Há (quase) Três Séculos A
Desenterrar Carbono
A revolução industrial ocorreu entre cerca de 1730 e 1850 em
Inglaterra, e marca o início da utilização massiva de combustíveis fósseis
(primeiramente o carvão).
Estes, permitem ter energia relativamente barata e acessível
que pode facilmente ser transportada para onde é necessária.
A energia proporcionada pelo carvão, petróleo e gás, são o
motor do crescimento económico desde então (sempre apoiado pelo desenvolvimento
tecnológico).
Antes desse acontecimento, era habitual que a produção (as
primeiras “fábricas”) estivessem onde fosse possível aproveitar a energia de
recursos naturais (por exemplo, a água e o vento).
Embora tenham nascido cidades junto a minas de carvão, era
possível inaugurar uma fábrica noutro local, por exemplo, onde a mão de obra
fosse abundante e mais barata.
O progresso e o crescimento económico desde então,
trouxeram-nos para níveis de riqueza inimagináveis. Infelizmente, a
distribuição da mesma não foi capaz de erradicar a fome e a pobreza no mundo.
Curiosidade
Sabia que “a formação do petróleo é um processo fascinante e
demorado que leva milhões de anos. A teoria mais aceite é que ele se formou a
partir da decomposição de matéria orgânica, principalmente algas e outros
pequenos organismos marinhos, em ambientes com pouco oxigénio”. (fonte:
Gemini).
Os seres humanos estão a causar o
aquecimento global e as alterações climáticas.
Foi por volta de 1988 que o então diretor da NASA,
James Hansen, “levou o assunto para o Congresso dos Estados Unidos”.
A partir desse alerta, os políticos passaram a estar mais
atentos para os fenómenos resultantes das alterações climáticas.
Doze anos mais tarde, Al Gore perde as eleições nos Estados
Unidos para George W. Bush.
Este, que tinha sido Governador do Texas, foi fortemente
apoiado pelo lóbi do petróleo, indústria na qual trabalhou após terminar os
estudos.
Foi uma eleição com recontagem de votos na Flórida e em que
globalmente Al Gore teve mais votos, mas perdeu as eleições por uma margem
estreita.
G. Bush com 271 votos no Colégio Eleitoral contra os 266 de Al
Gore (com um eleitor a abster-se na contagem oficial).
Foi mais um contratempo na luta contra o aquecimento global (ou
deverei dizer azar)?
Em 2006 foi lançado o documentário “Uma Verdade Inconveniente”,
“dirigido por Davis Guggenheim, sobre a campanha do ex-Vice-presidente dos
Estados Unidos, Al Gore, para educar os cidadãos do mundo acerca do aquecimento
global”.
Infelizmente, este problema que se pode tornar demasiado
grave, continua a ser levado pouco a sério por grande parte da população, mas
pior que isso, pelos decisores.
Essa aparente pouca preocupação, não nos assegura que o
problema não esteja a agravar-se.
Como diz John Kerry: "É preciso responsabilizar os políticos
por causa do clima"
“O ex-responsável da diplomacia norte-americana John Kerry
afirmou hoje que o mundo está a perder a luta contra as alterações climáticas
porque ninguém cumpre os compromissos assumidos no acordo de Paris e há líderes
que não acreditam na ciência”.
"A triste verdade é que não estamos a ganhar. Não há um
único país a fazer aquilo a que se comprometeu em Paris", disse John
Kerry, em Lisboa, no último dia da conferência Futuro do Planeta, promovida
pelas fundações Oceano Azul e Francisco Manuel dos Santos”.
Do que tenho lido, são duas as principais razões que
justificam a pouca atenção dos políticos para um problema tão sério.
- A população não se queixa, ou queixa-se muito pouco. A
razão para tal deve-se ao facto do problema (ainda) ser pouco visível. Nós
humanos, damos mais atenção aos problemas imediatos e visíveis do que aos que
ainda “poderão” acontecer.
Como é que poderemos ter a certeza da magnitude dos problemas
se não os sentimos?
Sim, é verdade que cada vez mais presenciamos eventos
extremos relacionados com as alterações climáticas, furacões, ciclones, grandes
incêndios florestais, precipitações intensas que provocam cheias, ondas de
calor, secas prolongadas, degelo, etc, mas certamente que a maioria considera que
se não passar disso, conseguiremos dar conta do recado.
- A outra razão está relacionada com a invisibilidade. As
ações climáticas preventivas não têm visibilidade imediata. Visam
fundamentalmente mitigar os problemas. Uma ação desenvolvida hoje não produzirá
resultados climáticos imediatos. Na melhor das hipóteses, poderemos vir a dizer
que determinado político tomou medidas que evitaram que as condições climáticas
fossem hoje muito mais graves. Mas, nessa altura, o líder em questão, até pode já
estar reformado ou morto.
