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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O negócio ANA

Com tanto “comentadeiro” a elogiar a concessão da ANA, forcei-me a ir ver o relatório de contas da empresa para perceber qual o negócio que o estado estava a fazer. Vou expor aqui alguns dados que me parecem importantes, depois cada um faça o seu juízo.
1.º O estado não vendeu por 3,08 mil milhões de euros. Se parte desse valor é para abater a dívida que a empresa tinha, ou seja entregar a empresa ao privado sem dívidas, então o privado comprou-a por menos, pois leva a empresa completamente montada a laborar, sem qualquer dívida. Considerando que o relatório de contas de 2011 indicava que a dívida era de 696.275.000euros, então o Estado vendeu por 2.383.725.000euros. Era importante que a comunicação social não alinhasse com o governo neste aparente “sucesso” de venda da ANA, e comunicasse o real valor da venda:2,383mil milhões em vez dos 3,080.
2.º O resultado líquido da empresa em 2011 foi de 76.525.000,00euros(1). No entanto a empresa suportou o pagamento de 21.743.000,00euros(2) de juros (coisa que o privado já não vai ter de pagar). Assim, e tendo em consideração que mesmo nos últimos anos de crise o tráfego aéreo tem registado crescimento, é expectável que para os anos seguintes a empresa consiga pelo menos resultados semelhantes, o que implica que, com a empresa livre de empréstimos, o resultado líquido suba para 98.268.000,00euros(1+2).
3.º Ora bem, extrapolando o valor anterior para 50 anos, o privado no final da concessão ganhou 4.913.400.000,00euros. Ou seja, subtraindo os 3,08mil milhões, o privado vai ficar qualquer coisa como 1,833mil milhões de euros mais rico.
4.º Como a ANA no ano de 2011 registou um crescimento de 4% do volume de negócios, o lucro referido anteriormente terá tendência a aumentar.
5.º Como ontem ouvi o secretário de estado dos transportes, em entrevista ao José Rodrigues dos Santos, dizer que estava previsto que para o ano o privado pudesse aumentar até 14% as taxas aeroportuárias, o lucro do privado subirá rapidamente para 2,521mil milhões. Se todos os anos houver aumentos de taxas, então aí o lucro torna-se difícil de contabilizar.
6.º Ninguém referiu se no final do contrato de concessão o privado tem obrigação de entregar a ANA sem dívidas ao estado, tal como o estado o fez agora. E que garantias serão dadas para que esse requisito seja cumprido.

Ou seja é um óptimo negócio para quem tem dinheiro, ou para quem se financia a taxas de juro muito baixas. Por isso é que os grupos portugueses não conseguiram ganhar.
Poderia ser um mau negócio se o privado tivesse que construir um novo aeroporto a suas expensas, mas como este mesmo privado, é o mesmo da Lusoponte, que supostamente não custava 1cêntimo ao estado e já custou quase 900milhões de euros, é de prever que quando for necessário investir, o estado vai ser simpático e vai renegociar, com prejuízo para os contribuintes, o contrato de concessão. Creio que foi essa a grande vantagem do grupo Vinci para vencer o concurso, saber de experiência própria, que os contratos de concessão em Portugal não são para cumprir.
Outra coisa que me assustou foi ouvir o secretário de estado dizer que se pretendia convergir as taxas aeroportuárias para as médias europeias, por isso o aumento já para o ano de 14%. O problema é que são só as taxas que convergem, a riqueza do país afasta-se da média europeia a velocidades galopantes. É que os aeroportos portugueses serviriam supostamente, para nós, portugueses e as nossas empresas os utilizarem. Não servem só, ou não deviam servir só, para os estrangeiros poisarem no nosso país. Mas enfim, isto é a minha mente pequenina e bacoca a pensar. Os grandes políticos, essa nova classe emergente denominada Relvite Portuguesa, esses que nunca conheceram o verdadeiro conceito da palavra trabalho, é que sabem o que é bom para o país.

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