Não tenho tido muito tempo para
dedicar ao blog, ainda assim não posso deixar de registar no mesmo este triste
episódio do tempo em que o cidadão Passos Coelho não foi assim muito (ou nada)
perfeito.
Primeiro: Ouvi muitos comentadores laranjinhas dizer que "certamente o povo não exige um cidadão perfeito". Não sei o que isto quer dizer. Que pode bater na
mulher, na mãe e na avó? Ou que não faz a separação dos lixos? Para mim, o
cargo de primeiro-ministro não deveria estar ao alcance de todos, caso
contrário caímos na ditadura da democracia segundo Platão em que corremos o
risco de ser governados por gente mais bruta do que nós. Por isso, para mim,
humilde cidadão(do povo) cumpridor, o primeiro-ministro deve ser um cidadão exemplar. Eu exijo-o.
Segundo: A questão será cidadão exemplar ou contribuinte exemplar?
Como já disse anteriormente não me agradaria saber que o “meu”
primeiro-ministro era uma besta como pessoa, mas ser um mau contribuinte é para
mim tão anedótico que nem sequer me concebe tal pensamento na cabeça. Então um
dirigente que rege os destinos de um país, supostamente solidário, que cobra
impostos para ter um estado social, depois ele próprio não cumpre? Não dá o
exemplo? Com que lata vai dizer para a Alemanha que vai cobrar mais impostos,
quando ele próprio não os paga? Que imagem dá ele do país perante entidades
externas, investidores e dirigentes de outros países? Eu, se fosse uma dessas
entidades, quando a Dr.ª Maria Luís Albuquerque me viesse mostrar as medidas de
contenção orçamental com subida de impostos, atiraria logo a “boquinha”: “mas
isso é para pagar ou é só para entidade externa ver? O seu primeiro-ministro
vai pagar?”.
Terceiro: Aqui reside, para mim,
o pior disto tudo. O escabroso, o podre, o mesquinho e infelizmente o cerne da
questão. Coelho sabia das dívidas. Segundo ele contraiu-as por dificuldades
financeiras entre 1999 e 2004. Mas depois disso já não teve dificuldades
financeiras e mesmo assim não as regularizou. Tendo informação privilegiada, de
fonte política, que a Segurança Social funcionava mal, decidiu deliberadamente
não pagar pois sabia que o mais certo era a entidade não conseguir detectar e
cobrar em tempo útil. Pior, desde 2012
que um jornalista tinha chamado a atenção para este facto e ameaçado colocar nos jornais e mesmo assim, recebendo 10mil
euros por mês do Estado Português - esse pulha que cobra impostos por tudo e
por nada a qualquer cidadão passe ou não por dificuldades – manteve a sua posição e recusou pagar os
7mil euros em dívida. Era um mês de vendimento Sr. Ministro, era esse o sacrifício que tinha de fazer. Um mês!!
No entanto só o fez em fevereiro de 2015, quando a notícia chega à
praça pública. É lamentável, vergonhoso, uma canalhice, imoral, irresponsável,
golpista e totalmente incompatível com o cargo de primeiro-ministro de um país
que se quer apresentar ao mundo como desenvolvido.
Para mim, como humilde cidadão do povo é motivo de vergonha nacional. Só mesmo
neste pedaço de terra é possível que, depois de se saber que a figura máxima de
um governo, que trabalha para uma entidade que ele próprio não respeita, se
possa manter no cargo como se nada se tivesse passado. Não há palavras.
Quanto ao Presidente da República
e ao facto de tentar fazer disto um caso político, em vez de Social e de
Estado, só posso compreender por senilidade e partidarismo. Deu uma
triste imagem de si, é verdade, mas vive bem com isso, algo a que também já
estamos habituados.