Assistimos recentemente a um
facto digno de registo na história contemporânea, falo da renúncia de Alberto
João Jardim e o respectivo processo de substituição.
Não sou madeirense, mas conheço razoavelmente
a realidade da ilha fruto das minhas viagens recorrentes à ilha para visitar os
familiares da minha mulher. “Cubano” como sou, consigo ter uma visão um pouco
mais despregada de toda a situação. Cubano transmontano como sou, poderei ser
ainda mais intransigente com algumas situações, uma vez que que a minha bitola
de comparação é um pedaço, relativamente grande, do território português que é região
transmontana, que ainda aguarda a conclusão da sua primeira autoestrada. Uma
região que, aos meus olhos está completamente abandonada à sua sorte.
Assisti ao debate na RTP Madeira
entre os dois candidatos, Miguel Albuquerque e Manuel António Correia. Não sei
se a maioria dos comentadores das televisões nacionais assistiram. De um lado
um político que teve a audácia de 4 anos antes se demarcar de Jardim, do outro
um fiel escudeiro que tentava convencer os eleitores através de argumentos de
boa gestão pública que praticou enquanto Secretário Regional do Ambiente e dos
Recursos Naturais. Manuel Correia, segundo o próprio, não desmentido
pelo seu adversário e por madeirenses, organizou as cooperativas da banana
madeirense, com benefício para os produtores (grandes apoiantes do próprio),
bem como o problema dos elevados custos da recolha e tratamento dos lixos,
atribuídos a privados reduzindo os custos em 12 milhões de euros/ano. Manuel
Correia acusou ainda Miguel Albuquerque de ser apoiado pelos privados que ele “entalou”
durante a sua gestão pública, algo que também não vi ser desmentido.
Confesso que tenho muita
relutância em acreditar que alguma coisa vai mudar com a ascensão de Miguel
Albuquerque. Não me admiraria nada que num futuro próximo se venha a perceber
que tudo isto não passou de um puro golpe de teatro. O grande feito de Miguel
Albuquerque, até agora, for ter a audácia de, antevendo a queda inevitável do líder,
entrar em rota de colisão, deixar cair de podre e esperar pelo seu tempo. Não
gosto do estilo de Jardim nem do seu estilo de governação, mas como cidadão
mais depressa aprecio numa pessoa a lealdade do que comportamentos a lembrar um
chacal. É que dos primeiros já sabemos o que podemos ter, já dos segundos…
Lobos com pele de cordeiro podem ser a desgraça completa.
Antevendo o desgaste de 36 anos
de poder, que já se tinham reflectido nas eleições anteriores Miguel
Albuquerque foi falando de mudança e mudança e mais mudança, sem concretizar
como e no quê. Sabendo que todo o investimento público na Madeira é da responsabilidade
do Governo Regional (até as luzes de Natal do Funchal são da responsabilidade
do Governo Regional!) não vejo que passado tão orgulhoso, tão enriquecedor
possa ter Albuquerque comparando com Manuel Correia que faça o povo aclamar
pelo D. Sebastião Madeirense…
Pode ser que me engane, mas creio
que a Madeira vai entrar na 2ª era Jardim. Se é bom ou mau para os Madeirenses,
eles saberão melhor do que eu, pois são eles que todos os dias vivem e beneficiam
dos túneis e das novas estradas que se abrem todos os anos.
Para mim, como cubano
transmontano, custa-me saber que uma região de Portugal possa acumular um
passivo de 8mil milhões enquanto outras vêm os seus municípios lutarem por
migalhas. Se hoje me disponibilizassem 8mil milhões de euros para investir em
Trás-os-Montes, podem ter a certeza que os níveis de pobreza desceriam e o PIB
da região aumentaria e muito.