Pesquisa

terça-feira, 31 de março de 2015

As trapaças do Coelho

Não tenho tido muito tempo para dedicar ao blog, ainda assim não posso deixar de registar no mesmo este triste episódio do tempo em que o cidadão Passos Coelho não foi assim muito (ou nada) perfeito.

Primeiro: Ouvi muitos comentadores laranjinhas dizer que "certamente o povo não exige um cidadão perfeito". Não sei o que isto quer dizer. Que pode bater na mulher, na mãe e na avó? Ou que não faz a separação dos lixos? Para mim, o cargo de primeiro-ministro não deveria estar ao alcance de todos, caso contrário caímos na ditadura da democracia segundo Platão em que corremos o risco de ser governados por gente mais bruta do que nós. Por isso, para mim, humilde cidadão(do povo) cumpridor, o primeiro-ministro deve ser um cidadão exemplar. Eu exijo-o.

Segundo: A questão será cidadão exemplar ou contribuinte exemplar? Como já disse anteriormente não me agradaria saber que o “meu” primeiro-ministro era uma besta como pessoa, mas ser um mau contribuinte é para mim tão anedótico que nem sequer me concebe tal pensamento na cabeça. Então um dirigente que rege os destinos de um país, supostamente solidário, que cobra impostos para ter um estado social, depois ele próprio não cumpre? Não dá o exemplo? Com que lata vai dizer para a Alemanha que vai cobrar mais impostos, quando ele próprio não os paga? Que imagem dá ele do país perante entidades externas, investidores e dirigentes de outros países? Eu, se fosse uma dessas entidades, quando a Dr.ª Maria Luís Albuquerque me viesse mostrar as medidas de contenção orçamental com subida de impostos, atiraria logo a “boquinha”: “mas isso é para pagar ou é só para entidade externa ver? O seu primeiro-ministro vai pagar?”.

Terceiro: Aqui reside, para mim, o pior disto tudo. O escabroso, o podre, o mesquinho e infelizmente o cerne da questão. Coelho sabia das dívidas. Segundo ele contraiu-as por dificuldades financeiras entre 1999 e 2004. Mas depois disso já não teve dificuldades financeiras e mesmo assim não as regularizou. Tendo informação privilegiada, de fonte política, que a Segurança Social funcionava mal, decidiu deliberadamente não pagar pois sabia que o mais certo era a entidade não conseguir detectar e cobrar em tempo útil. Pior, desde 2012 que um jornalista tinha chamado a atenção para este facto e ameaçado colocar nos jornais e mesmo assim, recebendo 10mil euros por mês do Estado Português - esse pulha que cobra impostos por tudo e por nada a qualquer cidadão passe ou não por dificuldadesmanteve a sua posição e recusou pagar os 7mil euros em dívida. Era um mês de vendimento Sr. Ministro, era esse o sacrifício que tinha de fazer. Um mês!!
No entanto só o fez em fevereiro de 2015, quando a notícia chega à praça pública. É lamentável, vergonhoso, uma canalhice, imoral, irresponsável, golpista e totalmente incompatível com o cargo de primeiro-ministro de um país que se quer apresentar ao mundo como desenvolvido.

Para mim, como humilde cidadão do povo é motivo de vergonha nacional. Só mesmo neste pedaço de terra é possível que, depois de se saber que a figura máxima de um governo, que trabalha para uma entidade que ele próprio não respeita, se possa manter no cargo como se nada se tivesse passado. Não há palavras.

Quanto ao Presidente da República e ao facto de tentar fazer disto um caso político, em vez de Social e de Estado, só posso compreender por senilidade e partidarismo. Deu uma triste imagem de si, é verdade, mas vive bem com isso, algo a que também já estamos habituados.