Pesquisa

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

 


7.          Foi uma boa mudança de vida?

Várias pessoas questionam se houve de facto evolução ao passarmos de nómadas a sedentários.

Na altura em que escrevo esta página (início de 2022) a população mundial está a caminho dos 8 mil milhões de habitantes (somos cerca de 7.8 mil milhões de pessoas).

Desses, aproximadamente 69% vive com menos de US-30$ por dia (tendo por base o nível de vida nos EUA).

Ou seja, ao dizer que 99.5% dos indianos (ver mapa em baixo) vivem com menos de US-30$ por dia, estamos a dizer que um indiano que ganhe por mês US-900$ tem o poder de compra equivalente ao que teria se vivesse nos Estados Unidos da América com esse montante mensal[1].

Portanto, imagine o que seria viver na América com US-30$ por dia.

O gráfico em baixo impressiona porque é assim que vive a grande maioria dos humanos atualmente.

Atualmente, cerca de 50% da população mundial vive em extrema pobreza (isso significa que vive com menos de 10$ por dia), e perto de 70% da população mundial é pobre.

Ser pobre significa, que as férias são passadas em casa (se é que se pode chamar de férias), que raramente (ou nunca) se vai almoçar ou jantar fora, que a casa tem fracas condições de isolamento térmico e acústico, que muitas das roupas foram oferecidas, que não se tem carro (nem para passear com a família ao fim-se-semana), que não se pode ter grande cuidado com a saúde dentária (porque dentífrico é um luxo e o seguro de saúde uma miragem), e que muitas vezes, o dinheiro só chega para comprar “junk food[2]” ou arroz, entre muitas outras coisas, pouco dignificantes da condição humana.

Se isto é ser pobre, imagine o que é ser extremamente pobre!

Mesmo ignorando que a grande maioria dos humanos terá de enfrentar décadas e décadas de trabalho repetitivo e desinteressante, muitas vezes desconsiderados por chefias prepotentes, com muito poucas perspetivas de ver as suas vidas melhorarem, fica fácil de perceber o ponto de vista de quem levanta a questão: Terá valido a pena a mudança para a vida sedentária proporcionada pela agricultura”?

Na altura, eramos muito menos e havia muito mais disponibilidade de alimentos no mundo selvagem (entenda-se animais para caçar e plantas e frutos para recolher).

O caçador-coletor era um ser livre, com tempo para si e para a sua família (que numa perspetiva mais abrangente, era todo o seu bando).

Não menos importante, desconhecia o que era viver num mundo extremamente desigual, em que uns exploram outros.

Como dizia alguém muito a propósito: o capitalismo é o sistema económico em que o ser-humano é explorado pelo ser-humano; e o comunismo, é exatamente o oposto disso.

Sim, é verdade que tecnologicamente evoluímos muito. Temos carros que estacionam sozinhos, GPS, Internet, telemóveis, frigoríficos, televisão, equipamentos para aquecer (ou arrefecer) a temperatura, eletricidade, medicamentos, hospitais, etc.

Mas infelizmente, mais de um quarto da população mundial continua sem ter água potável em casa, e mais do dobro não tem acesso a saneamento seguro.

A vida nos países mais ricos e desenvolvidos está longe de representar a vida no planeta; mesmo nesses países, alguma coisa não deve estar assim tão bem, se tantas pessoas acabam a recorrer às mais variadas drogas, álcool, tabaco, ansiolíticos, antidepressivos, seitas e grupos extremistas.

Sem falar que há pobreza até em países tão ricos como os EUA, e não me estou a referir apenas a pessoas que não querem, ou não conseguem trabalhar.

Apesar de tudo, é provável que a maioria da população mundial não queira voltar à vida do caçador-coletor.

Na verdade, tal não seria possível para a atual população.

Os recursos seriam claramente insuficientes, e não apenas devido à biodiversidade que, entretanto, destruímos (milhões de animais selvagens que matamos e outras tantas árvores que derrubámos), mas principalmente porque a natureza não produz vida como uma “fábrica de produção intensiva”, só nós é que o fazemos.

Mesmo que a população humana descesse para valores compatíveis, duvido que a maioria estivesse disposta a abdicar dos progressos alcançados. Apesar de tudo, a tecnologia trouxe confortos que são indiscutivelmente apreciados.

Respondendo à pergunta que dá o título a este capítulo, tenho de admitir que de um ponto de vista global, considerando a população mundial, a mudança foi para pior, embora, na minha ingénua forma de ver, esteja perfeitamente ao nosso alcance reverter essa situação.

Temos os meios e o conhecimento necessário para vivermos num mundo muito menos desigual e sem pobreza (se assim não for, é porque quem não quer, consegue impor a sua vontade).



[2] Alimentos com alto teor calórico, mas com níveis reduzidos de nutrientes.

Sem comentários:

Enviar um comentário