As ações visam evitar que os problemas provocados pelas
alterações climáticas se agravem. Já não é possível voltar ao clima que
tínhamos antes do aquecimento global.
Reverter completamente as alterações climáticas para o estado
pré-industrial é considerado extremamente improvável. As emissões de gases com
efeito de estufa já causaram um aumento significativo da temperatura global e
mudanças nos padrões climáticos. O dióxido de carbono, por exemplo, pode
permanecer na atmosfera por milhares de anos, o que significa que os efeitos
das emissões passadas continuarão a ser sentidos por muito tempo. (Fonte:
Gemini).
Os políticos preferem gastar as verbas disponíveis em ações
que tenham visibilidade, pois são essas que dão votos.
A não ser que os eleitores lhes digam que votam neles se prestarem
atenção ao clima.
Precisamos de passar à ação!
Recentemente passou um documentário na televisão “Em busca do
carbono neutro”.
Em resumo, o diagnóstico está feito e as ações necessárias
estão identificadas. Sabemos o que temos de fazer para atingir esse objetivo
até 2050 (carbono neutro).
Será que vamos conseguir? Por que não antes?
A resposta é simples: após ver o referido documentário, todas
as medidas dependem, para além da dedicação política, de serem economicamente
viáveis.
Ou seja, dificilmente serão implementadas (a tempo) enquanto não
forem lucrativas.
Pior, esta sociedade desenvolveu-se, desde a revolução
industrial, assente nos combustíveis fósseis. Há toda uma estrutura montada que
não é fácil, nem barato, substituir.
Um bom exemplo, é o dos carros elétricos.
O documentário diz que nos EUA já representam 5% dos carros
novos vendidos. Embora pareça um número baixo, indicia que irá conseguir
completar a primeira fase do ciclo de vida de um produto (Introdução).
No entanto, dificilmente entra na fase de crescimento de
forma sustentada se os preços não descerem. Um carro elétrico ainda tem um
custo bastante significativo a mais do que um carro a gasóleo (a diferença é ainda
maior se for a gasolina). Para além do facto de ter de trocar de bateria, em
princípio, ao fim de dez anos.
Um carro elétrico da mesma gama, custa em média, mais dez mil
euros do que um carro a gasolina, com a agravante de ter de investir outro
tanto passado o período de vida da bateria (por volta de dez anos).
Pretendo com este exemplo, realçar a dependência da aplicação
de ações para reduzir as emissões de carbono, à necessidade de que as mesmas
sejam economicamente rentáveis (o que é diferente de viáveis).
No fundo, parece que estamos a dizer que só vale a pena
salvar o planeta, se não colocarmos o crescimento económico (e o nível de vida)
em causa.
Claro que é preferível ter o melhor dos dois mundos, conseguir
atingir as metas sem perdermos qualidade de vida, mas até quando podemos
continuar a procrastinar?
Não devemos permitir que a ansiedade perturbe a capacidade de
bem decidir, mas também não podemos continuar a desperdiçar tempo.
Ver em pleno inverno praias cheias de pessoas a divertirem-se
é espantoso, mas devemos nos perguntar como será o verão dentro de 10 anos.
Voltar para trás já é impossível. Imagine a improvável tarefa
de voltar a congelar o gelo que o aquecimento global derreteu.
Os sinais continuam a chegar-nos (comunicação social,
Internet, rádio, etc), não só quando ouvimos / lemos notícias de fenómenos
extremos, mas também de estudos científicos.
Recentemente li uma notícia que sugeria que a AMOC estava a
enfraquecer.
A Circulação Meridional do Atlântico (AMOC, na sigla em
inglês), da qual a Corrente do Golfo faz parte, funciona como uma gigantesca
transportadora global, levando água quente dos trópicos em direção ao extremo
Atlântico Norte, onde a água esfria, torna-se mais salgada e afunda
profundamente no oceano, antes de se espalhar para o sul.
As principais causas do enfraquecimento da AMOC são:
• Aumento do
derretimento do gelo na Gronelândia
• Aumento da
temperatura do oceano
O colapso da AMOC teria consequências graves para o clima
global, incluindo:
• Arrefecimento
na Europa e América do Norte
• Aumento do
nível do mar
• Mudanças nos
padrões de precipitação
De acordo com o programa europeu de observação da Terra, Copernicus,
“O mundo ultrapassou pela primeira vez durante 12 meses consecutivos o
limite do aquecimento de 1,5ºC face à era pré-industrial”
Este aumento não foi sentido de forma idêntica em todo o
lado. Aqui, na região Oeste (Portugal), o inverno mostrou-se muito timidamente.
As temperaturas diárias têm se assemelhado mais às da primavera.
