“DITOS E ACHADOS” - ERNÂNI
LOPES
(Da Revista do Expresso de 3 de Nov
de 2012)
Negociou a adesão de Portugal
à CEE e discutiu com o FMI a austeridade da década de oitenta, como ministro
das Finanças do Governo do Bloco Central (1983/85).
Em 2006, já após uma fase
de tratamento do linfoma detectado no ano anterior, dá uma entrevista ao
jornalista Virgílio Azevedo….Ao Expresso fala abertamente da enfermidade, uma
atitude rara em Portugal.”A doença foi, a nível espiritual, uma das maiores
bênçãos de Deus que tive na minha vida, porque há um aprofundamento da vida
religiosa e da dimensão espiritual”.
A naturalidade com que se
refere a questões pessoais é, afinal, a mesma que o economista sempre usou para
falar da coisa pública. Muitas declarações, de desassombro, mais pareciam fantasia
– o tempo encarregar-se-ia de as tornar antecipações da realidade.
Em 2000, afirmou: ”Os
portugueses estão convencidos de que deixaram de ser pobres. É uma ilusão
perigosa.”
Em 2009, fazia um balanço
negro. “Esta década revelou-se um registo muito pobre da vida portuguesa. É uma
década sem garra, sem ideias, sem verdade, sem força, sem lucidez, sem
substância, sem densidade política.”
Mais recentemente, em
2010, dizia com desencanto: “Quando fechei o programa com o FMI, jamais me
passou pela cabeça que voltasse a haver uma situação como a de hoje.” Rematava
com ironia: “Quem estava errado era eu.”
Talvez estivesse mesmo,
porque ao seu programa (político, económico, cívico, ético), proferido num
discurso de apresentação do Governo, muitos fizeram orelhas moucas: “É preciso valorizar o trabalho e não o
golpismo, a honradez e não o oportunismo, o espírito de competição e não o
privilégio, o lucro legítimo e não a ganância especuladora ou a caça ao subsídio.”
Ernâni Lopes, o homem que
deu a cara nas horas difíceis, morreu a 2 de Dezembro de 2010.
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