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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Fiscalidade... Verde????

Quando burlões vêm com discursos cheios de boas intenções, nós, devido a sua condição, desconfiamos sempre. A verdade é que mais uma vez disfarça-se um aumento de impostos sobre a égide ambiental.
Vão subir os impostos nos combustíveis e nos sacos de plástico. Relativamente aos combustíveis, Portugal já é dos países que mais carga fiscal pratica nos combustíveis, mas pelos vistos parece que não há limite. Se é fácil para o governo ir buscar dinheiro aos combustíveis, também é fácil para os transportadores aumentarem os preços e consequentemente os retalhistas. Já no que toca a pagar, vai custar aos consumidores. Ai se vai.
Quanto aos sacos de plástico, relembro que não existem em Portugal sacos de papel. Mais, é muito giro ver nos filmes americanos os actores chegarem a casa com sacos de papel, mas já alguém reparou nos sacos do lixo? Também são de papel? Não! É vê-los a ir aos caixotes metálicos colocar sacos pretos de lixo. Qual reciclagem qual carapuça! Quem quiser que a faça! Aqui está o cerne da questão. Querem que eu separe 5 tipos de lixo em casa a saber: orgânico, lixo comum, papel, cartão e vidro. E sacos para isto tudo?? Uma vez que vou frequentemente a supermercados onde os sacos são pagos a 3 cêntimos, já me ocorreu comprar um rolo de sacos de lixo. Qual não foi o meu espanto quando verifiquei que o preço unitário é de 8 cêntimos! Ou seja mais caro do que comprar os sacos de plástico das compras! Será que os do lixo também vão encarecer 8 cêntimos? Onde é que vamos colocar o nosso lixo??

Ou seja, tudo isto é uma hipocrisia porque “fiscalidades verdes”, ou melhor, fiscalidade educativa, faz sentido praticar quando se quer mudar hábitos da população, só que isso pressupõe a existência de alternativas! Quais são as alternativas aos combustíveis? Tirando os grandes centros urbanos, em que ainda assim os transportes são muito deficitários, no restante território os transportes públicos estão longe de se configurar como alternativa ao veículo próprio. E os sacos do lixo? Como é? É pagar! E não estrebucha!!

terça-feira, 4 de novembro de 2014

O logro do OE2015

Nas últimas semanas foi apresentado formalmente o orçamento de estado para 2015, já com poucas surpresas uma vez que os serventes do governo da comunicação social já se tinham encarregado uns dias antes de preparar o terreno para as patranhas dos mestres.
Não gosto de floreados, não gosto que me tentem enganar. Mais uma vez é isso que sinto das medidas apresentadas pelo governo. Querem apresentar medidas boas para os resultados eleitorais mas, como não há margem, decidiram fazer uma propaganda para as boas medidas (ainda assim muito reduzidas), menosprezando as más medidas.
A redução do IRS para as famílias numerosas é pura e simplesmente ridícula. 1% de mil euros dá 10 euros. Sabem quanto custa um pacote de 60 fraldas dodot em promoção? 10 euros. Por mês são necessários 2 a 3 pacotes. Já não falo da alimentação, do pediatra, das vacinas fora do plano nacional de saúde, da roupa, cremes e utensílios. Isto é tão ridículo que mais valia que estivessem calados. A hipocrisia é ainda maior, quando as mesmas pessoas que ganham 1000 euros/mês, e como tal já são consideradas ricas, porquanto não têm, isenção de IMI ou acesso a tarifas sociais etc., vão ser as mesmas que vão ver aumentar o mesmo IMI, 5 cêntimos nos combustíveis e mais 8 cêntimos por cada saco.

Eu moro em Lisboa, a 25 km do meu posto de trabalho e tenho um carro cujo consumo por km é dos mais baixos, 5,5L/100 km. Gasto em média 80 litros/mês o que dará +4 euros por mês. Se a isto passar a somar a compra de sacos - sim porque vamos ter de os comprar, onde é que querem que coloque o lixo? – mais o aumento do IMI, aposto que para o ano as famílias numerosas vão ter menos dinheiro em casa, mesmo com a “abébia assombrosa” no seu IRS… Tenham vergonha!

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Alexandre Soares dos Santos, acordou!??

Sempre ouvi dizer que burro velho não aprende línguas, mas Soares do Santos está quase lá!! É verdade que o homem está "quase reformado", mas mais vale tarde que nunca!

Referiu ao expresso que está farto do investimento "chinês" que não considera investimento, considera comprar barato.
Já me cansei de escrever aqui no blog, que o investimento que Portugal necessita não é do tipo vender uma empresa e alguém comprar. O investimento necessário é aquele em que se convence os grandes investidores a trazerem para Portugal algo que ainda não exista cá. Isso sim é investimento. Isso sim gera empregos. Isso sim aumenta o PIB.

Vender a EDP, REN, Fidelidade, quanto muito ainda vai desequilibrar as coisas. O PIB vai cair devido à saída de dividendos e de investimento e como o privado quer as empresas eficientes, vai espremer funcionários despedindo alguns... É só pensar um pouco.

http://expresso.sapo.pt/soares-dos-santos-detesto-investimentos-chineses=f894657



sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Assim não tem piada; Assim, não vamos lá; por mim, assim não brinco!

Sobre o caso Tecnoforma faltou algo por dizer. Não sei se o senhor primeiro-ministro cometeu, ou não, alguma ilegalidade, mas após ter lido o texto publicado pelo JOÃO MIGUEL TAVARES, (ver post em baixo) e relembrado aqueles tempos dos cursos de formação profissional, financiados pelos fundos europeus, só posso pensar que este, a que o senhor primeiro-ministro parece ter estado ligado, foi mais um daqueles que não serviu para ajudar a desenvolver o país e aumentar a sua capacidade produtiva, mas antes para o benefício de uns quantos. Como? Não sei, mas como dizia o outro, é só fazer as contas. Para além da enorme falcatrua que envolveu a crise financeira de 2008, com todos aqueles produtos tóxicos de que todos já ouvimos falar, fonte na qual muitos dos nossos queridos bancos foram beber (até férias ofereciam em troca de créditos), como a pesado custo temos continuamente vindo a sentir na carteira, da brutal inflação que se deu neste pequeno e mal preparado país com a entrada no Euro, o terceiro grande responsável pela crise que estamos e vamos continuar a atravessar foram os enormes fundos que entraram no país provenientes da UE que em grande parte foram aplicados para benefício de uns quantos, mas pouco ou mal aproveitados para desenvolver ao máximo o país e desse modo, não só aproveitar os fundos mas também os baixos juros. O país desistiu dos fatores produtivos e apostou no endividamento e nas engenharias financeiras, tão bem ilustrado no caso Estamo (ver post, “Jogar golfe é um direito humano. Nas Amoreiras”). A ganância e o egoísmo de uns levou a que o país se endividasse ao ponto de não ter dinheiro para pagar os salários e quem nos emprestava dinheiro disse basta, agora se querem, pagam, e claro, como todos sabemos, pagam principalmente os que não são “chicos-espertos”. Como é que isto não havia de acabar mal? E ainda vão uns tipos para a TV dizer que os portugueses viviam acima das suas possibilidades. Haja descaramento.
 


quinta-feira, 9 de outubro de 2014

“O Estado social somos todos nós”, diz Lobo Antunes


Tal como na medicina, é indispensável fazer o “diagnóstico das causas da crise” para acabar com ela e para prevenir reincidências, afirma o neurocirurgião, acrescentando que a crise económica “ameaça esfarrapar o Estado social”.

