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quinta-feira, 28 de maio de 2020

A Vida Sem Viver!

O vírus não se alimenta, não se movimenta, não se reproduz, não pensa. Até entrar num hospedeiro, mantém-se imóvel para poupar energias. Uma vez no hospedeiro, assim que consegue penetrar uma célula, sequestra-a, pondo-a a reproduzir vírus até que o doente contagie o próximo hospedeiro. O objetivo do vírus é contagiar (quantos mais melhor), até que o sistema imunitário do infetado o elimine. O vírus não ganha com a morte dos hospedeiros. Precisa deles para os poder reinfectar. Quando o vírus infeta uma espécie pela primeira vez, começa um processo de adaptação a um sistema imunitário diferente. Porque ainda se estão a “conhecer”, pode acontecer que haja uma desproporção de forças que torne o vírus mais ou menos letal. Esse equilíbrio entre o vírus e o sistema imunitário dos infetados pode demorar mais ou menos tempo a ser alcançado, e o número de mortes pode variar significativamente. O vírus, para sobreviver (enquanto “espécie”), necessita de poder continuar a infetar. Por isso, ao fim de algum tempo sofre mutações para que os anticorpos dos que já foram infetados deixem de ser eficazes. E é isto a vida do vírus: infetar e contagiar. Ao fim de algum tempo, sofrer mutações para poder reinfectar.
O vírus ao entrar dentro das nossas células, torna difícil criar um medicamento que lhe faça mal sem nos prejudicar. Ele funciona através de nós. Por outro lado, ao mudar, faz com que os anticorpos de hoje não sejam eficazes amanhã. Foram muitos de anos de tentativa e erro até chegar aqui. Se deixarmos a nossa defesa entregue unicamente à natureza (entenda-se ao sistema imunitário), os mais fortes irão sobreviver e os mais fracos não, e esta relação que dura há milhares de anos irá continuar, umas vezes com mais sofrimento do que outras. Mas ao contrário do vírus, nós pensamos e temos vindo a evoluir e isso dá-nos esperança que um dia consigamos derrotar este e outros germes.
Reparem que o vírus antes do evento da agricultura, quando eramos caçadores recolectores, não conseguia sobreviver muito tempo, pelo menos na nossa espécie. Vivíamos em grupos pequenos, formados por cerca de 30 pessoas que evitavam o contacto com outros bandos. Isso significa que o vírus infetava todos antes de sofrer a primeira mutação e, consequentemente, ou matava todo o grupo ou era eliminado. Em ambos os casos era erradicado. Mas hoje somos quase 8 mil milhões de habitantes numa aldeia global. Por isso, para erradicarmos o vírus, ou para o tornarmos inofensivo, temos de continuar a investigar.
A vida do vírus não podia ser mais desinteressante, mas quer manter-se viva. Vem-me à memória uma imagem do filme “A Guerra do Fogo”, em que tudo faziam para evitar que a chama se apagasse. Isso só mudou no dia em que aprenderam a fazer fogo.    
A vida só se preocupa em sobreviver, não quer saber de ideais nem de sonhos, e aí, estamos em pé de igualdade com o vírus. Mas seria um retrocesso de milhões de anos, em termos evolutivos, se um ser tão básico como este vírus, que nem vive, apenas sobrevive, conseguisse exterminar um ser muito mais evoluído, que até já ambiciona encontrar vida noutros planetas.
Por isso, desta tragédia que até hoje já matou cerca de 350 000 pessoas em todo o mundo e infetou mais de 5 300 000, espero que também venham coisas boas. Dizem que há sempre dois lados na mesma moeda. Uma coisa boa poderá ser o teletrabalho. Se conseguirmos por essa via reduzir a poluição atmosférica, nomeadamente nos centros urbanos de maior densidade populacional. A outra, seria se aproveitássemos a lição para investigar mais este e outros germes. Precisamos de saber muito mais sobre eles.
Se quiser saber mais, leia o artigo do link em baixo de onde retirei os próximos parágrafos.
“Os vírus são pouco mais que um pacote de material genético cercado por uma concha de proteína espetada, com um milésimo da largura de uma pestana, e leva uma existência tão zombie que mal é considerado um organismo vivo.”
“Passaram milhões de anos aperfeiçoando a arte de sobreviver sem viver - uma estratégia assustadoramente eficaz que os torna uma ameaça poderosa no mundo de hoje.”

https://www.newstalkzb.co.nz/news/science/why-the-covid-19-coronavirus-is-so-hard-to-kill/