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quinta-feira, 7 de julho de 2022

 


12.          O salário mínimo

Alguns países, muito poucos, conseguiram chegar a um ordenado mínimo que garante uma vida minimamente decente a quem o recebe.

Esse deve ser o objetivo do salário mínimo. Não devia fazer sentido trabalhar por menos do que isso. 

Imagine-se a ir para o seu local de trabalho, a passar lá no mínimo 8 horas por dia, durante 5 dias por semana, todo o mês, e receber um salário que mal dá para viver. É no mínimo estranho! Principalmente se tivermos em conta o desenvolvimento tecnológico que já atingimos.

São cerca de quarenta horas por semana a trabalhar para ganhar um salário que mal dá para sobreviver. Parece-me que algo não está certo!

Em Portugal, um individuo que receba por mês 1424€ (salário acima da média nacional), depois dos impostos fica com um salário líquido (já considerando os subsídios de férias e Natal) de 1208 Euros.

Em contrapartida, se recebesse o salário mínimo (já considerando os dois subsídios, e descontando apenas para a segurança social), receberia um salário líquido de 712€ por mês. Imagine-se a viver em Lisboa com esse valor: habitação, alimentação, transportes, saúde, vestuário e um fiozinho de lazer (talvez uma míni e um salgado, ou um copo de leite morno com um bolo, num café com TV).

Não é nada fácil encontrar um quarto por menos de 300 Euros/mês. Admitindo que conseguia, ficava com cerca de 400€ para todas as restantes despesas mensais. 

O salário mínimo representa a forma como o país vê a recompensa pelo trabalho, mas acima de tudo, qual o limiar mínimo de dignidade de vida, que considera aceitável, para qualquer um dos seus cidadãos.

Não acredito numa nação unida com desigualdades profundas.

 

Em baixo, os 10 salários mínimos mais elevados no Mundo (7 são da União Europeia).

 

OS 10 SALÁRIOS MÍNIMOS MAIS ELEVADOS NO MUNDO[1]

1. Luxemburgo - 2.142 euros (2020)

2. Austrália - 1.926 euros (2019)

3. Irlanda - 1.706 euros (2020)

4. Holanda - 1.680 euros (2020)

5. Bélgica -1.625 euros (2020)

6. Reino Unido- 1.585 euros (2020)

7. Alemanha - 1.584 euros (2020)

8. França - 1.539 euros (2020)

9. Canadá - cerca de 1.472 euros (2019)

10. Coreia do Sul - cerca de 1.273 euros (2019)

 

OS 10 SALÁRIOS MÍNIMOS MAIS ELEVADOS NA UE

1 - Luxemburgo - 2.142 euros

2- Irlanda - 1.706

3 - Holanda - 1.680

4 - Bélgica - 1.625

5 - Alemanha - 1.584

6 - França - 1.539

7 - Espanha - 1.108

8 - Eslovénia - 941

9 - Malta - 777

10 - Grécia – 758

 

Portugal, com cerca de 741 euros por mês (são 635 euros pagos 14 vezes), não entra nem no top 10 da UE (estes valores são de 2020. Em 2021, com base no mesmo cálculo, o valor sobe para cerca de 800 Euros brutos).

Para estas listas, apenas entram os países que têm um salário mínimo oficial.

Os países da Escandinávia ficaram de fora apesar dos salários médios praticados serem muito acima do nosso.

Suécia e Finlândia têm salários médios na casa dos 2500 Euros, enquanto a Noruega e Dinamarca chegam aos 3000€ (Portugal anda na casa dos 1300€).

Julgo que o salário mínimo deve permitir uma vida com alguma qualidade.

Estamos a falar de poder fazer férias, ter acesso a livros e à cultura, mesmo que seja de forma controlada, poder ir a um restaurante de vez em quando, ter uma casa minimamente confortável, ter carro, nem que seja para passear em família ao fim-de-semana, poder cuidar da saúde dentária, etc.

Este devia de ser o objetivo prioritário de todos os países.

Custa a compreender um país que não se esforce para alcançar essa meta para todos os seus cidadãos. Por uma questão de justiça, todos deveríamos lutar por esse desígnio.

Esse é o propósito por eleição para aferir a união de um povo.