Era uma “reflexão despretensiosa” aquela que o neurocirurgião João Lobo Antunes se propunha fazer sobre o que o preocupa como cidadão no actual estado das coisas do Estado social. Tendo em conta a sua área de eleição, o também Conselheiro de Estado não se coibiu de mencionar uma ou outra ligação que podem ser encontradas entre a medicina e a política. Fez uma resenha sobre a história da teoria do Estado social para acabar por concluir que, hoje, “o Estado social somos nós”.
“O modelo social europeu é em si mesmo um programa político, representa uma conquista social sem preço e a sua destruição seria uma catástrofe”, afirmou Lobo Antunes na conferência Afirmar o Futuro, que esta terça-feira terminou na Fundação Calouste Gulbenkian. A ideia inicial das funções do Estado começaram a ganhar forma na Europa central no século XIX com as políticas de Bismark sobre pensões de reforma, por acidente ou doença. E materializaram-se no início do século XX com intervenções em serviços sociais como a educação, saúde, transportes, habitação, cultura, apoios sociais. Mas foi preciso esperar pelo pós-segunda guerra para que o crescimento do Estado social ficasse intimamente ligado ao boom económico, recordou Lobo Antunes, ainda que o modelo social tenha “assumido na Europa roupagens muitos variadas”.
Em Portugal as coisas demoraram mais, mas o neurocirurgião considera que “indiscutível que o Serviço Nacional de Saúde foi uma das mais felizes germinações da revolução de Abril e aquela que mais se entranhou na alma dos cidadãos como um direito inalienável”.
No final da década de 80, com o fim do muro de Berlim, começou a “questionar-se a viabilidade do modelo social vigente” e essas dúvidas adensaram-se nos últimos anos com a crise financeira. O que faz perigar as muitas formas de segurança que esse Estado social imprimia à vida dos cidadãos. Agora, politicamente, nem a direita nem a esquerda sabem lidar com o que resta desse Estado social.
“A crise económica ameaça esfarrapar o Estado social”, avisa o médico. Tal como na medicina, é indispensável fazer o “diagnóstico das causas da crise” para acabar com ela e para prevenir reincidências. Lobo Antunes considera que a saúde é uma área onde não pode haver cedências nas responsabilidades do Estado porque tem “efeito multiplicador na economia” – faz aumentar a produtividade, o capital humano e por cada ano ganho na esperança de vida a economia cresce 4%, enumera.
“O debate sobre sustentabilidade do Estado social, e particularmente da saúde, é habitualmente dominado por duas dimensões: a sustentabilidade financeira e a sustentabilidade política, tendo esta última condição da primeira e sendo ambas condições necessárias mas não suficientes”, apontou Lobo Antunes. Por isso, “o paradigma da saúde pode ajudar a recentrar a questão das prestações do Estado social” e isso é especialmente importante numa altura como a actual. “As políticas de saúde em tempo de crise implicam fazer o que é necessário”, mas fazê-lo de forma prudente, racional, informada. O que nem sempre é fácil porque, admite, “a crise tem também como consequência o turvar da tomada emocional das decisões”,
“Para a saúde ser sustentável precisamos de uma população saudável e também responsável pela sua própria saúde e de práticas de saúde bem integradas com outras políticas educativas, sociais e económicas. Ou seja, precisamos de saúde em todas as políticas.”
Até porque, continuou, o Estado social adaptado é “indispensável para servir o interesse público na educação, na justiça, na saúde, na segurança social, em todas as áreas de intervenção do Estado junto dos cidadãos. Só assim podemos ter uma democracia saudável e competitiva.” E perante este quadro global, João Lobo Antunes rematou: “O Estado social, no fundo, somos nós.”


Jogar golfe é um direito humano. Nas Amoreiras



Anos a fio ministros e autarcas andaram a esconder dívidas em centenas de entidades cujas contas não entravam nas do défice público. Já o sabíamos. Não sabíamos é que isso até incluía clubes de golfe.

Não há nada como fazer contas de somar. Ou, para ser mais exacto, juntar tudo e somar tudo, sem deixar nada de fora, sem truques, sem lixo escondido por baixo dos tapetes nem contas omitidas.

Sabíamos há muito que, anos a fio, os governos e os autarcas se tinham especializado em disfarçar as contas públicas: tudo o que pudessem tirar do perímetro da consolidação orçamental não contava para o défice e para a dívida, escapava ao cutelo de Bruxelas e iludia a crendice dos eleitores. Sabíamos também que um dia íamos ter de alterar critérios e tirar esses esqueletos dos armários. Nesse dia as contas públicas ficariam ainda mais feias. Foi isso que aconteceu agora. O que descobrimos é pior do que aquilo que imaginávamos.

Ver os défices do passado darem saltos de canguru era certo e sabido que ia acontecer. Mesmo assim não se imaginava que em 2010, o último ano do consulado Sócrates, o défice tivesse chegado aos 11,2%. Não há memória de tal desequilíbrio nas contas do Estado e só se estranha que ainda haja quem se orgulhe desse feito.

Mas a maior das surpresas não foi ver alguns destes saltos – foi ver o tipo de entidades que, a partir de agora, são consideradas “Entidades do Setor Institucional das Administrações Públicas”, isto é, as suas contas vão directamente ao nosso bolso, o de contribuintes, sem subterfúgios ou disfarces. A lista de todas essas entidades enche 94 páginas de um documento ontem disponibilizado pelo Instituto Nacional de Estatísticas, com 40 a 50 entidades por página. Está lá tudo, desde a Assembleia da República do Clube de Golfe das Amoreiras. Sim, aquele clube de golfe onde nunca se chegou a dar uma tacada. Sim, um clube que não está sozinho, pois tem a companhia do “Porto Santo Golf Resort”. E de muitas outras coisas bizarras, como marinas, aquários ou termas, teatros e fundações, para além, claro, de estádios do Mundial. A quantidade de coisas que o Estado acha que lhe compete fazer, e para fazer, ter, é infindável.

Depois da surpresa, a leitura atenta da lista permite-nos perceber o que entrou para ela este ano – 268 entidades – e o que fez saltar os números dos défices passados. Mais: permite perceber melhor porque é que em Portugal só muda o que permite que tudo fique na mesma.

Entre as entidades que entraram para o perímetro da consolidação orçamental as que pesam mais são a CP, com as suas dívidas gigantescas, a maior parte dos grandes hospitais, incluindo todos os IPO, e empresas públicas como a Parpública ou a Estamo. A forma como o Estado geria a relação com essas entidades simboliza bem o modo como sucessivos governos trataram de disfarçar o défice real das contas públicas. É certo que, no fim do dia, paga sempre o mesmo mexilhão, mas essas entidades, ao conseguirem endividar-se fora do perímetro das contas públicas, ajudavam a criar a ilusão de que as contas do Estado estavam controladas quando, afinal, estavam era maquilhadas.

