Ao ver todos os dias as imagens
impressionantes de Kiev, onde estoicamente ucranianos lutam com a sua própria
vida pelos seus ideais, seria mais que justo da minha parte fazer uma
referência a todo este impasse.
Recapitulando, as últimas adesões
à União europeia deixaram de fora a Ucrânia, uma vez que o país não se
encontrava em condições para aderir, quando há uns anos, os novos membros se
prepararam para entrar. É um país que ainda tem muita corrupção, muitas dúvidas
nos actos eleitorais etc. No entanto este ficar de fora deixa marcas, ainda por
cima, quando os dirigentes políticos ucranianos foram fazendo jogo duplo ao
longo dos últimos anos, dizendo que sim à união, ao mesmo tempo que não diziam
não à Rússia. Foram assim empurrando o problema para a frente, até que, chegado
o dia de decidir, as expectativas pró europeias do povo foram friamente
desfeitas.
Como em quase todos os conflitos o
problema resume-se a dinheiro. Falta dele ou muito mas limitado a poucos, o
problema anda sempre à volta disto. A Ucrânia debate-se com grandes
dificuldades financeiras e salários baixos. A adesão à União resolveria o
problema? Talvez não porque um país mergulhado há anos numa cultura de
corrupção demoraria muitas décadas a recriar-se numa sociedade mais justa e próspera.
Mas é legítimo abdicar do sonho de tornarmo-nos melhores só porque o caminho é
difícil? Não. E os Ucranianos ao longo das últimas décadas já sentiram na pele
o que a aliança económica com a Rússia produziu e principalmente o que não
produziu. Por isso têm o sonho.
E o papel do presidente Ucraniano
no meio disto? Bom é difícil. O facto é que energeticamente a Ucrânia depende
da Rússia que ameaçou subir os preços. Ao mesmo tempo, a mesma Rússia vai
comprando aos poucos a dívida Ucraniana, que não dá para produzir alterações
significativas na economia mas apenas para manter a Ucrânia “ligada à máquina”.
A verdade é que o país está altamente dependente da Rússia e devido à falta de
credibilidade das instituições ucranianas e da elevada corrupção, não há
investidor que esteja interessado em comprar dívida daquele país. Mesmo a União
Europeia. Teria sido prudente ter realizado um referendo? Talvez. Mas num país
em que o próprio presidente é acusado de ter ganho as eleições de forma fraudulenta,
seria sempre difícil, se não impossível, de as diferentes facções aceitarem os
resultados.
Depois existem todas as questões
estratégicas e geográficas. O gasoduto que atravessa a Ucrânia e abastece a
europa também não deve ajudar à festa. Enfim, demasiados interesses que acabam
por vitimar quem apenas ambiciona a ter comida no prato e aquecimento na casa
para a sua família. Enquanto as economias falarem mais alto que os interesses
sociais este problema vai ser difícil de resolver. Para já, o meu respeito por
quem luta com a própria vida, por um sonho de uma vida melhor.
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