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sexta-feira, 4 de março de 2022

 


23.          Tic, tac, tic, tac, tic, tac...

Ainda antes da Rússia ter invadido a Ucrânia, o relógio do juízo final (Doomsday Clock) já tinha sido ajustado para apenas 100 segundos para a meia-noite.

“A hora do Relógio do Juízo Final é definida pelo Boletim do Conselho de Ciência e Segurança dos Cientistas Atómicos com o apoio do Conselho de Patrocinadores, que inclui 11 vencedores do Prémio Nobel[1]”.

Esse último ajuste foi em 2020, e nunca os ponteiros do relógio estiveram tão próximos do apocalipse.

O Relógio do Juízo tem por finalidade mostrar o quanto a humanidade está perto do fim.

Para melhor compreender o conceito simbólico do relógio, imagine que “tudo o que aconteceu no nosso planeta, fosse comprimido em um único ano.

A vida teria surgido no início de março, os organismos multicelulares em novembro, os dinossauros no final de dezembro e os seres humanos somente entrariam em cena às 23h30 da Véspera de Ano Novo[2]”.

Apesar do que possa parecer, o objetivo do relógio não é tanto dar-nos uma previsão do tempo que nos resta, mas antes funcionar como um indicador de alerta para o nível de risco enfrentado pela humanidade.

Leia através do endereço referido em nota de rodapé[3], as 14 medidas que os cientistas do Boletim apresentaram para reverter a ameaça de estarmos tão próximos da autodestruição, ou, em alternativa, consulte em baixo um breve resumo das mesmas:

·        Os presidentes da Rússia e dos EUA devem concordar em reduzir a dependência de armas nucleares;

·        Os Estados Unidos e outros países devem acelerar a descarbonização;

·        A China deve dar o exemplo – sem projetos de uso intensivo de combustível fóssil;

·        Os EUA e outros líderes devem trabalhar para reduzir os riscos biológicos das interações animal-humano;

·        Os Estados Unidos deveriam persuadir aliados e rivais para não usar armas nucleares.

·        Eliminar a autoridade exclusiva do presidente para lançar armas nucleares;

·        A Rússia deve voltar a integrar o Conselho OTAN-Rússia;

·        A Coreia do Norte deve codificar sua moratória em testes nucleares e testes de mísseis de longo alcance.

·        O Irão e os Estados Unidos devem retornar conversações sobre segurança no Médio Oriente e restrições de mísseis;

·        Os investidores privados e públicos devem redirecionar os fundos de projetos de combustíveis fósseis para investimentos favoráveis ​​ao clima;

·        Os países mais ricos do mundo devem fornecer mais apoio financeiro e cooperação tecnológica aos países em desenvolvimento, para empreender uma forte ação climática.

·        Os líderes nacionais e as organizações internacionais devem conceber regimes mais eficazes para monitorar os esforços de pesquisa e desenvolvimento biológicos;

·        Governos, empresas e especialistas devem combater a desinformação e a desinformação viabilizada pela Internet;

·        Os cidadãos de todos os países devem responsabilizar seus líderes, perguntando “O que você está fazendo para lidar com as mudanças climáticas?”.

Destes 14 principais passos, 6 incidem no tema nuclear, 5 no clima, 2 nos ricos biológicos (doenças que possam evoluir para pandemia) e 1 na desinformação (meios de comunicação e redes sociais).

Claro que os riscos são diferentes. “Os ataques nucleares poderiam acontecer numa questão de minutos, enquanto o risco climático é cumulativo, ano após ano.

Além disso, a responsabilidade pelas armas nucleares do mundo está nas mãos, ou dedos, de muito poucos tomadores de decisões globais, enquanto todos nós estamos envolvidos nas mudanças climáticas e na destruição ambiental - mesmo que em escalas muito diferentes”. 

Ninguém tem dúvidas que as alterações climáticas e eventuais pandemias, dão-nos mais tempo (e oportunidades) para evitar o apocalipse, do que uma guerra nuclear.

As armas nucleares têm uma brutal capacidade destrutiva, e mais do que visarem alvos militares, destroem tudo (cidades, países, o mundo).

As atuais, são muito mais poderosas do que as usadas na segunda guerra mundial contra Hiroshima e Nagasaki no Japão.

“Uma bomba nuclear detonada em uma cidade mata, no instante, dezenas de milhares de pessoas, e dezenas de milhares mais, sofrerão lesões horríveis, morrendo posteriormente por exposição à radiação.

Além da imensa perda imediata de vida, uma guerra nuclear poderia causar danos duradouros ao nosso planeta. Poderia interromper severamente ecossistemas e reduzir as temperaturas globais, causando escassez de alimentos no mundo todo”[4].

Isto na melhor das hipóteses, porque se fossem usadas indiscriminadamente, julgo que o cenário descrito seria muito mais dantesco.

Podemos sempre acreditar que alguns conseguiriam sobreviver dentro de bunkers, e mais tarde voltar e reconstruir a humanidade.

Sinceramente, tenho dúvidas sobre essa possibilidade, mas acima de tudo, entristece-me pensar nela.

Há quem defenda as armas nucleares, alegando que têm evitado guerras, na medida que o risco de retaliação em “idêntica” proporção, funciona como fator inibitório.

Mesmo que tenha um fundo de verdade, basta apenas um louco para destruir completa e definitivamente este argumento.

Para complicar ainda mais, neste momento seria muito difícil, se não impossível, desfazermo-nos das armas nucleares.

Pior do que a questão “quem dá o primeiro passo?”, seria a desconfiança de que algum país, as estivesse a fabricar em segredo ou não tivesse destruído todas.

Pelo menos nos “próximos tempos”, parece que estamos condenados a viver “em cima da bomba”.

Assusta que tantos milhões de pessoas estejam nas mãos de tão poucos. Pior do que haver humanos com tanto dinheiro, é o poder que alguns têm. Um simples premir de botão e acabou-se tudo.

Esta é uma das recomendações dos cientistas do Boletim: “que sejam necessários mais dedos para premir o botão”.

É difícil de entender esta nossa natureza destrutiva (e muito provavelmente autodestrutiva).

Resta a esperança de que a consigamos mudar.

Sim, porque parece que temos essa capacidade, resta saber se teremos tempo…



[1] https://www.impala.pt/especiais/humanidade-esta-a-100-segundos-do-apocalipse/

[2] https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-60129837

[3] https://www.metropoles.com/mundo/ciencia-e-tecnologia-int/cientistas-alertam-que-estamos-a-100-segundos-do-juizo-final-entenda

[4] https://www.icrc.org/pt/document/armas-nucleares-uma-ameaca-intoleravel-para-humanidade

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