Veja-se o caso da Estamo. Essa empresa comprava ao Estado edifícios ocupados por serviços públicos. Quando o fazia, a “venda” funcionava como receita e abatia às contas do défice, apesar de só se ter trocado o dinheiro de bolso. Para realizar essas compras, a Estamo ia ao mercado bancário endividar-se, mas isso não era problema porque a sua dívida não contava para a dívida pública. Depois, para fingir que era uma empresa a sério, passava a cobrar renda aos serviços públicos que, mesmo tendo vendido os imóveis em que estavam instalados, por lá continuavam. Essas rendas passavam a ser um custo que, esse sim, pesaria no défice dos anos seguintes.

Como foram quase três centenas as entidades que agora, por imposição das novas regras europeias, tiveram de ser integradas no perímetro das administrações públicas, basta-nos multiplicar por 300 esquemas deste género, mesmo que em dimensão menor, para termos uma ideia de como se alimentou, da administração central à administração local, uma fatal ilusão sobre a saúde das contas do Estado.

Estes mecanismos não permitiam poupar dinheiro ou dívida, quanto muito atiravam para o futuro contas que deviam ser pagas hoje. Nenhum contribuinte se escaparia a pagar a factura quando ela aparecesse. O que estes mecanismos permitiam era gastar mais fingindo que se estava a gastar menos. Com eles era possível – como agora se vê com mais clareza ao conhecermos o valor das contas corrigidas dos défices de 2010 a 2013 – iludir as regras impostas pela moeda única. Com elas, no fundo, era possível manter o Estado a viver acima das suas possibilidades, uma expressão que irrita muita gente mas que este exemplo ilustra de forma especialmente eloquente.

Tão impressionante como passar os olhos pela infindável lista de entidades, é interiorizar que tudo aquilo que ali está tem responsáveis, tem administradores, tem secretariados, tem viaturas e quase sempre tem motoristas. Olha-se para ali e percebe-se a dimensão do país dos boys: até uma gráfica a CP tinha, e até essa gráfica tinha gestores de nomeação política.

É por isso que digo que Portugal não muda. E que ninguém reforma o Estado a sério e a doer. Ou que então só o “reformam” quando do exercício resulta um número não muito diferente de entidades com lugares para preencher.


As regras da União Europeia impuseram-nos esta transparência e agora o INE vai poder olhar para as contas de todas estas entidades e fazer, no fim, as contas de somar que há muito deviam ser feitas. E o que é triste é que se hoje nos assustamos com a nova dimensão dos velhos défices, amanhã lá estaremos a ver se, no Clube de Golfe das Amoreiras, o tal onde nunca se deu uma tacada mas que certamente cumpre uma qualquer nobre função pública, quiçá social, porventura tão essencial como qualquer outro direito humano, não haverá ainda alguma mordomia disponível. Quem sabe…

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A sonsice de Pedro Passos Coelho

O chuto para a Procuradoria é apenas um expediente espertalhão com o objectivo de adiar a admissão do óbvio: o primeiro-ministro fez asneira. E da grossa.

Não há qualquer vontade de apurar “a verdade” ou desejo de esclarecer a pátria no pedido do primeiro-ministro para a Procuradoria-Geral da República investigar o caso Tecnoforma. O Ministério Público tem mais que fazer e Passos Coelho sabe muito bem o que fez. Pode ter sido há 15, 20 ou 30 anos: ninguém se esquece de um ordenado que duplica o rendimento mensal. Simplesmente, Passos não quer, nem pode, admiti-lo – para ser coerente com o moralismo que apregoa, teria de se demitir no minuto seguinte. Donde, o chuto para a Procuradoria é apenas um expediente espertalhão com o objectivo de adiar a admissão do óbvio: o primeiro-ministro fez asneira. E da grossa.

Isto é simultaneamente ridículo e sintomático. Ridículo, porque os valores que estão em causa não justificariam a queda de um primeiro-ministro. Sintomático, porque o problema da Tecnoforma está longe de ser o dinheiro que pagava a Passos Coelho – a empresa é um retrato perfeito de como se desviam fundos europeus para actividades que podem até nem ser ilegais, mas que são inconcebíveis e imorais. Convém recordar aos mais esquecidos que a Tecnoforma era essa extraordinária empresa, impulsionada pelo romântico par Passos-Miguel Relvas, que se propunha, em troca de 1,2 milhões de euros, dar formação a 1063 pobres almas com um objectivo que parece saído do argumento de uma série cómica britânica: ensinar os mais de mil formandos a operar em nove aeródromos da Região Centro, dos quais só três estavam activos e empregavam, no total, cerca de 10 trabalhadores.

Foi assim que, durante anos e anos, foram estoiradas dezenas de milhões de euros de fundos comunitários que deveriam contribuir para o desenvolvimento do país. E claro: quem frequentava os corredores da Assembleia da República era um veículo privilegiado para canalizar os fundos para terrenos favoráveis. O Manuel sabia de um concurso para a formação de medidores de perímetros de beringelas e dizia ao Joaquim; o Joaquim sabia de um concurso para a formação de analistas em brilho de superfícies inox em restaurantes e dizia ao Asdrúbal; o Asdrúbal sabia de um concurso para formar os formadores disto tudo e dizia ao Manuel. A única variável neste processo era mesmo a dimensão da lata e a vocação dos senhores deputados e secretários de Estado para gerir negócios. Havia alguns, como Miguel Relvas, que tinham muita lata e muita vocação. Havia outros, como Passos Coelho, que provavelmente seriam um pouco mais modestos – mas que, ainda assim, aproveitavam uma migalha aqui e outra acolá, porque a vida é longa e o ordenado de deputado curto.

Só que, ao contrário de Relvas, que tem um sorriso do tamanho da sua lista telefónica e se assume como “facilitador de negócios”, Pedro Passos Coelho sempre se apoiou numa imagem de extrema modéstia e parcimónia. Ele é o homem de Massamá. Ele é o homem que passa férias em Manta Rota. Ele é o homem que pôs os ministros a viajar em turística. E esse homem, claro está, não pode conviver com uma acusação de cinco mil euros a caírem-lhe no bolso todos os meses sem que ele se recorde disso, ao mesmo tempo que invoca o estatuto de deputado em exclusividade para sacar 60 mil euros de subsídio de reintegração. É possível que Passos Coelho apenas tenha feito aquilo que todos fizeram durante os festivos anos 90. Só que aquilo que ele fez em 1999 não é aceitável em 2014. E ainda bem. A sonsice vai aguentá-lo – mas a sua reputação de governante impoluto morreu.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014


