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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Elas (gorduras) andam aí…

Há uns tempos, no âmbito do zunzum que se criou com as portagens nas scut, fiz um pequeno exercício de estudo do belo negócio das PPP e da falácia que são as SCUT. Nada melhor que trazer o assunto novamente à baila numa altura em que os impostos voltam a subir, deixando estes negócios protegidos de qualquer assalto.
O meu estudo incidiu na empresa Scutvias da concessão da beira interior criada em 1999 (por ser a que melhor conheço).
Apraz dizer que não sou especialista financeiro, nada que se pareça, mas sei o suficiente para encarar estes relatórios, como um cozinhado de números. Porque, se é verdade que a matemática não engana (2+2=4), já os relatórios com números, ou como eu gosto de dizer “escrita com números”, pode dar largas à imaginação ou “preparar”, ou “explanar” resultados que interessem à 1) administração, 2) accionistas, 3) credores.
Ainda antes de passarmos aos números, de referir que o estado paga à concessão por previsão, algo que não consigo admitir numa empresa que depende quase exclusivamente das receitas do estado. Assim a empresa tem apenas duas em vez de 18x2 células fotoeléctricas... Ou seja, só existe 1 ponto de medição de viaturas, que é no túnel do Marão. Tudo o resto é previsão… Qualquer utente da A23 percebe que entre Castelo Branco e Torres Novas o trânsito é 3x superior ao trânsito registado entre Castelo Branco e Guarda. Mas a previsão não diz isso.
Aliás coloca o túnel muito pouco atrás do troço de Abrantes: ridículo.
Vamos aos números. Proveitos anuais da concessão 2008: 116.175.412,50€. Custos operacionais, incluindo amortização do empréstimo: 55.183.186,99€. Extrapolando o valor em dívida e a amortização para o final do ano de 2011, a empresa deve no final de 2011+/- 684.340.475,52€ a pagar em “suaves” prestações anuais de 46.065.000,00€.

Dos proveitos referidos anteriormente, 113.226.675,65€ vêm directamente do ESTADO “via previsão”. Isto significa que o ESTADO, se nacionalizasse agora a empresa SCUTVIAS e assumisse o passivo e os custos operacionais totalizando os 55.183.185,99€/ano, pouparia 1.102.826.284,54€ nos próximos 19 anos. Se nunca tivesse assinado o contrato de concessão teria poupado em 30anos 1.741.304.659,80€. Mas como o estado paga 113.226.675,65€ e os custos, incluindo a prestação do empréstimo “só” custam 55.183.186,99€, significa que a empresa tem um lucro só à custa do estado de 58.043.488,66€. Ou seja além do estado pagar tudo, ainda dá este extra para a empresa dividir pelos seus accionistas e os 12 administradores de uma empresa com 96 trabalhadores.
Isto não é má gestão, para mim, é roubo. E não me interessa que venham dizer que o empreendimento foi lançado no tempo do Cavaco, explorado no tempo do Guterres, consentido no tempo do Durão e Sócrates e que agora Sr. Vítor Gaspar resolva parte do problema roubando ainda mais aos cidadãos.
Lamento que os portugueses que não utilizam estas vias-rápidas, sacudam a água do capote e digam: quem utilize que pague, esquecendo-se que durante 11 anos já andou a pagar este roubo. E que daqui para a frente quando lá passar e pagar, ainda vai ser roubado mais um bocadinho.
Não sei o custo final da obra de 178km. Mas o projecto inicial rondava os 890milhões de euros. Admito que tenha resvalado, por isso dou de barato o valor da amortização, mas não posso deixar passar a diferença do que o ESTADO paga com o custo.
Sr. Ministro Gasparzinho, as “gorduras” de que tanto falava são estas e muitas outras que por aí há. Não são os vencimentos superiores a 1000 euros dos funcionários ou a “maldita” TSU.
Considerando que estão inscritos no orçamento de estado para 2013, 15,4 mil milhões de euros para as PPP, se todas tiverem o mesmo “lucro” que esta, pelos valores que o estado paga, quer dizer que desses 15,4milhões, 7,7 mil milhões é lucro puro para distribuir por amigalhaços. Ou seja o ESTADO se quisesse e houvesse vontade para tal, poderia poupar 7,7mil milhões, sem colocar em causa o cumprimento dos empréstimos dos investidores nas PPP.
Esses 7,7milhões, Gasparzinho, fariam que não tivesse que proceder ao “enorme” aumento de impostos, que não só vai contrair mais a economia, como está a traumatizar os consumidores e investidores, que vão gastar menos, fazendo cair a receita do estado, criando mais desemprego, logo mais prestações sociais.
Vai chegar o dia, em que não vai haver dinheiro para as PPP, o problema é que quando esse dia chegar já o povo está de rastos, tal como o país, e sem hipótese de se erguer. Mas uma coisa Eu garanto-lhe, se surgir algum radical que se candidate com o slogan “vamos buscar os políticos dos últimos 40 anos, responsáveis pela actual situação do país e torturá-los publicamente até à morte”, Eu voto nele. Porque é o que os senhores merecem.

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