partido.

Pelo menos é suposto ser assim, para uma significativa percentagem de cidadão votantes.

Nesse sentido, parece legitimo e até responsável, que os deputados eleitos, e os respetivos partidos políticos, respeitem o programa que os elegeu.

No meu entender, não faz nenhum sentido que os votos em determinado partido, sejam posteriormente entregues a outro partido, de mão beijada.

No entanto, alguns políticos parecem querer fazer-nos crer que deveria ser assim.

Se não nos deres o teu voto, ainda te vais arrepender, porque estás a contribuir para que seja outro partido, ainda mais afastado dos teus ideais, a assumir a governação do país.

Em teoria têm alguma razão. Mas é mais ou menos como se alguém lhe perguntasse se quer levar uma palmada ou prefere uma galheta. Podemos concordar que a palmada é melhor suportável, mas em todo o caso, temos sempre o direito de não querer, nem uma nem outra, e de lutar por isso.

Ao que nos contrapõem com, não temos o mundo que queremos, mas o mundo possível.

Mais uma vez é verdade!

Mas, deixar de acreditar é deixar de ter esperança num mundo em que acreditamos.

Ao longo da história, muitas pessoas ficaram pior do que estavam, porque lutaram por uma vida melhor.

O racismo e a diferença de género, não tinham tido os progressos que tiveram, se ninguém tivesse lutado por direitos diferentes.

Claro que os partidos podem, e em certas circunstâncias, devem negociar, mas como a própria palavra indica, isso implica um compromisso, que só pode ser alcançado com cedências de parte a parte.

Nenhum partido deve entregar os votos dos seus eleitores, apenas porque é um mal menor. Isso também podem os eleitores fazer, votando diretamente no partido maior.

Se queremos viver numa democracia evoluída e multipartidária, todos os partidos devem respeitar as escolhas dos eleitores. Caso contrário, será um sistema bipartidário em que governa um, ou governa outro.

É curioso, porque recentemente ouvi um ex-ministro do governo de Passos Coelho, Poiares Maduro, sugerir isso mesmo.

A solução era simples e engenhosa: O PS viabilizava um governo do PSD se este fosse o partido mais votado; e o PSD viabilizava um governo do PS, caso fosse o PS, o partido mais votado.

Apesar de não ser uma solução que me agradasse, não posso deixar de dizer que fiquei a pensar. Qual será a razão para ter tido tão pouca recetividade… Nem sequer foi discutida (pelo menos que saiba).

Deixo aqui quatro hipotéticas respostas (quem sabe outras possam surgir).

- Um dos partidos grandes (ou ambos) acredita que poderá chegar mais vezes ao poder como as coisas estão.

- Um dos partidos grandes (ou ambos) receia que dessa forma estivesse a contribuir para o crescimento do seu adversário.

- Retirando de cena vários atores (outros partidos), ficaria muito mais limitada a atribuição de responsabilidades, e, por conseguinte, a desresponsabilização pelos objetivos não alcançados.

- Seria inequivocamente uma jogada política que denotaria pouco espírito democrático. Quem sabe não pudesse levar os eleitores a penalizar os grandes partidos.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

 


2.          Tentativa e erro!

Julgo que posso afirmar que este é o único algoritmo que a natureza conhece. Utilizado “infilhões[1]” de vezes desde que a vida se formou e assim deverá continuar a acontecer.

O mundo está em constante alteração. Nada será eternamente como sempre foi. Nem o próprio universo é imutável (tanto quanto se sabe).

Obviamente, não podemos ignorar que a dimensão e frequência das alterações (também, mas não só) dependem da escala de espaço e tempo que estivermos a considerar.

Alterações estruturais no planeta Terra dão-se a um ritmo muito inferior às que ocorrem em uma noz (apenas para dar um exemplo extremo).

A evolução depende da adaptação a um meio envolvente em constante mudança (mesmo que os ritmos difiram).

Inicialmente, quando a vida começou no planeta Terra (há três mil e setecentos milhões de anos) a reprodução era assexuada (um ser dava origem a outro). O processo mais comum da reprodução assexuada consistia na divisão em dois.

