Democracia multipartidária.
A nossa democracia, ao contrário,
por exemplo, da dos Estados Unidos da América, é constituída por vários partidos
políticos (e não apena por dois).
Julgo que todos concordarão, que os
eleitores votam em determinado partido porque se reveem no programa eleitoral,
e nos ideais políticos desse partido.
Pelo menos é suposto ser assim, para
uma significativa percentagem de cidadão votantes.
Nesse sentido, parece legitimo e
até responsável, que os deputados eleitos, e os respetivos partidos políticos,
respeitem o programa que os elegeu.
No meu entender, não faz nenhum
sentido que os votos em determinado partido, sejam posteriormente entregues a
outro partido, de mão beijada.
No entanto, alguns políticos
parecem querer fazer-nos crer que deveria ser assim.
Se não nos deres o teu voto, ainda
te vais arrepender, porque estás a contribuir para que seja outro partido,
ainda mais afastado dos teus ideais, a assumir a governação do país.
Em teoria têm alguma razão. Mas é
mais ou menos como se alguém lhe perguntasse se quer levar uma palmada ou
prefere uma galheta. Podemos concordar que a palmada é melhor suportável, mas
em todo o caso, temos sempre o direito de não querer, nem uma nem outra, e de
lutar por isso.
Ao que nos contrapõem com, não
temos o mundo que queremos, mas o mundo possível.
Mais uma vez é verdade!
Mas, deixar de acreditar é deixar
de ter esperança num mundo em que acreditamos.
Ao longo da história, muitas
pessoas ficaram pior do que estavam, porque lutaram por uma vida melhor.
O racismo e a diferença de género,
não tinham tido os progressos que tiveram, se ninguém tivesse lutado por direitos
diferentes.
Claro que os partidos podem, e em
certas circunstâncias, devem negociar, mas como a própria palavra indica, isso
implica um compromisso, que só pode ser alcançado com cedências de parte a
parte.
Nenhum partido deve entregar os
votos dos seus eleitores, apenas porque é um mal menor. Isso também podem os eleitores
fazer, votando diretamente no partido maior.
Se queremos viver numa democracia
evoluída e multipartidária, todos os partidos devem respeitar as escolhas dos
eleitores. Caso contrário, será um sistema bipartidário em que governa um, ou
governa outro.
É curioso, porque recentemente
ouvi um ex-ministro do governo de Passos Coelho, Poiares Maduro, sugerir isso
mesmo.
A solução era simples e
engenhosa: O PS viabilizava um governo do PSD se este fosse o partido mais
votado; e o PSD viabilizava um governo do PS, caso fosse o PS, o partido mais
votado.
Apesar de não ser uma solução que
me agradasse, não posso deixar de dizer que fiquei a pensar. Qual será a razão para
ter tido tão pouca recetividade… Nem sequer foi discutida (pelo menos que
saiba).
Deixo aqui quatro hipotéticas
respostas (quem sabe outras possam surgir).
- Um dos partidos grandes (ou ambos)
acredita que poderá chegar mais vezes ao poder como as coisas estão.
- Um dos partidos grandes (ou ambos)
receia que dessa forma estivesse a contribuir para o crescimento do seu
adversário.
- Retirando de cena vários atores
(outros partidos), ficaria muito mais limitada a atribuição de
responsabilidades, e, por conseguinte, a desresponsabilização pelos objetivos
não alcançados.
- Seria inequivocamente uma
jogada política que denotaria pouco espírito democrático. Quem sabe não pudesse
levar os eleitores a penalizar os grandes partidos.
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