“O salário dos deputados portugueses deve ser objeto de uma discussão. Mas devem ganhar o suficiente. Em Portugal ganham pouco [3.515 euros brutos]”, referiu Marinho e Pinto, eurodeputado que abdicou do cargo e que planeia concorrer, com um partido próprio,  ao Parlamento Português.
Quanto ao montante que auferia enquanto bastonário, Marinho e Pinto considerou que “para quem vivia em Lisboa, sim [é um salário digno]. Acho que não permite grandes coisas. Não permite ter padrões de vida muito elevados em Lisboa, fora de casa, quando se deixa de exercer a profissão”, referiu o eurodeputado.Sobre este tema considerou o antigo bastonário da Ordem dos Advogados que a remuneração paga aos políticos não é “digna”, considerando ainda que “os órgãos de soberania em Portugal são mal remunerados, a começar no Presidente da República e a acabar nos juízes”, razão pela qual considera que “muitos políticos encontram formas, por vezes ilícitas, de suprirem essa deficiência”.
Ainda sobre o “divórcio” com o Movimento Partido da Terra, Marinho e Pinto disse não querer “revelar publicamente as causas de uma separação”, porém referiu que as divergências que levaram a este afastamento não foram ideológicas, “foram metodológicas. Um partido deve estar ao serviço do povo e do interesse nacional e não dos seus dirigentes”, atirou. 
Sobre a orientação política do partido que planeia fundar, Marinho e Pinto diz não estar preocupado com “a geometria política tradicional”, até porque esta “está, completamente, subvertida” e acrescenta: “O que é de esquerda ou de direita não faz qualquer sentido em Portugal. Vemos na esquerda atitudes que são de direita e observamos na direita posições que são mais próximas até da esquerda”. 

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"Não permite grandes coisas" é no mínimo relativo. 4800€ líquidos é um salário muito acima da média em Portugal (5 vezes acima da média). Considero acima de tudo que devia haver mais (e séria) discussão pública em Portugal sobre as diferenças salariais e as suas justificações.  
Talvez o assunto deixasse de ser tão incómodo se melhor compreendidas as diferenças, mas para isso era preciso honestidade e coragem para assumir consequências. 
Será que Marinho e Pinto está disposto a dar um primeiro passo?


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Até quando Paulo Bento?


 

Paulo Bento continua a fazer história ao conseguir pela primeira vez que a Selecção Nacional perdesse com a superpotência futebolística Albânia. Brilhante os meus parabéns!

Noutros tempos qualquer estádio estaria cheio. Agora, escolhem-se estádios modestos e mesmo assim não enchem! Para quê? Para ver a trupe do Bento a passear num relvado? O jogo foi muito mau. Falta classe em alguns jogadores e atitude noutros, é verdade, mas falta sobretudo liderança. Um líder que nunca o soube ser e que se encontra fragilizado pela decadência gradual da equipa, não consegue motivar ninguém ou impor-se. Por isso vamos ver até quando isto tudo se vai arrastar.

Não me digam que uma equipa com os jogadores como os de Portugal não tem obrigação de pelo menos fazer mais do que três remates com perigo à baliza! Tinham obrigação de pelo menos saber trocar a bola e chutar à baliza e nem isso fazem! Vejam o caso do Ricardo Horta, ex-Setúbal, agora no Málaga, não é estrela, nunca foi considerado como tal e no entanto teve nos pés a melhor chance de golo.

Outros que foram considerados estrelas sem nada o justificarem são lançados para jogo como por exemplo o André Gomes cuja opção justificar-se-ia por ter mais técnica que um Raúl Meireles ou Adrien, mas que fugiu do jogo, raramente teve a bola nos pés e só se viu um remate no final. Ivan Cavaleiro que prometia muito no Benfica mas que nunca teve oportunidades chega à selecção com rótulo de “A” e que nem uma bola soube dominar. O Éder é tau mau, mas tão mau que quase ponho as minhas mãos no fogo que até no Campeonato Nacional de Seniores (3ª divisão) deve haver melhor. Mas como é do Braga e todos sabemos das boas relações de António Salvador com o empresário Fernando Mendes, temos que levar com isto!.. São jogadores do Braga e do Valência. Qualquer perna de pau que consiga ingressar num destes dois clubes por intermédio de Fernando Mendes corre o sério risco de acidentalmente ver o seu nome incluído numa convocatória da equipa das quinas.

Prometia-se uma renovação, afinal do 11 inicial, só um mudou… e porque os principais estão lesionados. Quando o Hélder Postiga jogar mais de 5min no Deportivo da Corunha, vai ter a sua vaga neste equipa de coxos.

Há quem diga que são os amigos de Ronaldo, não sei se são ou não. Se sim, então não se convoque nem Ronaldo nem os amigos, que lobbys já há muitos em Portugal. Se não, hajam tomates para impor rigor e liderança ao seleccionador.

Quem é que se lembra de renovar com um treinador antes mesmo de se poder apurar o  cumprimento com os objectivos?.. Que incompetência.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

ANA: a eficácia dos privados


Como sempre os privados funcionam muito bem, a gestão pública é um desastre. A ANA antes de ser privatizada apresentou resultados líquidos de 70milhões (incluindo 100milhões de gastos em obras no terminal 1, de um investimento total de 400milhões).

Não obstante dos resultados líquidos, em ano e meio a nova administração privada resolveu aumentar em 33% as taxas aeroportuárias em Lisboa, com mais o aumento recente de 7%. Assim é fácil o privado ser melhor, não tem concorrência e pode aumentar a seu bel-prazer as taxas a cobrar… (Ah que incompetência na gestão pública! Subam já as taxas de saneamento e águas que se resolve o problema da Águas de Portugal, subam 33% todas as portagens que se resolve o problema da Estradas de Portugal, subam 33% as taxas dos portos que já não há estaleiro ou porto que não nade em dinheiro! Subam tudo! Subam os impostos em 33% que deixa de haver défice!! Afinal é fácil de resolver os problemas: é a regra dos 33%!)

Contudo há uma justificação! (Ah bom!) Segundo os doutos na matéria as taxas no aeroporto de Lisboa ainda ficam abaixo dos valores cobrados nos aeroportos de referência pela europa fora.

Uhm… Mas serão também os custos semelhantes? Num país cujo ordenado mínimo não chega aos 500euros e os salários médios são 2 a 3 vezes inferiores aos salários pagos nos tais países de referência, não serão os custos com pessoal 2 a 3 vezes menores? Então e essa diferença se não vai para a taxa, vai para onde?????
Não será essa uma das vantagens competitivas do nosso país? Ser um país "low-cost" de qualidade para Alemães, Britânicos, Holandeses, Franceses, Italianos e Espanhóis? Se vamos aumentar as taxas para valores semelhantes, só nos resta a qualidade. Será esta assim tão superior? Não me parece...

terça-feira, 26 de agosto de 2014

O BES travestiu-se!


O BES o tal banco recomendado por todo e qualquer guru financeiro, que até há pouco tempo foi alvo de uma reportagem, creio que do financial times, onde recomendava o banco “familiar” com mais de 150 anos, referindo até que era possível a existência de bancos de média dimensão privados livres de grandes grupos económicos, travestiu-se. Fez como que uma cirurgia em que livrou-se do que não queria (o que dava prejuízo) e ficou com os depósitos. Uma operação cirúrgica nunca vista e que cheira-me que vai gangrenar em "montes" de processos!