Este tipo de reprodução relativamente simples, mais rápida e eficaz do que a reprodução sexuada (na qual dois dão origem a um) gera indivíduos idênticos àqueles que os originaram, não promovendo tanta variabilidade genética.

Imagine que uma população de organismos é atacada por um vírus. A probabilidade de ser extinta é tanto maior quanto menor for a variabilidade genética dessa mesma população.

No entanto, devido às mutações, a variabilidade genética sempre existiu, mesmo quando só havia este tipo de reprodução (assexuada).

A variação/mutação genética ocorre em todos os organismos vivos (incluindo vírus) e é a principal causa da diversidade biológica da espécie.

Ocorrendo uma mutação, caso haja adaptação ao meio, pode tornar-se a característica dominante.

Se a nova versão for mais vantajosa, substituirá gradualmente a anterior. Caso funcione melhor nalgumas circunstâncias, mas pior noutras, poderá ser encontrado um equilíbrio com a versão anterior, de tal modo que uma parte da população tenha a primeira e a restante, a segunda. Nesse caso, esse gene teria duas variantes diferentes, o que acontece com uma grande percentagem de genes.

O sucesso, reflete-se no número de descendentes que vão herdar essa nova característica. Torna-se predominante na medida do êxito da sua transmissibilidade através da reprodução.

Para se reconhecer uma mutação deve-se comparar a variação genética com um padrão considerado normal. O genoma referência (aquele que é considerado padrão) são as sequências mais comuns, observadas em determinada população.

Ao passarmos para a reprodução sexuada houve ganhos de eficiência por se aumentar as fontes de variabilidade genética (deixa de ser apenas a mutação)

Mesmo que a reprodução se repita, os descendentes serão sempre diferentes, porque a carga genética dos gâmetas (óvulo e espermatozoide) é sempre única.

A exceção ocorre com gémeos idênticos porque nesse caso os gâmetas são os mesmos (o mesmo espermatozoide e o mesmo óvulo originam mais do que um descendente).

Já as mutações genéticas ocorrem durante o processo de interpretação do código genético. Se houver uma falha na leitura que provoque uma alteração na sequência de bases na molécula de DNA constituinte do gene, isso pode levar à alteração de uma determinada característica do organismo vivo.

A partir desse momento, entra em jogo a seleção natural. Se estivermos perante uma bem-sucedida adaptação ao meio envolvente, caso haja reprodução, a alteração genética passa para a futura geração, e pode vir a tornar-se na característica predominante.

No Caso do vírus Covid-19 também já assistimos a várias mutações. As quatro variantes classificadas pela OMS como de preocupação - Alfa (Reino Unido), Beta (África do Sul), Gama (Brasil) e Delta (Índia) - estão presentes na União Europeia e todas apresentam transmissão comunitária. Entretanto surgiu a Ómicron, com muito mais mutações que as anteriores, e que já está a caminho de se tornar dominante em todo o mundo.

Chama-se a esse processo de experimentar se uma determinada mudança (mutação genética) vai ou não se adaptar ao meio ambiente envolvente, de tentativa e erro.

Tentativa porque não houve planeamento. Não foi “vamos experimentar fazer aqui uma alteração para ver o que isto vai dar”. Muito menos “vamos experimentar fazer aqui uma alteração para ver se dá o que estamos a pensar”.

Foi uma falha na interpretação do código genético que causou uma alteração que quando estiver no seu meio ambiente pode (ou não) adaptar-se. Se tiver sucesso (na adaptação) pode tornar-se (ou não) na característica dominante.

Erro porque na grande maioria das vezes tal não acontece (a mutação não vinga). São muito mais os casos em que não resulta do que os êxitos.

É sem dúvida impressionante pensar que a vida neste planeta começou há três mil e setecentos milhões de anos através da combinação de elementos químicos que em última análise tiveram origem (tal como tudo) há sensivelmente treze mil e oitocentos milhões de anos, com a explosão do Big Bang[2].

