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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013


O conhecimento e a sabedoria.


O desenvolvimento das sociedades, e em última análise do “homem”, sempre estiveram diretamente relacionadas com “o desenvolvimento tecnológico”.
Claro que não basta termos cada vez mais conhecimento, é preciso também termos a sabedoria de como o devemos utilizar.
O domínio do conhecimento e da sabedoria foi o que permitiu que algumas sociedades se desenvolvessem mais do que outras.
Li recentemente um livro de um professor catedrático em física teórica, em que dizia que estamos a poucos anos, provavelmente a algumas décadas, de passar do nível 1 para o nível 2. O autor classificou o desenvolvimento em 4 níveis, e dizia que estamos a um pequeno passo de passar para o nível seguinte. Dizia que esse desenvolvimento podia ser medido pelo consumo energético. Dizia, por exemplo, que hoje o mundo está em constante comunicação, pessoas de um lado do planeta comunicam com outras, do outro lado. E que o maior obstáculo a esse passo no nosso desenvolvimento vinha de nós próprios. Depreendi que se referia a uma eventual guerra mundial, com utilização de armas de destruição maciça.
Não consegui deixar de pensar que se o nível 1 vai desde o homem das cavernas até daqui a algumas décadas, como será o nível 2, o 3 e o 4.
Vivemos num época em que na agricultura moderna, um agricultor produz num ano o suficiente para o consumo anual de 98 pessoas (1 para 98). Visto no filme “Food Inc”.
Claro que isto só é possível de alcançar em alguns terrenos de enorme extensão, mas o que pretendo sublinhar é a tecnologia que já existe.
Nas frotas pesqueiras modernas encontramos barcos que detetam cardumes a milhas de distância, que lançam enormes redes para o apanhar e que têm capacidade de conservação durante o transporte. Pergunto-me se já haverá barcos que funcionem como verdadeiras fábricas ambulantes, que preparem o pescado, o embalem e congelem…
Quem nunca viu um documentário de uma fábrica de determinada indústria a produzir milhares de produtos em série quase sem intervenção humana? A automação é uma presença constantes nas fábricas modernas, e a robótica nas de topo.
Chegamos a este nível de desenvolvimento, 50 anos depois de termos pisado a Lua.
Já descodificamos o genoma humano, cada vez mais se ouvem notícias sobre a descoberta de novos planetas e galáxias (a milhões de anos-luz de distância), ou sobre o prolongamento do tempo médio de vida, ou do famoso Bosão de Higgs, etc.
E no entanto, continua a haver muita pobreza e miséria, até no país mais rico e desenvolvido do mundo.
Referindo-me em concreto a Portugal, pergunto, como é possível alguém trabalhar 40 horas por semana e levar para casa menos de 500 Euros por mês?
Com o custo de vida que temos atualmente é impossível alguém viver condignamente com esse valor, que é superior ao salário mínimo.
Então poderá dizer-se que hoje em dia, com o desenvolvimento tecnológico que já atingimos, há quem trabalhe 8 horas por dia e não ganhe o suficiente para viver com um mínimo de conforto e dignidade.
Será legítimo concluir que em Portugal a tecnologia não está a servir os interesses do homem?
Claro que poderá estar a servir os interesses de alguns, mas o que se desejava é que servisse minimamente os interesses de todos, e que depois servisse melhor os interesses dos que mais contribuem para o progresso e para a criação de riqueza.
Qual é a lógica de se penalizar alguém por fazer um trabalho que exija poucas qualificações, mas que ainda não pode ser feito por uma máquina e que é necessário?
O desenvolvimento tecnológico não devia servir para melhorar a qualidade de vida de todos?
Faz sentido que nos dias de hoje, 30% da população portuguesa viva nos limiares da pobreza?
Faz sentido que quase 17% da população com idade para trabalhar e querendo-o, não consiga arranjar trabalho, para se poder sustentar e ter um projeto de vida.
Não consigo deixar de pensar que algo tem que estar errado. Como é possível termos atingido um nível de desenvolvimento tão significativo e ainda haver tanta gente a viver mal?
Confesso que estranho que se fale tão pouco sobre esta matéria, que não se procure em conjunto respostas para perguntas como estas:
O país consegue produzir mais riqueza de modo a oferecer a todos os seus cidadãos, o mínimo de qualidade de vida aceitável?
O país tem gente a mais para a sua capacidade de produzir riqueza? Qual a dimensão adequada para a nossa dimensão geográfica e para a nossa capacidade de produzir riqueza?
Quais são os recursos que podemos explorar melhor?
Que caminho devemos seguir?
Queremos ser uma nação, ou antes uma fronteira?
Gostaria que estas e outras questões fossem discutidas, quer pela classe política quer pelos cidadãos interessados.
Claro que as questões de curto prazo são extremamente importantes, como por exemplo, a questão do estado social que pretendemos, mas isso só faz verdadeiramente sentido se for integrado em algo mais amplo, num objetivo comum que nos defina enquanto nação e que nos oriente (e motive) para metas comuns.
Quem melhor que um governo para liderar este processo, com a colaboração da oposição e da sociedade civil?
Sem isso, será sempre o “cada um por si”, e o, “safe-se quem puder”.

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