Apesar do discurso que o governo quis fazer passar de que era uma questão privada e que o estado não se intrometeria, deixando as responsabilidades para os accionistas, a verdade é que no final de contas uma vez mais foi o estado o salvador de devaneios, de gulas desmedidas dos privados. No final paga sempre o mesmo.

Afinal, o estado antes mesmo de anunciar que ia injectar até 4,5mil milhões no BES, já o tinha feito e não tinha dito nada a ninguém.

Afinal permitiu-se em abril de 2014 um aumento de capital, quando em setembro de 2013 (segundo as palavras do próprio governador do BdP) já havia indícios de práticas pouco recomendáveis, ou mesmo crime financeiro (como é possível?).

Afinal permite-se que um banco roube alguns clientes e accionistas convertendo poupanças em acções do próprio banco, desde que o prepósito do mesmo seja permitir que os grandes investidores salvem primeiro os seus investimentos (tal como aconteceu com a PT).

Afinal, antes de anunciar a intervenção e congelar as transacções de acções em bolsa, já os grandes investidores, um mês antes tinham sido avisados para retirar o dinheiro e aplicações enquanto podiam. Assim se justifica o crescimento do buraco de 1,2mil milhões em junho, para 3,7mil milhões em julho.

Afinal é fácil ser-se banqueiro, quando se geram lucros ficam para eles, quando se tem prejuízo atiram-se os mesmos para os pequenos investidores ou então para o estado.

 

Não tenho palavras para tudo o que se passou nestes últimos 3 meses no que diz respeito ao BES (a começar pelo Banco de Portugal, na minha opinião, uma vez mais comido). Até porque tive conhecimento, através de um boy, que a situação do BES estava camuflada. Antes da intervenção tive conhecimento de grandes clientes que foram avisados para colocarem as suas fortunas fora do banco. Pior do que isso é saber que esses mesmos clientes abastados beneficiaram de taxas de 11 a 15%, algo completamente impossível e que talvez por isso tenha resultado na cirurgia que lhe permitiu a metamorfose.

Em 3 anos tivemos: BPN, BPP, BANIF e BES – 6,5 mil milhões, 350milhões, 1,3mil milhões e agora 4,5mil milhões. Coisa pouca. Qualquer coisa como 12,65mil milhões que o estado teve de bancar.

Como é que podemos ficar indiferentes quando o governo anuncia mais cortes nos salários e pensões para ir buscar 350milhões anuais? Porque raio temos nós de pagar isto? Porque nos calha sempre a nós contribuintes, pagar as metamorfoses dos bancos?

Está mais que visto que o regulador (BdP) não consegue actuar. Está mais que visto que mais vale não existir bancos privados. É verdade que ficamos todos condenados à pouca flexibilidade da Caixa Geral para dar crédito ou pagar juros, mas ao menos, enquanto contribuinte, não me aparece uma conta de 12,6mil milhões para pagar!..

quarta-feira, 16 de julho de 2014

"BES pode ser o maior escândalo financeiro da história de Portugal"


O BES está na ordem do dia. Muito se opina, comenta e analisa. Mas, como quase sempre, muito poucos, ou mesmo nenhum, dos nossos comentadores/analistas, têm o conhecimento ou a coragem para ir ao fundo da questão. Afinal, o que é que aconteceu, perguntam-se por estes dias milhares de portugueses. Como e onde é que o BES perdeu tanto dinheiro? Como é que uma empresa do grupo deve quase 900 milhões à PT e não tem dinheiro para pagar? A mim, continua a parecer-me que a frase: "vivemos num país pequeno, é preferível que certas coisas não se saibam" continua a determinar o respeito que os portugueses têm pelo povo (entenda-se, o respeito que a nossa elite tem pelos restantes portugueses).

terça-feira, 17 de junho de 2014

Selecção Nacional?


Quando falamos de nacional, falamos de quê? Creio que será consensual quando digo que, se cada um pudesse fazer uma convocatória, pelo menos 5 jogadores dos 23 não seriam os que Paulo Bento escolheu.
Ou muito me equivocarei ou a selecção portuguesa não passará a fase de grupos. Isto porque os EUA ganharam ontem ao Gana e têm o último jogo com uma Alemanha que até lá, já deve estar qualificada. Ou seja, será expectável que os EUA terminem a fase de grupos com pelo menos 4 pontos, ou então 6. Portugal fará no máximo 6 pontos mas com uma diferença de golos altamente negativa fruto dos quatro secos que comemos. A avaliar pela disponibilidade física e psicológica dos nossos jogadores, o mundial acabou.
Os jogadores são fracos? Talvez não sejam de classe mundial, mas não digam que são maus. A Colômbia, Costa Rica, Equador, Suíça, Bélgica, Holanda têm jogadores melhores? Não me parece. Têm treinadores melhores? Ah isso sim, não tenho a menor dúvida. Creio que o nosso problema é mesmo esse: liderança.
O lema de Paulo Bento “foi com estes que chegámos ao mundial é com estes que morremos” pode ser poético mas acarretar um caruncho capaz de correr por dentro em demasia. Vejamos, não será a falta de atitude ou a indisciplina fruto da conclusão retirada do lema Bentista? Ou seja posso fazer tudo, posso não correr, posso ter vipes de loucura e ser expulso porque estamos todos juntos e todos nos defendemos e não perco o meu lugar… Parece giro, mas a mim dá-me azia, por isso ontem não perdi tempo a ver o jogo. Já sabia no que isto ia dar.

Hoje na rádio ouvi as declarações do Bruno Alves e do Coentrão e espelha bem a falta de responsabilização que ali reina: “(a derrota) não vai afectar a equipa porque temos um bom espírito de grupo, damo-nos todos muito bem temos um bom ambiente, somos muito unidos…”. Talvez o problema seja mesmo esse, “bom ambiente” a mais e trabalho a menos.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Marinho e Pinto eleito?

As sondagens apontam para a possível eleição de Marinho e Pinto! Quero acreditar que sim. Seria muito bom para nós Portugueses! Vamos todos votar no MPT!!!

