23. Tic, tac, tic, tac, tic, tac...
Ainda antes da Rússia ter invadido
a Ucrânia, o relógio do juízo final (Doomsday Clock) já tinha sido
ajustado para apenas 100 segundos para a meia-noite.
“A hora do Relógio do Juízo
Final é definida pelo Boletim do Conselho de Ciência e Segurança dos Cientistas
Atómicos com o apoio do Conselho de Patrocinadores, que inclui 11 vencedores do
Prémio Nobel[1]”.
Esse último ajuste foi em
2020, e nunca os ponteiros do relógio estiveram tão próximos do apocalipse.
O Relógio do Juízo tem por
finalidade mostrar o quanto a humanidade está perto do fim.
Para melhor compreender o
conceito simbólico do relógio, imagine que “tudo o que aconteceu no nosso
planeta, fosse comprimido em um único ano.
A vida teria surgido no início
de março, os organismos multicelulares em novembro, os dinossauros no final de
dezembro e os seres humanos somente entrariam em cena às 23h30 da Véspera de
Ano Novo[2]”.
Apesar do que possa parecer, o
objetivo do relógio não é tanto dar-nos uma previsão do tempo que nos resta,
mas antes funcionar como um indicador de alerta para o
nível de risco enfrentado pela humanidade.
Leia através do endereço
referido em nota de rodapé[3], as 14 medidas que os
cientistas do Boletim apresentaram para reverter a ameaça de estarmos tão
próximos da autodestruição, ou, em alternativa, consulte em baixo um breve
resumo das mesmas:
·
Os presidentes da Rússia
e dos EUA devem concordar em reduzir a dependência de armas nucleares;
·
Os Estados Unidos e
outros países devem acelerar a descarbonização;
·
A China deve dar o
exemplo – sem projetos de uso intensivo de combustível fóssil;
·
Os EUA e outros líderes
devem trabalhar para reduzir os riscos biológicos das interações animal-humano;
·
Os Estados Unidos
deveriam persuadir aliados e rivais para não usar armas nucleares.
·
Eliminar a autoridade
exclusiva do presidente para lançar armas nucleares;
·
A Rússia deve voltar a
integrar o Conselho OTAN-Rússia;
·
A Coreia do Norte deve
codificar sua moratória em testes nucleares e testes de mísseis de longo alcance.
·
O Irão e os Estados
Unidos devem retornar conversações sobre segurança no Médio Oriente e
restrições de mísseis;
·
Os investidores privados
e públicos devem redirecionar os fundos de projetos de combustíveis fósseis
para investimentos favoráveis ao clima;
·
Os países mais ricos do
mundo devem fornecer mais apoio financeiro e cooperação tecnológica aos países
em desenvolvimento, para empreender uma forte ação climática.
·
Os líderes nacionais e
as organizações internacionais devem conceber regimes mais eficazes para
monitorar os esforços de pesquisa e desenvolvimento biológicos;
·
Governos, empresas e especialistas
devem combater a desinformação e a desinformação viabilizada pela Internet;
·
Os cidadãos de todos os
países devem responsabilizar seus líderes, perguntando “O que você está fazendo
para lidar com as mudanças climáticas?”.
Destes 14 principais
passos, 6 incidem no tema nuclear, 5 no clima, 2 nos ricos biológicos (doenças
que possam evoluir para pandemia) e 1 na desinformação (meios de comunicação e redes
sociais).
Claro que os riscos são
diferentes. “Os ataques nucleares poderiam acontecer numa questão de minutos,
enquanto o risco climático é cumulativo, ano após ano.
Além disso, a
responsabilidade pelas armas nucleares do mundo está nas mãos, ou dedos, de
muito poucos tomadores de decisões globais, enquanto todos nós estamos envolvidos
nas mudanças climáticas e na destruição ambiental - mesmo que em escalas muito
diferentes”.
Ninguém tem dúvidas que as
alterações climáticas e eventuais pandemias, dão-nos mais tempo (e
oportunidades) para evitar o apocalipse, do que uma guerra nuclear.
As armas nucleares têm uma
brutal capacidade destrutiva, e mais do que visarem alvos militares, destroem
tudo (cidades, países, o mundo).
As atuais, são muito mais
poderosas do que as usadas na segunda guerra mundial contra Hiroshima e Nagasaki
no Japão.
“Uma bomba nuclear detonada em
uma cidade mata, no instante, dezenas de milhares de pessoas, e dezenas de
milhares mais, sofrerão lesões horríveis, morrendo posteriormente por exposição
à radiação.
Além da imensa perda imediata
de vida, uma guerra nuclear poderia causar danos duradouros ao nosso planeta.
Poderia interromper severamente ecossistemas e reduzir as temperaturas globais,
causando escassez de alimentos no mundo todo”[4].
Isto na melhor das hipóteses,
porque se fossem usadas indiscriminadamente, julgo que o cenário descrito seria
muito mais dantesco.
Podemos sempre acreditar que
alguns conseguiriam sobreviver dentro de bunkers, e mais tarde voltar e reconstruir
a humanidade.
Sinceramente, tenho dúvidas
sobre essa possibilidade, mas acima de tudo, entristece-me pensar nela.
Há quem defenda as armas
nucleares, alegando que têm evitado guerras, na medida que o risco de
retaliação em “idêntica” proporção, funciona como fator inibitório.
Mesmo que tenha um fundo de verdade,
basta apenas um louco para destruir completa e definitivamente este argumento.
Para complicar ainda mais,
neste momento seria muito difícil, se não impossível, desfazermo-nos das armas
nucleares.
Pior do que a questão “quem dá
o primeiro passo?”, seria a desconfiança de que algum país, as estivesse a
fabricar em segredo ou não tivesse destruído todas.
Pelo menos nos “próximos
tempos”, parece que estamos condenados a viver “em cima da bomba”.
Assusta que tantos milhões de
pessoas estejam nas mãos de tão poucos. Pior do que haver humanos com tanto
dinheiro, é o poder que alguns têm. Um simples premir de botão e acabou-se
tudo.
Esta é uma das recomendações
dos cientistas do Boletim: “que sejam necessários mais dedos para premir o
botão”.
É difícil de entender esta
nossa natureza destrutiva (e muito provavelmente autodestrutiva).
Resta a esperança de que a consigamos
mudar.
Sim, porque parece que temos
essa capacidade, resta saber se teremos tempo…
[1]
https://www.impala.pt/especiais/humanidade-esta-a-100-segundos-do-apocalipse/
[2]
https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-60129837
[3]
https://www.metropoles.com/mundo/ciencia-e-tecnologia-int/cientistas-alertam-que-estamos-a-100-segundos-do-juizo-final-entenda
[4]
https://www.icrc.org/pt/document/armas-nucleares-uma-ameaca-intoleravel-para-humanidade
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