Há uns tempos, no âmbito do zunzum que se criou com as portagens nas scut, fiz um pequeno exercício de estudo do belo negócio das PPP e da falácia que são as SCUT. Nada melhor que trazer o assunto novamente à baila numa altura em que os impostos voltam a subir, deixando estes negócios protegidos de qualquer assalto.
O meu estudo incidiu na empresa Scutvias da concessão da beira interior criada em 1999 (por ser a que melhor conheço).
Apraz dizer que não sou especialista financeiro, nada que se pareça, mas sei o suficiente para encarar estes relatórios, como um cozinhado de números. Porque, se é verdade que a matemática não engana (2+2=4), já os relatórios com números, ou como eu gosto de dizer “escrita com números”, pode dar largas à imaginação ou “preparar”, ou “explanar” resultados que interessem à 1) administração, 2) accionistas, 3) credores.
Ainda antes de passarmos aos números, de referir que o estado paga à concessão por previsão, algo que não consigo admitir numa empresa que depende quase exclusivamente das receitas do estado. Assim a empresa tem apenas duas em vez de 18x2 células fotoeléctricas... Ou seja, só existe 1 ponto de medição de viaturas, que é no túnel do Marão. Tudo o resto é previsão… Qualquer utente da A23 percebe que entre Castelo Branco e Torres Novas o trânsito é 3x superior ao trânsito registado entre Castelo Branco e Guarda. Mas a previsão não diz isso.
Aliás coloca o túnel muito pouco atrás do troço de Abrantes: ridículo.
Vamos aos números. Proveitos anuais da concessão 2008: 116.175.412,50€. Custos operacionais, incluindo amortização do empréstimo: 55.183.186,99€. Extrapolando o valor em dívida e a amortização para o final do ano de2011, a empresa deve no final de 2011+/- 684.340.475,52€ a pagar em “suaves” prestações anuais de 46.065.000,00€.
Vamos aos números. Proveitos anuais da concessão 2008: 116.175.412,50€. Custos operacionais, incluindo amortização do empréstimo: 55.183.186,99€. Extrapolando o valor em dívida e a amortização para o final do ano de
Dos proveitos referidos anteriormente, 113.226.675,65€ vêm directamente do ESTADO “via previsão”. Isto significa que o ESTADO, se nacionalizasse agora a empresa SCUTVIAS e assumisse o passivo e os custos operacionais totalizando os 55.183.185,99€/ano, pouparia 1.102.826.284,54€ nos próximos 19 anos. Se nunca tivesse assinado o contrato de concessão teria poupado em 30anos 1.741.304.659,80€. Mas como o estado paga 113.226.675,65€ e os custos, incluindo a prestação do empréstimo “só” custam 55.183.186,99€, significa que a empresa tem um lucro só à custa do estado de 58.043.488,66€. Ou seja além do estado pagar tudo, ainda dá este extra para a empresa dividir pelos seus accionistas e os 12 administradores de uma empresa com 96 trabalhadores.
Isto não é má gestão, para mim, é roubo. E não me interessa que venham dizer que o empreendimento foi lançado no tempo do Cavaco, explorado no tempo do Guterres, consentido no tempo do Durão e Sócrates e que agora Sr. Vítor Gaspar resolva parte do problema roubando ainda mais aos cidadãos.
Lamento que os portugueses que não utilizam estas vias-rápidas, sacudam a água do capote e digam: quem utilize que pague, esquecendo-se que durante 11 anos já andou a pagar este roubo. E que daqui para a frente quando lá passar e pagar, ainda vai ser roubado mais um bocadinho.
Não sei o custo final da obra de 178km. Mas o projecto inicial rondava os 890milhões de euros. Admito que tenha resvalado, por isso dou de barato o valor da amortização, mas não posso deixar passar a diferença do que o ESTADO paga com o custo.
Não sei o custo final da obra de 178km. Mas o projecto inicial rondava os 890milhões de euros. Admito que tenha resvalado, por isso dou de barato o valor da amortização, mas não posso deixar passar a diferença do que o ESTADO paga com o custo.
Sr. Ministro Gasparzinho, as “gorduras” de que tanto falava são estas e muitas outras que por aí há. Não são os vencimentos superiores a 1000 euros dos funcionários ou a “maldita” TSU.
Considerando que estão inscritos no orçamento de estado para 2013, 15,4 mil milhões de euros para as PPP, se todas tiverem o mesmo “lucro” que esta, pelos valores que o estado paga, quer dizer que desses 15,4milhões, 7,7 mil milhões é lucro puro para distribuir por amigalhaços. Ou seja o ESTADO se quisesse e houvesse vontade para tal, poderia poupar 7,7mil milhões, sem colocar em causa o cumprimento dos empréstimos dos investidores nas PPP.
Esses 7,7milhões, Gasparzinho, fariam que não tivesse que proceder ao “enorme” aumento de impostos, que não só vai contrair mais a economia, como está a traumatizar os consumidores e investidores, que vão gastar menos, fazendo cair a receita do estado, criando mais desemprego, logo mais prestações sociais.
Vai chegar o dia, em que não vai haver dinheiro para as PPP, o problema é que quando esse dia chegar já o povo está de rastos, tal como o país, e sem hipótese de se erguer. Mas uma coisa Eu garanto-lhe, se surgir algum radical que se candidate com o slogan “vamos buscar os políticos dos últimos 40 anos, responsáveis pela actual situação do país e torturá-los publicamente até à morte”, Eu voto nele. Porque é o que os senhores merecem.
Sem comentários:
Enviar um comentário