Carta que remeti hoje.
Senhor jornalista Henrique
Raposo
Sob o titulo " Contrato
entre avós, pais e netos", no semanário Expresso de 18 de Maio de 2013,
dirigiu-se-me Vexa, justificando o roubo das pensões (como sabe
"roubo" designa o furto com violência, Vexa não sonha quanta!). O modo
como na sua "carta" se me dirige, ternurento, será original, mas,
concordará, nesta matéria, é de muito mau gosto, quase, diria, que é ofensivo.
Como fazem todos os seus
colegas ideológicos, escamoteia Vexa o facto de que eu, durante a minha vida
activa, paguei a pensão dos vossos avós, pais e mães sendo certo que, uma
grande maioria delas, até pela profissão, não descontaram nada ou quase nada
para a terem. Foi o sentido de justiça social da minha geração que o permitiu.
Os senhores, que beneficiaram
de uma melhor educação e estão gordos de cultura sabem muito bem que à luta de
classes estão a juntar a luta de gerações e que a actual "crise" mais
não é que um ajustamento estrutural do capitalismo que, em consequência do fim
da, chamada, "guerra fria", tomou o freio nos dentes e tenta reduzir
o aparelho de Estado ao mínimo estritamente necessário para que quem produz o
continue a fazer permitindo a apropriação indevida do seu sobre trabalho pelos
"mercados"; é da sua natureza que assim seja, não que os homens sejam
maus. É que aquilo, na URSS, podia ser mau para as vitimas, mas dava a
aparência de uma sociedade mais justa e fraterna que servia de "mau
exemplo" pelo que era necessário que cá também houvesse "Estado
social" que, claro, desviava dinheiro dos "mercados". Os
senhores sabem bem que o problema não é o Estado não poder ser social por não
haver dinheiro, o Estado não é neutro e aumenta mais o IRS ou diminui o IRC
conforme os interesses que defende. Os senhores sabem bem que uma alta taxa
estrutural de desemprego é bom para os "mercados", o problema é gerir
o "quantum" para continuar a haver consumidores. A social democracia
tenta corrigir isso quando não está como agora dominada por arrivistas.
Tem Vexa a pretensão de ainda
vir a auferir uma pensão de 20 a 30% da sua remuneração. Eu quando comecei a
trabalhar tive a pretensão de auferir 100% e sabe bem porquê. Porque eram as
regras que me levaram, entre outras ponderações, a optar pela profissão que
tive. Vexa está à vontade porque ou é rico ou vai acautelar-se com PPR,s e
quejandos, ou ainda pode vir a ser empresário. Eu, que já estou mais para a
morte do que para a vida, fui apanhado por um grupo de serventuários do
capitalismo selvagem que nem as suas próprias regras respeita, ou parece-lhe
que as empresas funcionam dizendo "olha hoje só pago a fornecedores 50% do
que lhes devo?"; se não têm dinheiro ficam a dever, negoceiam as dividas,
reformam letras ou vão à falência, mas não podem como o Estado actual,
unilateralmente, só pagar o que lhes parece .
Acha Vexa que a pensão não
pode ter um valor imutável, tem que estar indexada ao PIB, à evolução da
esperança de vida e ao rácio trabalhador reformado. Estou inteiramente de
acordo se me der mais quarenta anos de vida. Dá-mos? Não, então façam só para
vocês.
Não lhe desejo que na sua
velhice lhe aconteça o mesmo; que lhe confisquem na sua pensão, como a mim, que
já vou numa redução de 25% da minha expectativa com a ameaça, de que virá mais
um corte de 15% e a permanente incerteza do que se seguirá ou que tenha os seus
PPR nas mãos de qualquer Madoff. Desejo-lhe felicidades.
Luís A N Paiva de Andrade
Capitão de Mar e Guerra
Reformado,
47 anos de descontos
"obrigatórios" para a CGA
Militante do PSD
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