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Selecção Nacional (de Jorge Mendes)

Não nutro grande apreço por Paulo Bento. Apesar de lhe agradecer as taças que conquistou pelo Sporting a verdade é que sempre o achei um bronco e estou convencido que, não fosse o seu feitio, talvez tivéssemos ganho mais do que apenas as taças. Os líderes não se impõem são naturalmente identificados, aceites e respeitados. Paulo Bento sempre teve este problema da liderança e sempre fez dela um cavalo de batalha. Quando teve no Sporting rodeou-se de miúdos para mais facilmente controlar o balneário. Na selecção faz o mesmo, escolhe os que lhe serão fiéis, ou melhor, fiéis ao todo poderoso gestor de carreiras Jorge Mendes. Quem precisa deste artifício é porque não sabe liderar.
Não gosto e não acho normal que o dito empresário, que por acaso também é o gestor da carreira do próprio seleccionador nacional Paulo Bento, detenha 12 jogadores dos 23 convocados. A saber, Rui Patrício, Pepe, João Pereira, Fábio Coentão, Bruno Alves, William Carvalho, Miguel Veloso, Moutinho, Ronaldo, Postiga, Hugo Almeida, Nani. E ainda tem mais uns dos 7 que ficaram de fora. Talvez isso justifique a chamada da eterna nulidade Postiga, Hugo Almeida e Nani, ambos com muito poucos jogos devido a lesão (ou falta de jeito).
As justificações de Paulo Bento são contraditórias. Diz que Quaresma não jogou a época toda, mas leva Nani que jogou apenas 11 partidas (e nem jogou os 90minutos), esteve lesionado e nem foi convocado para os últimos jogos do United.
Levamos jogadores lesionados como Postiga, que mesmo com duas pernas não vale nada, Hugo Almeida, Vieirinha, Rafa, Nani, Pepe, Éder… Enfim.
Rafa esteve parte da época lesionado. O Braga termina em 9º lugar. Pode ser um jovem promissor, mas será que, jovem por jovem, não terá Mané mais rodagem, confiança e disponibilidade física que Rafa? Será que Adrien Silva não teria lugar nesta selecção? Se me perguntassem se preferia Rául Meireles, Veloso, Moutinho ou Adrien a minha resposta seria Adrien. Moutinho foi recentemente distinguido pelo L’equipe como o maior Flop da época 2013/2014…

Ou jogamos como jogámos contra a Suécia, a defender e com um super Ronaldo sozinho na frente, ou isto não vai acabar nada bem. Conseguem imaginar o Postiga a fazer os sprints que o Ronaldo fez contra a Suécia?  Não, pois não?.. Mas vão ver que ele vai jogar. Oh se vai!..Nem que seja de andarilho!!

quinta-feira, 8 de maio de 2014

O dinheiro não se evapora!

A semana passada, se a memória não me falha, o tema da Antena Aberta, programa da Antena 1, foi: “A saída limpa é mérito do governo?”
As perguntas que me fiz foram:
O que é que o governo fez para conseguir reduzir a dívida pública?
Quais foram as tão esperadas reformas estruturais que fez ou iniciou?
Qual foi a sua contribuição para o aumento das exportações?
De uma coisa tenho a certeza, este governo conseguiu reduzir significativamente o nível de vida da grande maioria dos portugueses.
Claro que todos nós ouvimos dizer, várias vezes, que a dívida privada era superior à dívida pública, e que vivíamos acima das nossas possibilidades.
Ora, a pergunta que se impõe, a todos nós, é: Quanto é que eu devia, fruto de viver acima das minhas possibilidades, e quanto é que eu paguei? (entenda-se, quanto é que me foi retirado?)
Depois, é só fazer contas de somar e subtrair.
Se lhe der o mesmo que a mim, que pagou bem mais do que devia, então pergunte-se:
Para onde foi esse dinheiro?
E,
Por quem paguei?
Sim, porque nem todos pagaram, alguns até receberam, e também houve aqueles que pagaram menos do que deviam (literalmente).
Porque, quando o dinheiro nos sai do bolso, ele vai para algum lado, e se for na sequência de uma transação acordada entre as partes, está tudo certo, mas, quando assim não é, geralmente chamamos-lhe roubo.
Tendo esta crise levado o país a uma situação de emergência nacional, como nos foi dito várias vezes, não nos deveriam ter dito, de forma clara e precisa, quais foram as suas causas?
Se não houve nenhuma catástrofe natural, nem fomos invadidos por nenhuma força terrestre ou extraterrestre, então, a causa desta crise foi porque vivíamos acima das nossas possibilidades? Quem? Todos nós?
Ou será porque é difícil explicar, porque pode ser mal compreendido, nomeadamente quando se tratam de más decisões políticas? Más decisões, atrás de más decisões, que se estendem no tempo?
A verdade derradeira é que o dinheiro não se evapora. Quando sai de um bolso, vai para outro. Para onde foi o dinheiro?
Foi para pagar a dívida, qua não é mais que a soma de várias dívidas, que não se sabe muito bem como foram causadas nem por quem?

São estas as perguntas que vão pairando no ar, porque entretanto vão sendo mal esclarecidas, enquanto o dinheiro vai saindo do nosso bolso, sabe-se lá para quem.




    

Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.

Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.

Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.

E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante estes rostos que me visitam diariamente. Médico psiquiatra

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Aumento de 2,6% nas tarifas dos CTT

Quantas vezes não ouvimos os nossos políticos justificar as privatizações de empresas do sector empresarial do estado com eficiências e diminuição dos custos para os contribuintes? Podemos não querer lembrar, mas já ouvimos isto várias vezes. A verdade é que isto nunca acontece e é fácil perceber porquê. Em empresas com dimensão nacional e por vezes até internacional, a “má gestão” de recursos humanos ou materiais dilui-se na operação. A operação representa uma fatia tão grande que pagar 1200euros a um funcionário que no mercado de trabalho livre receberia 800, são “piners” (pronúncia de Jorge Jesus para a palavra peanuts).
Acresce que o investidor que compra uma empresas destas quer lucro e recuperar o seu investimento no menor curto espaço de tempo, enquanto que uma gestão pública apenas se preocupa em constituir reservas suficientes. Até porque, por norma, são criadas entidades reguladoras para não deixar facturar mais do que o necessário. Como sabemos o lucro é calculado após as receitas e proveitos da empresa que incluem a operação (a grande fatia). Subir 2% no volume total de negócios representa muito mais do que cortar o salário a um milhar de trabalhadores, por isso é que para o contribuinte os preços nunca baixam.

Assim, só por mera ilusão ou falsidade se diz que uma empresa vai custar menos aos contribuintes sendo privada do que sendo pública. Prova disso é o aumento anunciado hoje nas tarifas dos CTT em 2,6%. Aposto com quem quiser que lá para Setembro vai voltar a haver um aumento na ordem dos 3%. Não acreditam? Vamos esperar para ver.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

O problema da Crimeia é um problema de Gás


Se vos disser que os triângulos representam furos de captação de gás e a mancha azulada a reserva de gás, acho que não é preciso dizer muito mais...
Para além disso, controlando os únicos gasodutos junto à costa, garante-se a dependência da Ucrânia (e outros países) uma vez que se impossibilita o abastecimento por via marítima.