Cada átomo de oxigênio que inspiramos, assim como cada átomo de cálcio que está nos nossos ossos ou de ferro e de carbono na nossa musculatura, tiveram uma origem muito específica: os elementos químicos indispensáveis para manter a nossa estrutura física, estão intimamente ligados com a origem do universo (e principalmente com as estrelas).

O surgimento de elementos químicos envolveu processos de fusão e fissão nuclear. Ou seja, processos em que átomos podem ser fundidos (fusão) ou divididos (fissão). De um modo geral tais eventos são conhecidos como nucleossíntese.

O primeiro processo de nucleossíntese natural foi o Big Bang, com uma produção massiva de elementos (e seus isótopos) químicos que estão ali[3] no início da tabela periódica – hidrogênio e hélio.

Seguindo essa tabela periódica, os três elementos seguintes foram o lítio, berílio e boro em processos de fragmentação de elementos mais pesados pela ação de raios cósmicos.

Elementos a partir do carbono podem ser formados em processos que ocorrem em estrelas. Alguns elementos podem ser formados em estrelas não muito maiores do que o nosso Sol, enquanto outros elementos, com mais protões e neutrões, precisam de condições mais drásticas, encontradas em estrelas mais massivas.

Outro processo foi a explosão de Supernovas que possuem massas maiores do que dez vezes o nosso Sol, com a possibilidade de dar vazão a vários processos nucleares de alta energia.

O Sol já é uma estrela de terceira geração, e graças a isso a composição química do sistema solar é rica o suficiente para formar a vida como a conhecemos.

A vida formou-se (provavelmente) após muitas tentativas, e de certo modo consegue manter-se porque desenvolve a capacidade de ir registando todos os processos já alcançados para não ter que estar sempre a começar do zero.

Para se manter precisa de se reproduzir e para evoluir tem que se adaptar sempre que necessário.

Foi assim, com este único algoritmo e com muitos milhões de anos que chegámos até onde estamos.

No entanto, já podemos dizer que a nossa presença veio trazer instabilidade a todo este processo, independentemente de todas as tentativas e erros que nunca cessaram de acontecer com todos os seres vivos (inclui vírus).

A ação humana tem alterado drasticamente o funcionamento e os fluxos naturais do planeta ao promover intensas mudanças globais, de tal modo que diversos especialistas afirmam que entramos em um novo período geológico, o Antropoceno.

O ser humano já é capaz de desenvolver algoritmos muito mais complexos que a natureza, porque não se baseiam apenas numa tentativa ao acaso, procuram eliminar hipóteses ou até mesmo acertar numa solução. 

Claro que em termos de tempo, a natureza leva um avanço descomunal que se reflete no número de tentativas já realizadas (isto sem referir que a natureza está constantemente, em todo o lado, a tentar). Talvez o desenvolvimento do computador quântico nos ajude a encurtar um pouco essa desvantagem. Mas acima de tudo, a nossa vantagem poderá estar na capacidade de desenvolver algoritmos complexos que nos ajudem a encontrar respostas.



[1] Expressão para dizer que foram tantas as vezes que se perdeu a conta.

[2] http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142006000300022

[3] https://www.tabelaperiodica.org/como-surgiram-os-elementos-quimicos/


quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

 

1.           Vivemos para nos perpetuarmos!

Esta afirmação nem sempre é válida, ou dito de outra forma, não se aplica sempre, nem a todos.

Se a analisarmos de um ponto de vista individual, temos a perfeita noção que para muitas pessoas, o mais importante são as suas vontades pessoais. Pode ser a perseguição de objetivos para uma determinada carreira, ou simplesmente uma forma de estar na vida.

Em uma perspetiva de longo prazo e global, não enquanto individuo, mas antes enquanto população, a sobrevivência da espécie permite perpetuar a existência no tempo, geração após geração.

Se parássemos de nos reproduzir, em aproximadamente cem anos, a espécie humana estaria extinta.

