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segunda-feira, 18 de junho de 2018

Sporting - E agora?

Por ser adepto do Sporting Clube de Portugal, não podia deixar passar este triste episódio das rescisões sem fazer um comentário a tudo isto, que provavelmente será extenso, porque a dimensão dos factos e das suposições também o são.
Como nota prévia queria deixar claro alguns pontos:

  • Bruno de Carvalho é daquelas pessoas que ganhava muito em por vezes ser mais discreto, reservado. É um estilo pessoal. Há quem goste e há quem não goste. Gostei muito quando no início do seu mandato, adoptou uma postura crítica antissistema, porque é algo que, qualquer adepto mais atento sabe que há efectivamente mecanismos de controlo de poder no futebol português. Não deveria de o ser, mas infelizmente é. No entanto, quando a mesma postura levou para a crítica fácil e brejeira comecei a ficar com o pé atrás. Quando foi buscar Jorge Jesus ao rival, com toda a polémica que envolveu, com permanente troca de galhardetes entre JJ e o Benfica e o Bruno de Carvalho a ir no barco, temi o pior. Estavam-se a semear os tormentos.
  • Nasci no pós 25 de abril. Sempre conheci a liberdade. Aos meus 18 anos fui com todo o orgulho votar pela primeira vez e senti-me um cidadão activo e participativo. Quem leu o blog certamente percebeu que me custou muito os anos de Pedro Passos Coelho no poder. Não pelos impostos, mas pelo discurso anti Estado, anti função pública, anti português no geral, que ele próprio e o PSD durante anos geriram. No entanto acho que as mudanças fazem-se em eleições, não com golpes de estado.
  • Não sou ingénuo. Não acredito em anjos e diabos. Tenho consciência que há muita gente honesta e de palavra no seu dia-á-dia. Mas também sei que, quando toca a negócios, a honestidade e palavra leva-as o vento com muita facilidade. Não deveria ser assim mas, palavra, é coisa do século XIX. Hoje a vida vive-se a 200km/h, vive-se para o momento e nos negócios é a mesma coisa, pensa-se a curto prazo e não a longo prazo.
  • O ataque de 50 vândalos à academia é uma cena digna do terceiro mundo. Nunca deveria acontecer, tal como nunca deveriam acontecer aqueles vídeos de pancadaria nas ruas ou de bulling entre jovens. É lamentável e acho bem que sejam criminalmente punidos, seja com prisão ou trabalho comunitário.

Vamos então às rescisões. Ver o que os jogadores invocam nas cartas de rescisão, a mim daria para rir não fosse o caso ser tão sério. Não percebo muito bem o que querem os jogadores invocar, parece que querem rescindir por causa do ataque a Alcochete, mas como esse ataque é feito por adeptos que não fazem parte da SAD (entidade empregadora) e que ainda por cima se envolveram em troca de acusações no aeroporto da Madeira, então, na carta de rescisão, tenta-se colar o presidente da SAD, Bruno de Carvalho, aos acontecimentos para que haja justa causa. Dizer que mensagens whatsapp a dizer “temos de ganhar” é uma pressão insustentável, vindo do responsável pelo negócio para um funcionário, parece brincadeira. O post pós atlético? Lendo e relendo o mesmo também não me parece que seja assim tão atentatório da reputação. Que raio!? Um presidente não pode dizer que um jogador jogou mal naquele jogo? Que foi nabo?.. Ao que isto chega. Se o presidente insinuasse que tinham sido pagos para perder, que eram corruptos, era uma coisa! Agora, nabos? Não pode dizer que são nabos? O futebol assim vai mudar, e muito!
Rui Patrício também acha que mudar de treinador a uma semana da final da taça é mais um elemento desestabilizador do plantel. Allô? Mas o clube agora não pode despedir treinadores? Existe data para despedir treinadores?
Para mim, há uma responsabilidade de Bruno de Carvalho sim, mas não é de agora. Não é das mensagens de Janeiro de 2018, Março, Abril ou Maio de 2018. É tão somente ter prometido aos adeptos que em 4 anos ia ganhar dois campeonatos! Ter prometido e à data, terem passado 16 anos sem ganhar!. É ter ido buscar um treinador altamente “inflamável” como Jorge Jesus que fanfarrão como é, também prometeu tudo e mais um par de botas aos adeptos. Andou em constantes trocas de acusações com o rival SLB. Arrastou BdC nessa guerra apenas para proteger o seu ego. Valia tudo para ganhar. Ambos prometeram o mundo e nem uma hortinha arranjaram. Com o barco a afundar JJ deu o fora. Mas antes de dar o fora tratou de garantir que as culpas do seu insucesso são da “conjuntura” e não dele próprio. Não será aquele comunicado dos jogadores após o jogo de Madrid, para mim tão espontâneo como irrefletido e escusado, reflexo da postura de Jorge Jesus?
Estes vendedores de sonhos têm esta consequência, iludem de tal maneira as pessoas que quando as mesmas caem na realidade normalmente não o fazem de forma pacífica. O futebol é um jogo de massas, um jogo de emoções, para o bem e para o mal. É também por isso que gera milhões de euros e que os seus agentes – futebolistas incluídos – ganham rios de dinheiro. Como Rui Patrício diz na sua carta, e bem, o futebol mexe com os “adeptos mais primários”. E por isso todos, mas todos os intervenientes nesta modalidade e sem excepções, têm de ter um comportamento que seja mais de contenção do que de conflito. E os jogadores têm um papel importante nisso. Se fazem ronha em campo – como fizeram no jogo com o marítimo – depois têm também de aceitar a crítica dos adeptos e não responder. Assumir as responsabilidades de um mau jogo, não é virar as costas aos adeptos e fazer gestos jocosos ou responder com bocas. Se Rui Patrício sabe que são primários, então sabe que este tipo de comportamento também não ajuda. Mais depressa este tipo de atitudes descambam em violência do que "post’s" dos presidentes…
Para mim são todos culpados. Num passado longe e recente, Bruno de Carvalho e Jorge Jesus pelos anos a “arranjar lenha” para a fogueira e os jogadores por, no final da temporada terem ido à bomba de gasolina buscar um garrafãozito de 5L de gasolina. Os adeptos foram o fósforo.