O Sorteio das Fa(r)turas

Vai começar o badalado sorteio dos Audi A4 e A5 a entregar aos bons contribuintes que fazem o favor ao estado de pedir factura e de fiscalizarem o pagamento de impostos pelas empresas substituindo-se ao estado nessas funções. E como é que o estado agradece? Entrega carros que para a maioria da população não servem. Como dizem, e bem, quem é que nesta altura tem dinheiro para beneficiar de um carro daqueles?! Pois. Mas será que já pensaram se é suposto o povão ficar com aqueles carros? Vai ser necessário uma sorte danada! É que a rifa para entrar no sorteio é atribuída por x euros em facturas. O que é que acontece? O piolho, que gasta apenas no supermercado, água, luz, gás e pouco mais, vai ter 10 vezes menos hipótese de ganhar comparando com quem compra um fato Rosa&Teixeira, uma mala LuisVitton todos os meses…
Talvez por isso é que são entregues Audis A4 e A5 e não “Fordes” Fiesta de 15mil euros! Caros contribuintes, convençam-se: se os impostos quando nascem não são para todos, os prémios dos impostos também não! Isso é que era bom!
Então a divulgação da informação dos custos de manter um carro daqueles, completada com “a possibilidade de se recusar a participar no concurso” diz tudo sobre o que é suposto acontecer nestes sorteios. Claro que primeiro vai sair a um Zé povo qualquer para a SIC e a TVI fazerem propaganda. Mas depois disso…

Nota: O governo anda sempre a falar que devemos aumentar as exportações e diminuir importações. Anda sempre a dizer que devemos optar por produtos nacionais e estimular a nossa economia. No entanto, tendo a possibilidade de comprar VW Scirocco, que é um carro também de gama alta (35 a 45 mil euros) adopta antes pela importação de carros de 58mil euros…

terça-feira, 1 de abril de 2014


http://www.publico.pt/opiniao/jornal/o-sonho-de-pedro-passos-coelho-25222371


"Um terço é para morrer. Não é que tenhamos gosto em matá-los, mas a verdade é que não há alternativa. Se não damos cabo deles, acabam por nos arrastar com eles para o fundo. E de facto não os vamos matar-matar, aquilo que se chama matar, como faziam os nazis. Se quiséssemos matá-los mesmo era por aí um clamor que Deus me livre. Há gente muito piegas, que não percebe que as decisões duras são para tomar, custe o que custar e que, se nos livrarmos de um terço, os outros vão ficar melhor. É por isso que nós não os vamos matar. Eles é que vão morrendo. Basta que a mortalidade aumente um bocadinho mais que nos outros grupos. E as estatísticas já mostram isso. O Mota Soares está a fazer bem o seu trabalho. Sempre com aquela cara de anjo, sem nunca se desmanchar. Não são os tipos da saúde pública que costumam dizer que a pobreza é a coisa que mais mal faz à saúde? Eles lá sabem. Por isso, joga tudo a nosso favor. A tendência já mostra isso e o que é importante é a tendência. Como eles adoecem mais, é só ir dificultando cada vez mais o acesso aos tratamentos. A natureza faz o resto. O Paulo Macedo também faz o que pode. Não é genocídio, é estatística. Um dia lá chegaremos, o que é importante é que estamos no caminho certo. Não há dinheiro para tratar toda a gente e é preciso fazer escolhas. E as escolhas implicam sempre sacrifícios. Só podemos salvar alguns e devemos salvar aqueles que são mais úteis à sociedade, os que geram riqueza. Não pode haver uns tipos que só têm direitos e não contribuem com nada, que não têm deveres.

Estas tretas da democracia e da educação e da saúde para todos foram inventadas quando a sociedade precisava de milhões e milhões de pobres para espalhar estrume e coisas assim. Agora já não precisamos e há cretinos que ainda não perceberam que, para nós vivermos bem, é preciso podar estes sub-humanos.

Que há um terço que tem de ir à vida não tem dúvida nenhuma. Tem é de ser o terço certo, os que gastam os nossos recursos todos e que não contribuem. Tem de haver equidade. Se gastam e não contribuem, tenho muita pena... os recursos são escassos. Ainda no outro dia os jornais diziam que estamos com um milhão de analfabetos. O que é que os analfabetos podem contribuir para a sociedade do conhecimento? Só vão engrossar a massa dos parasitas, a viver à conta. Portanto, são: os analfabetos, os desempregados de longa duração, os doentes crónicos, os pensionistas pobres (não vamos meter os velhos todos porque nós não somos animais e temos os nossos pais e os nossos avós), os sem-abrigo, os pedintes e os ciganos, claro. E os deficientes. Não são todos. Mas se não tiverem uma família que possa suportar o custo da assistência não se pode atirar esse fardo para cima da sociedade. Não era justo. E temos de promover a justiça social.

O outro terço temos de os pôr com dono. É chato ainda precisarmos de alguns operários e assim, mas esta pouca- -vergonha de pensarem que mandam no país só porque votam tem de acabar. Para começar, o país não é competitivo com as pessoas a viverem todas decentemente. Não digo voltar à escravatura - é outro papão de que não se pode falar -, mas a verdade é que as sociedades evoluíram muito graças à escravatura. Libertam-se recursos para fazer investimentos e inovação para garantir o progresso e permite-se o ócio das classes abastadas, que também precisam. A chatice de não podermos eliminar os operários como aos sub-humanos é que precisamos destes gajos para fazerem algumas coisas chatas e, para mais (por enquanto), votam - ainda que a maioria deles ou não vote ou vote em nós. O que é preciso é acabar com esses direitos garantidos que fazem com que eles trabalhem o mínimo e vivam à sombra da bananeira. Eles têm de ser aquilo que os comunistas dizem que eles são: proletários. Acabar com os direitos laborais, a estabilidade do emprego, reduzir-lhes o nível de vida de maneira que percebam quem manda. Estes têm de andar sempre borrados de medo: medo de ficar sem trabalho e passar a ser sub-humanos, de morrer de fome no meio da rua. E enchê-los de futebol e telenovelas e reality shows para os anestesiar e para pensarem que os filhos deles vão ser estrelas de hip-hop e assim.

O outro terço são profissionais e técnicos, que produzem serviços essenciais, médicos e engenheiros, mas estes estão no papo. Já os convencemos de que combater a desigualdade não é sustentável (tenho de mandar uma caixa de charutos ao Lobo Xavier), que para eles poderem viver com conforto não há outra alternativa que não seja liquidar os ciganos e os desempregados e acabar com o RSI e que para pagar a saúde deles não podemos pagar a saúde dos pobres.

Com um terço da população exterminada, um terço anestesiado e um terço comprado, o país pode voltar a ser estável e viável. A verdade é que a pegada ecológica da sociedade actual não é sustentável. E se não fosse assim não poderíamos garantir o nível de luxo crescente da classe dirigente, onde eu espero estar um dia. Não vou ficar em Massamá a vida toda. O Ângelo diz que, se continuarmos a portarmo-nos bem, um dia nós também vamos poder pertencer à elite."

sexta-feira, 7 de março de 2014

O coelho que nasceu raposa


Esta semana ouvimos o primeiro-ministro alertar os portugueses para o facto de que a nossa vida, mesmo após a saída da troika, não voltará aos níveis de 2010. Acho que só mesmo quem esteja muito desatento ou emigrado nos últimos 3 anos, é que pode ainda não ter percebido isso.

A sucessão de mentiras ou artimanhas encontradas para justificar a inépcia, a incompetência ou vigarice deste governo já originou anticorpos em alguns de nós. Já não ligamos ao que aquele bando de pulhas nos diz.