De acordo com os conhecimentos atuais da comunidade científica, a primeiro proto célula formou-se há aproximadamente três mil e setecentos milhões[1] de anos atrás, tendo de seguida evoluído para uma bactéria (descendemos todos de uma bactéria).

A partir daí temos vindo a evoluir, a diversificar e a ganhar complexidade.

Existe vida na Terra há três mil e setecentos milhões de anos[2] porque a certa altura nunca mais se extinguiu. Julgo que podemos dizer que a reprodução tem mantido a “chama acesa”.   

A vida “deve ter lutado muito” para se manter!

Dificilmente se formou “há primeira tentativa”!

O que pretendo dizer é que este processo deve ter levado o seu tempo, exigindo muitas e muitas tentativas.

A ciência diz-nos que a terra se formou há quatro mil e quinhentos milhões de anos[3].

Até há primeira forma de vida, passaram-se oitocentos milhões de anos.

Imagino que tenha dado para testar tantas vezes quantas as necessárias.

A natureza não planeia, não programa nem segue uma receita.

Para compreender que através de elementos químicos (como por exemplo água[4], hidrogénio, amónia e metano[5]) sob determinadas condições, se formaram aminoácidos que estão na base das proteínas, ou de uma molécula de RNA[6] (capaz de armazenar informações à semelhança do DNA) é preciso imaginar que houve muitas tentativas até que o acaso (nas condições adequadas) produziu resultados (entenda-se vida).

Mas o processo teve de continuar. Foi preciso repetir-se ao mesmo tempo que ia ficando mais complexo.

Só assim, com milhões de tentativas e sucessivos pequenos progressos, num ambiente propício e com algum tempo (provavelmente milhões de anos) é possível imaginar que se formou a vida, e na continuação desse mesmo processo, evoluiu de forma a manter-se (duplicando-se).

A primeira forma de reprodução consistia na duplicação. Uma célula dava lugar a duas (ambas iguais).

Contudo, a combinação de compostos químicos presentes no ambiente terrestre (naquele tempo) que deram origem aos primeiros componentes (aminoácidos / RNA) que estiveram na base da formação da primeira célula, não é suficiente para explicar o início da vida.

A ciência ainda procura respostas, mas uma coisa parece certa: é necessário, alguma forma de metabolismo, para que um determinado organismo se mantenha vivo por algum tempo; e de reprodução, para que a espécie desse individuo se mantenha por tempo indeterminado.

Para aqueles que acreditam, que foi assim que a vida poderá ter começado no nosso planeta, este processo persiste há sensivelmente três mil e setecentos milhões de anos.

No fundo, há vida na Terra desde que a primeira célula se formou e se prolongou no tempo, precisamente devido à reprodução.

A vida está em constante atividade e mudança! Todo o tempo que já decorreu (o “tic tac” continua) permitiu-lhe chegar à biodiversidade que encontramos nos dias de hoje (podia ser muito maior, não fosse a atividade de uma das suas espécies, mas esse assunto fica para mais tarde).

Até aos dias de hoje, tem sido a reprodução a garantir a continuidade de vida na Terra.

Talvez um dia, a vida se possa prolongar (de forma considerável ou quem sabe, por tempo indeterminado) sem recurso à reprodução, mas ainda estamos a tentar entender porque é que há seres complexos que vivem muito mais do que outros[7].

Imagine que amanhã conseguimos finalmente saber como se formou a vida. De que forma isso nos poderá ajudar a compreender o processo de envelhecimento e da regeneração celular[8]?

Neste momento, não sabemos que consequências esse conhecimento poderá ter no tempo médio de vida dos humanos, mas certamente será significativo!

Arrisco-me a dizer que será proporcional ao nível de conhecimento que tivermos sobre os processos que estiveram na origem da vida e posteriormente na sua reprodução.

Também se fala na troca de órgãos. Ao substituirmos “as peças “avariadas, por outras novas, vamos prolongando “a vida da máquina”.

Outra possibilidade, talvez a mais promissora de todas, seria a mudança de corpo, mas mantendo a consciência. Imagine que seria possível passar todo o conteúdo do seu cérebro para um cérebro a estrear em um corpo novinho em folha, que seria uma clonagem do seu.

