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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013


Neste país, há muitas Mulheres como a mãe do Nuno Barradas, e muitos Homens também, que em nada contribuíram para a crise que Portugal atravessa, antes pelo contrário.
Também por isso, publico aqui o texto na íntegra, tal como o recebi.


MENSAGEM DE RETRIBUIÇÃO AO PEDRO E À LAURA
por Nuno Barradas a Quinta-feira, 27 de Dezembro de 2012 às 16:08 ·

Caro Pedro,
Antes de mais os meus sinceros agradecimentos pela amabilidade que tiveste em prescindir dos poucos momentos em que não tens que carregar o país às costas, para pensar um pouco em nós e nos nossos natais.
Retrataste com a clarividência de poucos a forma penosa como atravessamos esta quadra que deveria ser de alegria, amor e união. És de facto um ser iluminado e somos sem dúvida privilegiados em ter ao leme da nossa nau um ser humano de tão refinada cepa.
Gostava também de ser interlocutor de alguém que queria aproveitar o espírito de boa vontade que a quadra proporciona para te pedir sinceras desculpas…a minha mãe.
A minha mãe é uma senhora de 70 anos, que usufruindo de uma escandalosa pensão de mil e poucos euros, se sente responsável pelo miserável natal de todos os seus concidadãos. Ela não consegue compreender onde falhou, mas está convicta de que o fez…doutra forma não terias afirmado o que afirmaste. Tentarei resumir o seu percurso de vida para que nos ajudes a identificar a mácula.
A minha mãe nasceu em Alcácer do Sal começou a trabalhar com 12 ou 13 anos…já não se recorda muito bem. Apanhava ganchos de cabelo num salão de cabeleireiro, e simultaneamente aprendia umas coisas deste ofício. Casou jovem e mudou-se para a cidade em busca de melhor vida. Sem opções de emprego a minha mãe nunca se acomodou e fazia alguns trabalhos de cabeleireira ao domicílio…nunca se queixou…foi mãe jovem e sempre achou que por esse facto era a mulher mais afortunada do mundo. Arranjou depois emprego num refeitório de uma grande fábrica. Nunca teve qualquer tipo de formação mas a cozinha era a sua grande paixão.
Depois de alguns anos no refeitório aventurou-se no seu grande sonho…ter um negócio próprio de restauração. Quis o destino que o sonho se concretizasse no ano de 1974… lembras-te 1974? O ano em que te tornaste livre? Tinhas o quê? 10 anos?
Pois é…o sonho da minha mãe tem a idade da democracia.
O sonho nasceu pequeno, com pouco mais de 3 ou 4 colaboradoras. Com muita dificuldade, muito trabalho e muitas noites sem dormir foi crescendo e chegou a dar trabalho a mais de 20 pessoas. A minha mãe tem a 4ª classe.
Tu já criaste empregos Pedro? Quer dizer…criar mesmo…investir e arriscar o que é teu… telefonemas para o Relvas a pedir qualquer coisa para uma amiga da Laura não conta como criar emprego. A minha mãe criou…por isso ela não compreende muito bem onde errou. Tudo junto tem mais de 40 anos de descontos para a segurança social. Sempre descontou aquilo que a lei lhe exigia. A lei que tu e outros como tu…gente de tão abnegada dedicação, se entretém a escrever, reescrever, anular, modificar…enfim…trabalhos de outra grandeza que ela não compreende mas valoriza.
Pois como te digo, a minha mãe viu passar o verão quente, os tempos do desenvolvimento sem paralelo, o fechar de todas as fábricas da região, os tempos do oásis, as várias intervenções do FMI, as Expos, os Euros, do futebol e da finança…e passou por isto tudo sempre a trabalhar como se não houvesse amanhã. A pagar impostos todos os meses e todos os anos. IVA, IRC, IRS, IMI, pagamentos por conta, pagamentos especiais por conta, por ter um toldo, por ter a viatura decorada, por ter cão, de selo, de circulação, de radiodifusão…não falhando um único desconto para a sua reforma, não falhando um único imposto. E viu chegar as condicionantes da idade avançada sem lançar um queixume. E foi resolvendo todos os seus problemas de saúde que inexoravelmente foram surgindo, recorrendo a um seguro privado, tentando deixar para aqueles que realmente necessitam, o apoio da segurança social. Em mais de 40 anos de contribuição não teve um dia de baixa, não usufruiu de um cêntimo em subsídios de desemprego. E ela dá voltas e voltas à cabeça e não há forma de se recordar onde possa ter falhado. Mas certamente falhou…
Por isso Pedro, quando eu lhe li a tua carinhosa mensagem, que certamente escreveste na companhia da Laura e com um cobertor a cobrir as vossas pernas para poupar no aquecimento, ela comoveu-se, e cheia de remorsos pediu-me que por esta via te endereçasse um sentido pedido de desculpas.
Pediu também para te dizer que se sente muito orgulhosa de com a redução da sua pensão poder contribuir para que a tua missão na terra seja coroada de sucesso.
És de facto único Pedro. A forma carinhosa como te referes aos sacrifícios que os outros estão fazer, faz-me acreditar que quase os sentes como teus. Sei que sofres por nós Pedro. Sei que cada emprego que se perde é uma chaga que se abre no teu corpo…é um sofrimento atroz que te é imposto…e tudo por culpa de quem? De gente como a minha pobre mãe que mesmo sem querer tem levado toda uma vida a delapidar o património que é de todos. Por isso se a conseguires ajudar a perceber onde errou ficar-te-ei eternamente agradecido. A minha mãe ainda é daquele tipo de pessoas que não suporta a ideia de estar a dever algo a alguém...ajuda-nos pois Pedro.
Aceita por favor, mais uma vez, em nome da minha mãe, sentidas desculpas. Ela diz que apesar de reformada e com menos saúde vai continuar a trabalhar para poder expiar o tanto mal que causou.
Continua Pedro estás certamente no bom caminho, embora alguns milhões de ingratos não o consigam perceber.
Não te detenhas…os génios raramente são reconhecidos em vida.
Um grande abraço para ti.
Um grande beijo para a Laura.



Comentário de Nuno Barradas às centenas de comentários ( e mais de 3500 Likes) que a sua mensagem recebeu no FB

Amigos. Ciente que estou da minha insignificância neste universo virtual, fiquei abismado com a atenção despendida às minhas palavras. Fiquei...e não fiquei...porque como um amigo comentou, a minha mãe são todas as mães, todos os pais todos os avós. Em aditamento à minha nota gostaria, agora de uma forma não irónica, de ressalvar que o que considero verdadeiramente dramático no momento que se vive neste nosso país, é não só as condições a que estamos sujeitos, mas termos no leme dos nossos destinos, alguém que sem qualquer tipo de pudor, nos lança uns contra os outros. Funcionários do sector privado contra os do sector público, pensionistas contra trabalhadores no activo, desempregados contra empregados. O primeiro grande desígnio de quem nos governa deveria ser na medida do possível unir. Atirar o ónus da responsabilidade que é maioritariamente, se não exclusivamente, política para cima de cidadãos indefesos é no mínimo indecoroso. A receptividade às minhas palavras, e os abraços que me enviaram mostra que o Pedro não nos divide...e isso é bom! Nunca deixem de sonhar... nunca deixem de abraçar. Nenhum sonho é longe demais... nenhum abraço é coisa pouca. Um 2013 de esperança... ACREDITEM!!OBRIGADO PELAS AMÁVEIS PALAVRAS.

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