Todos sabemos que um país que em 3 anos não deixou de se endividar, pelo contrário, endividou-se ainda mais, não pode estar melhor do que antes. Só num número de ilusionismo, arte em qual Paulo Portas parece doutorado, é que se pode mascarar tais factos. Vamos ver então qual vai ser o próximo espectáculo de magia, talvez, no ano de eleições, 2015, o IRS baixe um pouco para iludir o povo de que a saída da troika melhorou a vida dos portugueses. Como é possível? À custa da dívida que anda a ser contraída antecipadamente… Espertos que nem raposas.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Recompra de dívida



Mais uma vez ouvimos com pompa e circunstância nos órgãos de comunicação social um aclamado sucesso na ida aos mercados para recomprar dívida que vencia em Outubro de 2014 e outubro de 2015. A primeira chamada de atenção, dos mais de 15mil milhões de dívida que vencem nesse período o estado apenas conseguiu comprar mil.

O segundo aspecto importante prende-se com o objectivo disto tudo. Para se recomprar dívida tem de se ter liquidez. Ora há duas semanas o estado Português vendeu dívida com juros de 5,11%. Se o juro da dívida que foi recomprada era superior a 5,11%, então estaremos perante um bom negócio. Mas se fosse inferior (que é o que consta) então é um mau negócio. Quer dizer que fomos há duas semanas contrair mais dívida a 5,11%, em quantidade superior ao que necessitávamos, apenas para ficarmos com alguma liquidez para agora fazermos esta acção de recompra.

Então qual o objectivo por detrás disto tudo? Creio que a resposta está no primeiro parágrafo. Como a dívida vencia em outubro deste ano e em 2015 (ano de eleições), contraiu-se há duas semanas dívida para agora poder-se aliviar a de 2014 e 2015, curiosamente ano de eleições.

Bom, peguei no gráfico que publiquei em dezembro e fiz uma pequena actualização, como se pode ver na imagem.

·         Em Dezembro2013 foram 6,2mil milhões atirados para 2017 e 2018 (amarelo);

·         No início de Janeiro foram 3mil milhões atirados 5 anos para a frente(laranja);

·         E agora foram mais 3mil milhões atirados 10 anos para a frente ou seja 2024 (rosa).

Mais uma vez não estamos a pagar dívida estamos a atirá-la para a frente.
Quem ainda não emigrou, é bom que comece a ponderar, porque olhando para o gráfico as perspectivas não são nada animadoras. Se isto foi o que foi nos últimos anos para conseguirmos amortizar (pagar ou vender nova dívida) no valor de 11mil milhões, nem quero imaginar o que vai ser quando tivermos de amortizar (pagar ou vender nova dívida) de 17mil milhões, como acontece nos anos 2016, 2017 e 2018.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Circo do PSD 2014 – Coliseu de Lisboa


Este fim-de-semana decorreu mais um congresso do PSD, mas para mim, do pouco que vi pareceu-me mais um circo ou um espectáculo de stand-up-comedy do que debate político. Começo por aqui mesmo, política.

Tudo o que vi em directo foi mau, foi palhaçada. E tudo o que vi nos resumos dos órgãos de comunicação social foi pior ainda: peixeirada. Política, ideais ou convicções: ZERO.

Muitos disparos contra Seguro, muita gente preocupada em “marcar lugar” no partido (Santana, Menezes, Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa) e pouca substância. A minha opinião pessoal é que este congresso colocou em evidência o falhanço da nossa democracia e o porquê do estado miserável em que se encontra o nosso país.

Não há cérebros. Não há iluminados. Não há estadistas. Não há governantes. Não há política nem políticos.

Existem sim, neste país, diferentes matilhas em que os seus membros aprenderam a respeitar a hierarquia e a viver na e à custa da matilha. Todos eles esperam que o líder caia, mas enquanto isso não acontece vão andando com a matilha, sempre à espera do seu naco de carne, da sua parte do festim.
Esta cobardia e dependência do partido demonstrada por Marques Mendes e Rebelo de Sousa descredibiliza-os por completo. O beija-mão não é coisa compatível com o raciocínio livre. Esta ditadura partidária espelhada na falta de valores e de respeito pela divergência de opiniões dos seus camaradas de partido, conduziu-nos à actual situação económica e é responsável por termos actualmente os piores intervenientes políticos de sempre desde o 25 de abril. Uma miséria.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O problema Ucraniano


Ao ver todos os dias as imagens impressionantes de Kiev, onde estoicamente ucranianos lutam com a sua própria vida pelos seus ideais, seria mais que justo da minha parte fazer uma referência a todo este impasse.

Recapitulando, as últimas adesões à União europeia deixaram de fora a Ucrânia, uma vez que o país não se encontrava em condições para aderir, quando há uns anos, os novos membros se prepararam para entrar. É um país que ainda tem muita corrupção, muitas dúvidas nos actos eleitorais etc. No entanto este ficar de fora deixa marcas, ainda por cima, quando os dirigentes políticos ucranianos foram fazendo jogo duplo ao longo dos últimos anos, dizendo que sim à união, ao mesmo tempo que não diziam não à Rússia. Foram assim empurrando o problema para a frente, até que, chegado o dia de decidir, as expectativas pró europeias do povo foram friamente desfeitas.

Como em quase todos os conflitos o problema resume-se a dinheiro. Falta dele ou muito mas limitado a poucos, o problema anda sempre à volta disto. A Ucrânia debate-se com grandes dificuldades financeiras e salários baixos. A adesão à União resolveria o problema? Talvez não porque um país mergulhado há anos numa cultura de corrupção demoraria muitas décadas a recriar-se numa sociedade mais justa e próspera. Mas é legítimo abdicar do sonho de tornarmo-nos melhores só porque o caminho é difícil? Não. E os Ucranianos ao longo das últimas décadas já sentiram na pele o que a aliança económica com a Rússia produziu e principalmente o que não produziu. Por isso têm o sonho.

E o papel do presidente Ucraniano no meio disto? Bom é difícil. O facto é que energeticamente a Ucrânia depende da Rússia que ameaçou subir os preços. Ao mesmo tempo, a mesma Rússia vai comprando aos poucos a dívida Ucraniana, que não dá para produzir alterações significativas na economia mas apenas para manter a Ucrânia “ligada à máquina”. A verdade é que o país está altamente dependente da Rússia e devido à falta de credibilidade das instituições ucranianas e da elevada corrupção, não há investidor que esteja interessado em comprar dívida daquele país. Mesmo a União Europeia. Teria sido prudente ter realizado um referendo? Talvez. Mas num país em que o próprio presidente é acusado de ter ganho as eleições de forma fraudulenta, seria sempre difícil, se não impossível, de as diferentes facções aceitarem os resultados.

Depois existem todas as questões estratégicas e geográficas. O gasoduto que atravessa a Ucrânia e abastece a europa também não deve ajudar à festa. Enfim, demasiados interesses que acabam por vitimar quem apenas ambiciona a ter comida no prato e aquecimento na casa para a sua família. Enquanto as economias falarem mais alto que os interesses sociais este problema vai ser difícil de resolver. Para já, o meu respeito por quem luta com a própria vida, por um sonho de uma vida melhor.