De x em x anos, mudávamos de corpo, tal como as cobras mudam de pele; mas aquilo que nós somos, a nossa personalidade, as nossas memórias, e a nossa forma de entender o mundo, manter-se-ia exatamente na mesma.

Uma vez que a consciência que temos do nosso corpo, influencia a nossa personalidade, a troca de corpo poderia ser feita regularmente, num constante intervalo de tempo. 

Imagine que conseguíamos retardar o processo de envelhecimento, de tal modo que conseguíamos atingir a idade de quarenta anos, com as mesmas capacidades que hoje temos com trinta anos de idade.

Assim, ao mudar de corpo de duas em duas décadas (aos quarenta voltávamos aos vinte), mantínhamos um aspeto físico relativamente constante, e sempre próximo do auge da força física.

Imagine o que seria viver “muitos anos”, sempre com um corpo jovem, forte e saudável, e ao mesmo tempo a acumular sabedoria.

Já imaginou o que seria se também acontecesse com tipos como estes três: Leonardo da Vinci, Isaac Newton ou Albert Einstein.

Como já deve ter percebido, acredito que ainda temos um caminho por percorrer, que infelizmente não lhe sei dizer de quanto anos será…

Apenas posso afirmar que nunca durante a nossa existência, evoluímos tão depressa. Ao ritmo que estamos a evoluir, torna-se difícil prever como estaremos dentro de cem anos.

Cem anos, comparados com o tempo que decorreu desde que há vida na terra, não é nada. Mesmo comparando, com o tempo que se estima de existência do Homo Sapiens (trezentos mil anos), cem anos passa num instante.

Se fizermos essa equivalência com os segundos de um dia (oitenta e seis mil e quatrocentos segundos está para trezentos mil anos, assim como cem anos equivale a menos de vinte e nove segundos (mil anos a menos de cinco minutos).

Obviamente, que não será um processo que se consiga alcançar de uma só vez. Gradualmente serão atingidas metas e feitos progressos.

O tempo joga a nosso favor, nomeadamente se não fizermos asneira (a seu tempo falaremos deste assunto).

Uma coisa parece-me certa, “em breve” poderemos atingir um tempo médio de vida que ainda custa a acreditar! Essa é a minha convicção!

Porque a sua continuidade, depende exclusivamente da reprodução, quero aproveitar para falar do vírus que está na origem da pandemia que nos tem estado a afetar, e que ainda está bem presente na altura em que escrevo estas palavras.

A comunidade científica divide-se quanto ao Covid-19 ser ou não um ser vivo porque não tem metabolismo. Ao que parece, também não é capaz de se reproduzir sozinho (são as nossas células que o reproduzem).

Imaginem o seguinte cenário: descobríamos uma forma simples e ao alcance de todos para nos testarmos, sendo que conseguíamos obter o resultado do teste num instante. Todas as pessoas no mundo aderem ao “programa e testam-se em menos de 24 horas.

Todos aqueles que tivessem tido resultado positivo, ou iam para o hospital (se tivessem sintomas fortes), ou voluntariamente colocavam-se em isolamento profilático.

Em pouco tempo, o vírus deixava de ter novos hospedeiros para contagiar.

Assim que o vírus tivesse sido eliminado, pelos anticorpos dos doentes, ou na pior das hipóteses, o paciente tivesse morrido e o levasse para debaixo de terra, o vírus tinha sido exterminado da face do planeta Terra.

Já não havia mais vírus Covid-19.

Nesta história inventada, o vírus é extinto porque eliminámos a possibilidade de continuar a “saltar” de hospedeiro em hospedeiro para se continuar a reproduzir.

Recuemos (apenas) vinte mil anos no tempo. Somos caçadores recolectores e vivemos em grupos de 30 ou 50 indivíduos.

Estamos muitas vezes todos juntos (sem máscara). Por isso, uma vez um infetado, rapidamente ficávamos todos infetados. Nessa altura só tínhamos duas hipóteses: ou morríamos ou sobrevivíamos. Em qualquer dos casos, em poucas semanas, o vírus tinha desparecido daquele grupo (ou com ele).

