Austeridade e privilégios
«[...] O primeiro-ministro, se ainda possui alguma réstia de
dignidade e de moralidade, tem de explicar por que é que os magistrados
continuam a não pagar impostos sobre uma parte significativa das suas
retribuições; tem de explicar por que é que recebem mais de sete mil euros por
ano como subsídio de habitação; tem de explicar por que é que essa remuneração
está isenta de tributação, sobretudo quando o Governo aumenta asfixiantemente
os impostos sobre o trabalho e se propõe cortar mais de mil milhões de euros
nos apoios sociais, nomeadamente no subsídio de desemprego, no rendimento
social de inserção, nos cheques-dentista para crianças e — pasme-se — no
complemento solidário para idosos, ou seja, para aquelas pessoas que já não
podem deslocar-se, alimentar-se nem fazer a sua higiene pessoal.
O primeiro-ministro terá também de explicar ao país por que
é que os juízes e os procuradores do STJ, do STA, do Tribunal Constitucional e
do Tribunal de Contas, além de todas aquelas regalias, ainda têm o privilégio
de receber ajudas de custas (de montante igual ao recebido pelos membros do
Governo) por cada dia em que vão aos respetivos tribunais, ou seja, aos seus
locais de trabalho.
Se o não fizer, ficaremos todos, legitimamente, a suspeitar
que o primeiro-ministro só mantém esses privilégios com o fito de, com eles,
tentar comprar indulgências judiciais.»
Sem comentários:
Enviar um comentário