Não nos podemos esquecer que não basta subir o salário mínimo. Caso contrário, corremos o risco de não conseguir evitar a fuga de técnicos especializados e/ou com formação superior para o estrageiro (situação ainda mais gravosa quando esses profissionais fazem falta ao país).

Portugal não tem um salário mínimo que garanta uma vida decente a quem o recebe. O salário médio é igualmente baixo. Apenas os salários de topo estão ao nível dos países mais desenvolvidos da União Europeia – por vezes até são notícia por os ultrapassarem).

Os representantes das confederações da indústria e comércio dizem que muitas empresas não têm condições para pagar “acima” do atual ordenado mínimo.

Dizem que muitas pequenas e microempresas do nosso tecido empresarial fechariam portas se tivessem de pagar ordenados superiores aos que pagam atualmente.

Não sei exatamente qual a dimensão de verdade do parágrafo anterior. Não sei se algumas dessas empresas não poderiam reduzir despesas libertando verbas para subir alguns dos salários.

Uma coisa é certa, não devia ser argumento para pagar um salário que não dá para viver com dignidade. O esforço não devia estar a ser suportado por apenas uma das partes.

Uma empresa para ser viável tem de pagar salários justos.

Não consigo considerar justo um trabalho de quarenta horas semanais (aproximadamente 180 horas por mês) que não permita ter uma vida com um mínimo de qualidade. Estamos a falar de valores que rondam os quatro euros por hora (em pleno século XXI, com o atual custo de vida).

Há vários anos (julgo que décadas) que ouvimos dizer nos meios de comunicação social que cerca de 20% dos portugueses vivem no limiar da pobreza.

Parece que não conseguimos sair desta situação!

Se um país não produz riqueza suficiente para garantir uma vida decente a todos os seus residentes, então creio que deveria perguntar-se o que pode fazer para alterar essa situação.

Todos os países têm uma determinada capacidade de gerar riqueza que depende dos seus recursos próprios. 

Talvez Portugal só tenha capacidade de produzir riqueza que garanta uma vida decente a oito milhões de habitantes (é apenas um exemplo).

Se reduzíssemos a população, a riqueza produzida na indústria e agricultura não sofreria de forma significativa, porque nesses setores, cada vez mais o trabalho é feito por máquinas.

Não havendo diminuição considerável da produção nesses dois setores (primário e secundário) havendo menos mercado interno, devido à redução da população, estavam criadas condições para aumentar as exportações.

Apenas haveria reduções no setor terciário (comércio e serviços), porque a atividade nesses setores é proporcional à população servida.

Se mesmo assim não desse para termos o salário mínimo que permita qualidade de vida, então teríamos de reduzir ainda mais a população (talvez Portugal só tenha capacidade de gerar riqueza para 6 ou 7 milhões…).

O que pretendo dizer é que devia funcionar ao contrário. Devíamos planear de modo que a população estivesse sempre adequada à nossa capacidade de produzir riqueza.

Mas nem isso funciona, se os ricos não pagarem impostos, ou se ficarem com todos os aumentos de riqueza para si.

Isso nunca foi feito: ter como objetivo número um garantir um salário mínimo que permita viver com dignidade.

Até hoje, o país nunca teve esse objetivo.

Mesmo após o 25 de Abril, a solução tem sido sempre de adaptação ao que se consegue, ou em alternativa, procurar melhor qualidade de vida lá fora. Há políticos que o incentivam.

Nunca nenhum político teve coragem de referendar a seguinte escolha: ir reduzindo a população até aos x milhões de habitantes (para resolver este problema de vez), ou continuar como estamos, e quem não estiver bem que se mude (emigre para conseguir uma vida melhor).

No fundo seria: “ou fazemos tudo para conseguirmos que isto dê para todos, ou deixamos como está”. Claro que este plano tinha de ser detalhado e ter prazos (razoáveis).

Mas falta responder a uma questão: Será que o país não tem capacidade de criar riqueza suficiente para os atuais dez milhões de habitantes? Quando digo suficiente, refiro-me (mais uma vez) a que ninguém trabalhe por um salário que não permita uma vida minimamente decente.

Em Portugal, a fuga ao fisco, através dos paraísos fiscais representa cerca de mil milhões de euros[2]. Se somarmos a este valor, o IVA não declarado, certamente que valor total será ainda maior.

Obviamente que isto tem implicações na capacidade do Estado de subsidiar o ordenado mínimo, o que poderia ser uma forma de resolver, ou atenuar, o problema.