Situação totalmente diferente da que vivemos nos dias de hoje. Somos oito mil milhões e estamos em constante movimento. As pessoas interagem umas com as outras, independentemente dos grupos a que pertençam.

O que pretendo realçar é que em uma pessoa isolada a duração do vírus é limitada. Ou dura até que os anticorpos da pessoa infetada o eliminem, ou dura até que a pessoa morra.

O prolongamento do vírus no tempo depende de ir encontrando novos hospedeiros (novas pessoas para infetar) para que a reprodução continue.

Isoladamente, o vírus não tem como viver muito tempo. Mesmo que evoluísse para uma relação de simbiose com o hospedeiro e deixasse de ser alvo de ataques por parte dos anticorpos, sem metabolismo, o tempo médio de vida do vírus, continuaria a ser curto (quase um mês sob certas condições).

Na minha conceção, o vírus é uma forma (extremamente básica) de vida. Creio que os elementos químicos, as moléculas, e a matéria orgânica, não se reproduzem em cópias idênticas, e muito menos sofrem mutações.

Mas este vírus, esta “coisa” ínfima que não tem metabolismo nem capacidade própria de se reproduzir, pode tirar a vida a um ser bem mais complexo em termos de vida, com cerca de trinta biliões de células, metabolismo, capacidade de reprodução, cérebro, que já foi à Lua e que se prepara para passar férias em Marte (uma excentricidade desadequada aos tempos que vivemos).

Para a Vida, parece indiferente quem continua a manter a “chama acesa”. Se o vírus, ou se nós. “Ela” não se mete, “apenas quer” que a vida continue.

Mas ao contrário da ideia que posso estar a passar, não existe uma “entidade” que controla ou regula “a vida”. É cada “um” por si, a tentar manter-se vivo.

Por essa razão, seria bom que se pusesse algum dinheiro de parte, para investir na ciência, com o intuito de melhor nos prepararmos para “os ataques” desses seres invisíveis, sem cérebro, mas que podem ser potencialmente letais.

Não é minha intenção estar aqui a vaticinar o surgimento de outra pandemia, mas imaginem o que seria um vírus com a transmissibilidade do Covid-19 e a letalidade do Ébola.

Concluindo: a vida formou-se há três mil e setecentos mil milhões de anos. Ainda não se sabe exatamente como aconteceu, mas já se deram passos importantes nesse sentido.

Em laboratório, conseguiu-se formar aminoácidos a partir de elementos químicos. Essas moléculas centrais da vida são usadas para formar proteínas, que controlam a maioria dos processos bioquímicos nos nossos corpos, e que estão presentes nas células, a base de toda a vida.

Desde que se formou até ao presente, a vida tem-se mantido, que se saiba, apenas graças á reprodução. Não temos conhecimento que a vida se tenha continuado a formar, ou que ainda continue (como aconteceu no início, através de elementos químicos).

É convicção de grande parte da comunidade científica, que é apenas através da evolução das espécies, pela reprodução, que a vida se mantém desde há sensivelmente três mil e setecentos milhões de anos (3 700 000 000).

De alguma forma, as espécies estão dependentes umas das outras. Nenhuma sobreviveria sozinha.

Talvez no futuro, possamos manter a vida através da continuidade do individuo, nem que seja pela perpetuação da sua consciência; do seu conhecimento.

Atualmente (infelizmente), isso não passa de futurologia.

Não estando ainda provado como se formou a vida, apenas temos teorias (todas por comprovar). Optei por referir aquela que (a meu ver) faz mais sentido.

Sem dúvida que será extremamente interessante, descobrirmos exatamente como se formou a vida, e depois, como se deu a evolução para a reprodução.

Para tal é fundamental que continuemos a investir na ciência de investigação.



[1] Milhão X6; mil Milhões X9; Bilião X12.

[2] Obviamente, trata-se de um valor aproximado.

[3] Idem.