Torna-se preocupante por estarmos cada vez mais perto do limite
dos 2ºC estabelecido no acordo de Paris, quando ainda faltam mais de 25 anos
para atingirmos a data-limite (2050), e ainda não parámos de bater recordes nos
milhões de toneladas de carbono, enviados anualmente para a atmosfera.
Perguntei à IA do Google e da Microsoft (Gemini e ChatGPT)
quais as consequências para a humanidade e para o planeta como um todo, se a temperatura subir 2ºC face ao
período pré-industrial.
Eis algumas das respostas:
“As consequências para a humanidade se a temperatura subir
2ºC face ao período pré-industrial são graves e abrangentes, impactando
diversos aspetos da vida humana e natural.
Aumento do nível do mar: O derretimento das calotas polares e
de glaciares levaria a um aumento significativo do nível do mar, inundando
áreas costeiras e deslocando milhões de pessoas.
Eventos climáticos extremos: Ondas de calor, secas,
inundações, tempestades e furacões, mais frequentes e intensos, causando perdas
de vidas, danos em infraestruturas e impactos na agricultura.
Perda de biodiversidade: O aumento da temperatura levaria à
extinção de diversas espécies de animais e plantas, alterando os ecossistemas com
forte impacto na cadeia alimentar.
Acidificação dos oceanos: A absorção de CO2 pelos oceanos
tornaria a água mais ácida, prejudicando a vida marinha e a cadeia alimentar.
Escassez de água e alimentos: A seca e a desertificação
afetariam a produção de alimentos, levando à escassez e à fome, especialmente
em regiões já vulneráveis.
Migração em massa: A elevação do nível do mar e os eventos
climáticos extremos deslocariam milhões de pessoas, criando crises humanitárias
e refugiados climáticos.
Impactos na saúde: As ondas de calor e a proliferação de
doenças transmitidas por mosquitos aumentariam a morbidade e a mortalidade,
especialmente entre grupos vulneráveis.
Danos à infraestrutura: Eventos climáticos extremos
danificariam casas, estradas, pontes e outras infraestruturas, gerando custos
bilionários para reparos e reconstrução.
Conflitos e instabilidade: A escassez de recursos e os
impactos sociais poderiam levar a conflitos por água, terra e alimentos,
desestabilizando regiões e aumentando a violência.
Para evitar as piores consequências do aumento de 2ºC, é
necessário que os países assumam compromissos sérios e urgentes para reduzir as
emissões de gases de efeito estufa”.
E se forem 4ºC? Uma vez que as respostas podem ser facilmente
obtidas, apresento apenas um resumo da resposta.
“Aqui estão algumas das consequências que poderiam ser
esperadas de um aumento de 4ºC na temperatura global:
1. Colapso dos
Ecossistemas: … extinção em massa de espécies e mudanças irreversíveis nos
sistemas naturais.
2. Aumento
Drástico do Nível do Mar: … levando ao deslocamento de centenas de milhões de
pessoas.
3. Agricultura
Severamente Afetada: … levando a crises alimentares generalizadas.
4. Escassez de
Água Generalizada: … exacerbando os conflitos sobre recursos hídricos.
5. Condições
Climáticas Extremas Incontroláveis: … causando danos catastróficos à
infraestrutura e à vida humana.
6. Colapso da
Economia Global: … podendo levar a uma crise económica global sem precedentes.
7. Riscos para a
Saúde Pública: … A disseminação de doenças infeciosas, representaria sérios
riscos para a saúde pública em todo o mundo.
8. Instabilidade
Social e Política: … conflitos resultantes da competição por território e
recursos.
Em resumo, um aumento de 4ºC na temperatura global teria
impactos devastadores à escala global, com consequências profundas para a
humanidade, os ecossistemas e a economia”.
Não vale a pena perguntar por temperaturas mais altas…
Imaginem que milhões de anos depois, um ser inteligente
consegue reescrever a história do planeta Terra e conclui que “os humanos eram
mais inteligentes que os dinossauros, mas que estes eram menos estúpidos,
afinal os répteis não faziam ideia que um pedregulho iria chocar com a Terra
enquanto os primatas sabiam o que estavam a fazer e como o evitar”.
Confesso que sinto a minha preocupação pouco correspondida.
Por exemplo, até à data de hoje, não vi o assunto das alterações climáticas ser
discutido em qualquer dos debates às eleições do próximo dia 10 de março.
Muitas vezes pergunto-me se estarei errado…
Afinal, não estar a ser divulgada informação como gostaria, não é razão para pensar que pouco está a ser feito ou que não vamos conseguir
atingir os objetivos.
Não tenho dúvidas que o problema existe e que pode tornar-se
grave.
Os cientistas têm alertado o mundo para este problema há
décadas, e como sabemos, os investigadores científicos têm por regra analisar
os factos e procurar comprová-los, antes de falar deles.