Mas a ideia que vingou foi: “Isto não dá para todos”. “Que se salve quem puder”. “Quem não conseguir que se faça à vida”.

Claro que a redução da população teria de ser relativamente lenta por causa da sustentabilidade da segurança social.

Sendo gradual o esforço exigido às gerações envolvidas, até à estabilização da população no número de habitantes adequados aos recursos do país, o processo não seria tão custoso.

Mas há outras ações que podem ser adotadas e que ajudavam a produzir os resultados pretendidos (melhorar o nível de vida dos portugueses, em particular dos mais pobres, pelo menos até que se consiga atingir o mínimo aceitável).

Por exemplo, durante uma fase transitória (até que todas as empresas tivessem capacidade de pagar um salário mínimo ao nível de países com a nossa dimensão, como a Bélgica, Suíça, Holanda, Suécia e Áustria) o estado podia ajudar os trabalhadores que recebem os salários mais baixo, por exemplo, atribuindo um determinado abono para melhoria de vida.

Outra coisa extremamente importante era acabar de vez com andarmos a financiar as ganâncias dos bancos. Nos últimos dez anos, já deve ter ultrapassado os quinze mil milhões de euros. Muito dinheiro que podia ter ajudado muitos portugueses e não apenas alguns gananciosos.

Recordo-me de ouvir falar dos cheques publicitários que algumas pessoas recebiam na caixa do correio e que diziam qualquer coisa como: “pegue lá cinco mil euros para tirar umas férias bem merecidas”. E quem ia com aquele papelinho ao banco, geralmente saía de lá com os ditos 5000€.

E malta que pedia empréstimo à habitação, por vezes em situação relativamente precária, e ainda lhes ofereciam não sei quantos mil euros a mais para mobilar a casa e comprar corro novo. Toda a gente comentava, mas ninguém de direito fez absolutamente nada para parar este tipo de “coisas” que anos mais tarde deu na Troika.

Também não sou da opinião que ter uma companhia aérea seja mais importante do que acabar com a pobreza de um país.

Ouvi dizer na TV que a TAP é estratégica porque com ela várias empresas conseguem exportar para determinados destinos.

Se isso é verdade e se manter essas exportações for estratégico para o país, então mantenha-se um “tapezinha” para esses destinos. Para os outros, que há oferta mais do que suficiente, deixe-se o mercado a funcionar que por si só garante todos os voos.

Manter uma companhia aérea com prejuízo só para podermos afirmar que temos uma companhia aérea, para além de denotar tiques de aristocracia, demonstra total desconsideração pelos (no mínimo) dois milhões de portugueses que vivem no limiar da pobreza.

E os submarinos que custaram uma verdadeira fortuna? Precisamos deles para garantir que não vão pescar nas nossas águas marítimas? Não há forma mais económica de obter os mesmos resultados? Por que não usar drones como aqueles que são utilizados para fiscalizar a vários quilómetros de distância o conteúdo de barcos e cargueiros. Fazem-no sem ser vistos recorrendo a câmaras de longo alcance e de enorme precisão.

Mais uma vez parece que preferimos satisfazer as nossas vaidades em vez de procurar garantir a todos os portugueses uma vida decente.

Muito mais pode ser feito, como por exemplo, exercer pressão para que a União Europeia combata a fuga de capital para os paraísos fiscais (é difícil de entender este consentimento).

Não alterar a lei para que empresas (como por exemplo a EDP) não tenham de pagar o imposto de selo.

Não vender empresas que dão lucro, como a ANA e a EDP.

Não permitir desigualdades obscenas e injustificadas (ninguém devia poder acumular riqueza equivalente à de “tantos” milhares de pessoas) – não há super-homens.

Se o país for gerido a pensar no bem comum, de certeza que conseguiremos melhores resultados e de forma bem mais rápida.

O objetivo final tem de ser este: conseguir que a riqueza produzida permita a todos viver minimamente bem (mesmo que alguns vivam muito melhor).



[1] https://tvi24.iol.pt/economia/salario-minimo/os-paises-com-os-salarios-minimos-mais-elevados

[2] https://www.dn.pt/dinheiro/fuga-anual-ao-fisco-em-portugal-chega-a-900-milhoes-e-dava-para-contratar-50-mil-enfermeiros-13058329.html

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