O BES o tal banco recomendado por
todo e qualquer guru financeiro, que até há pouco tempo foi alvo de uma
reportagem, creio que do financial times, onde recomendava o banco “familiar”
com mais de 150 anos, referindo até que era possível a existência de bancos de
média dimensão privados livres de grandes grupos económicos, travestiu-se. Fez
como que uma cirurgia em que livrou-se do que não queria (o que dava prejuízo)
e ficou com os depósitos. Uma operação cirúrgica nunca vista e que cheira-me que vai gangrenar em "montes" de processos!
Apesar do discurso que o governo
quis fazer passar de que era uma questão privada e que o estado não se
intrometeria, deixando as responsabilidades para os accionistas, a verdade é
que no final de contas uma vez mais foi o estado o salvador de devaneios, de
gulas desmedidas dos privados. No final paga sempre o mesmo.
Afinal, o estado antes mesmo de
anunciar que ia injectar até 4,5mil milhões no BES, já o tinha feito e não
tinha dito nada a ninguém.
Afinal permitiu-se em abril de
2014 um aumento de capital, quando em setembro de 2013 (segundo as palavras do
próprio governador do BdP) já havia indícios de práticas pouco recomendáveis, ou mesmo
crime financeiro (como é possível?).
Afinal permite-se que um banco
roube alguns clientes e accionistas convertendo poupanças em acções do próprio
banco, desde que o prepósito do mesmo seja permitir que os grandes investidores
salvem primeiro os seus investimentos (tal como aconteceu com a PT).
Afinal, antes de anunciar a
intervenção e congelar as transacções de acções em bolsa, já os grandes
investidores, um mês antes tinham sido avisados para retirar o dinheiro e
aplicações enquanto podiam. Assim se justifica o crescimento do buraco de
1,2mil milhões em junho, para 3,7mil milhões em julho.
Afinal é fácil ser-se banqueiro, quando
se geram lucros ficam para eles, quando se tem prejuízo atiram-se os mesmos
para os pequenos investidores ou então para o estado.
Não tenho palavras para tudo o
que se passou nestes últimos 3 meses no que diz respeito ao BES (a começar pelo
Banco de Portugal, na minha opinião, uma vez mais comido). Até porque tive
conhecimento, através de um boy, que a situação do BES estava camuflada. Antes
da intervenção tive conhecimento de grandes clientes que foram avisados para
colocarem as suas fortunas fora do banco. Pior do que isso é saber que esses
mesmos clientes abastados beneficiaram de taxas de 11 a 15%, algo completamente
impossível e que talvez por isso tenha resultado na cirurgia que lhe permitiu a
metamorfose.
Em 3 anos tivemos: BPN, BPP,
BANIF e BES – 6,5 mil milhões, 350milhões, 1,3mil milhões e agora 4,5mil
milhões. Coisa pouca. Qualquer coisa como 12,65mil milhões que o estado teve de
bancar.
Como é que podemos ficar
indiferentes quando o governo anuncia mais cortes nos salários e pensões para
ir buscar 350milhões anuais? Porque raio temos nós de pagar isto? Porque nos
calha sempre a nós contribuintes, pagar as metamorfoses dos bancos?
Está mais que visto que o regulador (BdP) não consegue actuar. Está mais que visto que mais vale não existir bancos privados. É verdade que ficamos todos condenados à pouca flexibilidade da Caixa Geral para dar crédito ou pagar juros, mas ao menos, enquanto contribuinte, não me aparece uma conta de 12,6mil milhões para pagar!..