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domingo, 11 de novembro de 2012


Produtividade ou Privatização

Recentemente ouvi na televisão uma jornalista perguntar a um membro do governo qualquer coisa como: se determinado organismo público não é tão produtivo, porque é que não se enveredam esforços no sentido de o tornar mais produtivo em vez de se optar por privatizar.
A resposta foi: (mais coisa menos coisa), postas as coisas assim faz todo o sentido, mas é precisamente isso que defendemos, que determinado serviço seja prestado por quem consegue fazer melhor com menos custos para o Estado. Não importa se é público ou privado, o importante é escolher o mais eficiente, o que faça melhor com menos.
Devo dizer que para mim também faz todo o sentido, não me importa se determinado serviço  é público ou privado, o que me importa é que seja bom e que não custe mais do que o necessário.
O que me faz realmente confusão é o Estado desistir de fazer tão bem, ou melhor, do que qualquer privado. Se fosse numa área no qual o Estado não tivesse qualquer experiência, por exemplo, o Estado não tem experiência no negócio do calçado, percebo que teria dificuldade em fazer tão bem quanto alguns privados, mas nas áreas em que o estado tem uma vasta experiência é difícil de perceber.
Mas o que é isso da produtividade?
Quem é mais produtivo? O que ganha mil, ou o que ganha dois mil?
Comecemos pelo princípio básico:
Um empregado que ganhe mil euros custa á empresa, esses mil euros mais a TSU (neste exemplo, seria mais 237.50€, mais o espaço que ocupa nas instalações da empresa (a sua quota parte na área total dos escritórios onde trabalha), mais equipamentos, água, luz, economato e outros gastos.
Feitas as contas, vamos supor que custa ao todo 1500 euros á empresa, isso significa que se produzir esse montante por mês, não dá prejuízo á empresa, mas também não dá lucro. Uma empresa que só tenha este tipo de funcionários não é sustentável, pois não gera lucros para crescer, nem para fazer frente a situações inesperados, difíceis e complicadas.
Mas não se pode medir a produtividade de uma empresa apenas por este rácio. Vamos supor que economistas determinam que para um funcionário ser produtivo precisa de produzir pelo menos mais 50% do que o seu salário. Ora isso por si só não chega para determinar se uma empresa é muito ou pouco produtiva. Vejamos os seguintes exemplos, uma empresa com cem trabalhadores cujo vencimento médio é de 500 euros e que todos os empregados cumprem o rácio de produzir mais 50% do que ganham, e outra empresa, também com cem trabalhadores, mas cujo vencimento médio seja de dois mil euros e que também produzam todos 50% mais do que ganham. É fácil de perceber que a segunda empresa é bem mais produtiva (e rentável) que a primeira, pois 50% de dois mil é significativamente mais do que 50% de 500.
Mas todos sabemos que uma decisão de topo pode afectar significativamente a produtividade de todos os trabalhadores quer essa decisão seja uma boa ou uma má decisão.
O facto é que há uma ideia generalizada que a função pública é pouco produtiva, ou até mesmo, improdutiva. Essa ideia tem vindo a ganhar força ultimamente.
Mas se quem faz as empresas são as pessoas, então se uma determinada empresa pública ou organismo público (instituto, hospital, tribunal, etc) tiver gente capaz porque é que não há-de ser produtiva?
Uma boa gestão caracteriza-se fundamentalmente por dois princípios básicos:
- Bom senso
- Fazer mais com menos
É precisamente neste segundo paradigma que muitas vezes falha a gestão pública, o que contribui para reforçar a ideia de menor produtividade.
Se um gestor público consegue fazer bem com menos tem como principal prémio ver o seu orçamento do ano seguinte encolher, e o mais certo é esse montante ir engordar o orçamento de quem não teve um desempenho tão meritoso.
Digamos que há um claro convite á não poupança. Apesar de tudo, este mau princípio de gestão é, relativamente, muito mais fácil de corrigir do que ter que pegar num grupo de trabalhadores pouco capazes e com pouco know-how e torna-los mais eficientes e produtivos.
Mas vejamos um exemplo bem elucidativo desta questão público versus privado.
Já ouvi relatos da situação que passo a descrever, quer em relação ao público quer em relação ao privado.
Fulano tal deslocou-se ao hospital por qualquer problema e pediram-lhe que fizesse um determinado número de análises clínicas.
Semanas depois (não meses) voltou a deslocar-se ao mesmo hospital, por outro problema, foi visto por outro médico e voltam a pedir-lhe que faça um determinado número de análises clínicas.
Muitos das análises que lhe foram pedidas eram coincidentes. Faz muito pouco ou mesmo nenhum sentido pedir para fazer determinada análise ao sangue quando a mesma foi feita duas ou três semanas antes e o resultado pode ser facilmente consultado.
Para o hospital privado, quantas mais análises fizer melhor, mais receitas.
Para o hospital público, desde que haja verbas, o importante é a saúde do paciente.
A questão fundamental neste exemplo é que é perfeitamente possível (e até desejável) fazer melhor com menos, ou pelo menos, fazer tão bem com menos.
Acredito que nem sempre seja possível, mas se houver esse cuidado, e se se conseguir poupar nos gastos desnecessários sem por em causa os objectivos a alcançar, então talvez se passe a olhar para a gestão pública de outra maneira.
A gestão privada tem por principal objectivo o lucro. A gestão pública tem por principal objectivo a prestação de um serviço público, mas é fundamental assumir de forma rápida e generalizada que esse serviço público deve ser prestado de forma eficiente, aproveitando ao máximo os recursos disponíveis, sempre tendo por base que a sua fonte de recursos são os impostos provenientes do trabalho dos contribuintes. 
Só assim se conseguirá manter o Estado Social.
Para um país o que realmente importa não é se uma escola dá lucro, ou um hospital.
A diferença reside na capacidade da escola em formar bem os seus alunos e ajudar a prepará-los melhor para os desafios futuros. O mesmo em relação ao hospital, o que realmente importa é que trate de forma adequada e eficiente os seus pacientes.
Em ambos os casos, fazer bem e sem desperdícios.
Quer seja público ou privado, é preciso ter funcionários competentes. Não me parece que a diferença esteja na designação social: Público ou Privado.
A questão fundamental é saber se o Estado está disposto a fazer mais e melhor com menos.
Quanto a mim, prefiro sempre ter “uma pessoa de bem” a gerir serviços públicos fundamentais.

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