[4] A água é composta por dois elementos químicos: o hidrogénio e o oxigénio

[5] Elementos usados na experiência de Miller (link para artigo em baixo).

[6] http://www.bbc.com/earth/story/20161026-the-secret-of-how-life-on-earth-began ou https://www.bbc.com/portuguese/vert-earth-38205665

Um CHEGA de asneiras

 

Tenho assistido aos debates dos candidatos a primeiro-ministro deste país e surpreende-me a inaptidão de alguns líderes, no caso Ana Catarina Martins e Rui Rio para lidar com as frases feitas, clichés, que André Ventura utiliza para chegar às massas (bem básicas) que o apoiam.

Em boa verdade, Rui Rio esteve melhor que Ana Catarina Martins e gostei principalmente quando lhe respondeu à sua proposta demagógica de reduzir o número de deputados de 230 para 100 com um lacónico “olhe! Se já tivéssemos reduzido, o André Ventura não estava aqui hoje a debater comigo porque nunca tinha chegado ao parlamento”. As propostas do Chega soam bem ao espectador assíduo de telenovelas mas carecem de pensamento lógico e de um plano para concretização das mesmas.

Outras frases utilizadas por André Ventura são “há ciganos a beneficiar do RSI com mercedes à porta” e também “que os patrões querem contratar e não conseguem porque as pessoas têm o RSI” e como tal tem de se acabar com o RSI. Ai André! Sabes lá de onde veio o Mercedes! A inveja fica-te mal André!

Bom, primeiro convém esclarecer alguns valores do RSI, um adulto que viva sozinho poderá receber até 189,66€/mês o que é uma fartura se compararmos com os 650€ de ordenado mínimo. Se for um casal com ambos a viver do subsídio são 322,42€/mês, outra exorbitância se considerarmos que o mesmo casal, se ambos os membros ganhassem o ordenado mínimo, levaria para casa 1300€/mês (quase mais mil euros!). Se tiverem filhos pequenos recebem +94.83€/mês por cada filho. Mas um casal, em que ambos recebem o ordenado mínimo, se tiverem filhos, também recebem abono de família!

É esta a ordem de grandeza do perigosíssimo RSI! Esse bicho papão da força laboral. Alguém acredita que se alguém pudesse escolher viver com 650€/mês que ia escolher viver com 189.66€? Em princípio não. Só os malandros poderiam escolher esse caminho. Mas caro André, os malandros, com ou sem RSI não vão “dar o coiro” a trabalhar para os respeitáveis “empresários portugueses”. Lamento. Isto é tão básico como a lei da gravidade.

Mas, se os nossos “empresários” pagassem melhor e tivessem mais respeito pelos trabalhadores, talvez não tivessem tanta dificuldade. Mas a mentalidade dos nossos empresários é mesmo essa: ter pobreza para poder pagar meia dúzia de tostões em troca da vida das pessoas.

Parece André, que tenho uma novidade chocante para te dar (e não sou deputado nem nunca estive envolvido na política!) é que, espanta-te, o RSI não serviu para dar esmola aos pobres! O RSI surgiu para dar paz aos que trabalham, aos que querem ser alguém, aos que ambicionam. Porquê? Porque o RSI veio tirar esses malandros das ruas. Quantos assaltos os miúdos pobres realizavam por dia? Era comum os assaltos para roubar roupa de marca, assaltos a pequenos negócios, mercearias, carros. Quantas histórias não se ouviu de irmãos mais velhos a roubarem para comprar comida para os irmãos mais novos? Quantos pequenos negócios não sofriam com essa malandragem? O RSI veio comprar alguma paz social e dar oportunidades aos que querem ser alguém. Haverá abusos? Certamente que sim. Mas o prestigiado Ricardo Salgado também não abusou de nós?

 

Por último, andam sempre a queixar-se do abandono escolar e que Portugal continua na caudal da europa no que respeita ao ensino superior. Ok. Então e depois querem o quê? Que um miúdo com um canudo vá servir caracóis na tasca do Zé? Decidam-se!..