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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A Tempestade

Prelúdio

Começo este post com um link de uma música bem portuguesa, que fala de um tema bem português.
http://www.youtube.com/watch?v=JTLviSnCew4


A Tempestade

"Há duas formas de se viver a vida
Uma é acreditar que não existe milagre,
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre"

Numa altura em que o país atravessa uma das maiores crises económicas da sua história recente, são aos milhares os portugueses que, sem outra alternativa ou esperança, se lançam em aventuras forçadas noutros países, nos mais longínquos e bizarros destinos. Não é a primeira vez que se assiste a um tal surto de emigração e, infelizmente, não será a última.
Há coisa de poucos meses esta tempestade que vai pairando no ar, ameaçando e pressionando emocionalmente toda e qualquer família portuguesa, aproximou-se de mim. Talvez por não vir directamente na minha direcção, nunca me apercebi dela, mas ela estava lá. Estava atenta, eu é que não. Foi avançando. Levou primeiro vizinhos e conhecidos. Não se saciou. Quis também colegas de adolescência, faculdade e/ou trabalho e mesmo assim não chegou. Qual animal sôfrego por alimento em final de época, preparando o período de hibernação, quis chegar mais perto. Como quem brinca com ratos de laboratório, decidiu brincar com as nossas vidas e verificar a nossa resiliência. Avançou assim para família e amigos…
Os portugueses são resilientes, são rijos, são sobreviventes. Essas virtudes degeneraram ao longo dos tempos em hipocrisia. Aprendemos depois de diversas adversidades, forçosamente, as artes do fingimento. Fingimos ser fortes, fingimos que tudo está bem, que tudo ficará bem. Fingimos que não nos importamos, que tudo se ultrapassa, que tudo se supera, quando a verdade é exactamente o oposto. No entanto, a necessidade obrigou-nos a isto. A tempestade - é ela que nos obriga a dar força, a incentivar alguém que na verdade não queremos que parta.
Hoje compreendo melhor a palavra saudade. Compreendo não só todos os estados de espírito e sentimentos que se podem associar à palavra, mas também o facto de que a palavra se dirige mais aos que ficam, do que aos que partem. Efectivamente, quem parte normalmente fá-lo porque nada tem a perder, ao contrário de quem fica. 
Escolhi para introdução palavras de Fernando Pessoa, porque achei interessante contradizê-lo. O emigrante vive as duas formas em simultâneo. É não acreditar no milagre, que o faz partir, e a angústia de ter de o fazer, é a responsável por acreditar que todas as coisas boas que lhe surjam na vida serão um milagre.

Este texto é dedicado ao nosso camarada de blog, Hélder Caetano, que se viu perante o nosso triste fado de ter de emigrar. A culpa não é tua, nem é nossa. Foste e continuarás a ser um bom e competente profissional. Temos tentado neste blog expor os culpados de toda esta tempestade. Como pertenço ao grupo que não acredita em milagres, não tenho a mínima esperança que o que escrevo neste blog resulte, algum dia, numa mudança da mentalidade da nossa sociedade. Os culpados - todos sabem quem são - andam por aí. No entanto, resilientes como somos, preferimos dizer resignados: são contingências da vida. Muito boa sorte para esta nova etapa profissional e social. Quando um dia voltares ao país padrasto, lembra-te, procura-nos. Convida-nos para beber uma cerveja no final do dia de trabalho. Tenho a certeza que tanto Eu como o Luís vamos gostar de reviver esses tempos.
Grande Abraço!

1 comentário:

  1. Obrigado Samuel! Deixaste-me com uma lágrima no canto do olho. Boa sorte Helder. Ficamos à espera dessa cervejinha.

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