Posto isto, até percebo que depois de apanharem na boca, que os jogadores queiram abandonar o clube. Compreendo perfeitamente. Mas uma coisa é querer outra é poder. Existem contratos, também eles para o bem e para o mal. Não consigo por isso perceber que Rui Patrício, sabendo que o clube até aceitou facilitar a sua saída, indicando ao seu agente Jorge Mendes que podia procurar clube, que a 3 meses do fecho do mercado, por o Sporting ter decidido negociar a proposta (algo perfeitamente normal), apresente logo de seguida a carta de rescisão.
O que vejo aqui são os jogadores a querem mudar de vida e a terem a certeza que esta época vão mudar de clube. Independentemente do valor que o SCP vier a receber – porque estou convicto que o vai receber – ser justo ou não e de o SCP se ver privado de ter uma equipa competitiva para o ano. Os jogadores não querem saber disso. Sabem que têm uma cláusula de rescisão alta e que se o SCP exigir o pagamento da mesma, provavelmente não sairão esta época. Com a carta de rescisão o SCP vai ser obrigado a negociar a sua saída. Seja por 2/3 ou ½ do valor da cláusula, mas vai ter de os deixar sair. Não há volta a dar. Se ficassem, provavelmente o rendimento desportivo ia ser baixo e nunca saberemos se os adeptos perdoariam as cartas de rescisão. Resumindo, os jogadores com a carta garantiram que vão-se embora do clube. Seja de que forma for.

Também não tenho a mínima dúvida que caso o Sporting não estivesse em "guerra civil" muito provavelmente os empresários dos jogadores não viam aqui a oportunidade de ouro de ganhar boas comissões.
Todo este processo movido por Jaime Marta Soares parece-me em má altura. Com esta tempestade no futebol o melhor seria deixar passar. Deixar Bruno de Carvalho assumir a responsabilidade de resolver o problema que criou - deixá-lo a imolar-se - e para o ano, caso as coisas continuassem neste estado, então sim tentar retirá-lo do lugar. Assim dá de facto a sensação de Golpe de Estado o que não fica bem à oposição. Correm o risco sério de isto se virar contra eles e acabarem a dar o poder absoluto a Bruno de Carvalho.

Mas isto é típico neste clube. Sempre foi assim. Muitos galos para o poleiro. Resultado em 34 anos, temos dois campeonatos ganhos...

PS – Mas o estilo cáustico de Bruno de Carvalho também trouxe adeptos aos estádios. Não soube bem aos jogadores terem um estádio cheio a apoiar? Ou mesmo nos jogos fora terem uma boa falange de apoio? Não há bela sem senão, temos é de aprender a viver com ela.