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quarta-feira, 14 de março de 2018

Seremos capazes de nos adaptar a nós próprios?


Ouvi muitas vezes dizer que somos (refiro-me aos humanos) agressivos, egoístas e insatisfeitos por natureza. Talvez essas características tenham sido as ferramentas que nos permitiram sobreviver, na fase inicial, e progredir ao ponto de nos tornarmos a espécie dominante.
Quanto a sermos insatisfeitos julgo que é positivo e que nos tem permitido evoluir, desde que não se torne numa ambição desmedida e gananciosa.
Quando nos dizem que somos “assim”, é muito difícil negar, ou mesmo refutar. Ainda recentemente ouvi um especialista dizer num programa de televisão “que se podemos ter algo de bom só para nós, porque é que o havíamos de querer dividir com alguém?”. Vou ainda mais longe, face aos acontecimentos históricos e presentes, não é possível negar os nossos comportamentos violentos, gananciosos e egoístas.
A questão que tenciono levantar é outra: Somos ou sempre fomos?
Não sei como teria sido se fosse diferente? Teríamos igualmente sobrevivido? O sucesso teria sido idêntico? Dominávamos o munto tal como o fazemos hoje?
Sinceramente não sei. Admito que sem alguma agressividade não teria sido fácil lutar contra outras espécies, mas entre A e Z existem 24 letras.
Apesar do progresso já alcançado nos proporcionar uma segurança e conforto muito consideráveis, nomeadamente nos países mais desenvolvidos, o facto é que vivemos num mundo onde o desperdício de alimentos convive lado a lado com a miséria, doenças e fome de milhões de crianças e adultos em países pobres e menos desenvolvidos.
Portanto, enquanto espécie, o egoísmo não nos trouxe apenas coisas positivas. E mesmo que alguns digam (ou pensem), “que se lixem os mais fracos”, também há quem acredite que podíamos estar todos muito melhor.
Mas vou mais longe, até que ponto essas características que nos trouxeram até aqui não nos poderão conduzir até ao abismo?
Refiro, por exemplo, a incapacidade de por o pé no travão e começar a mudar de direção: porque não podemos perder o comboio da competitividade, não podemos permitir que os outros nos ultrapassem.
E assim, todos vamos caminhando para uma situação insustentável.
Não são apenas as alterações climáticas, ou a imensidão de lixo nos oceanos. São também os recursos que são dizimados, as espécies ameaçadas, a Amazónia irrecuperável, etc.
E no meio disto tudo perguntem-se: Os índices de felicidade estão a subir?
Hoje em dia, o único inimigo capaz de por em risco a nossa espécie é ela própria. E isso deve-se ao facto de acreditarmos de tal modo que somos egoístas e agressivos por natureza que acabamos por fomentar em nós essas características: “O mundo é dos vencedores”.
Não se iludam, podem dizer que há muita gente generosa e pacífica, o facto é que a vontade de uns pode facilmente determinar o destino de todos. Enquanto espécie somos o que permitirmos que se torne dominante.
Acredito que está na altura de dar início a uma nova mentalidade. De começar a educar para uma realidade que mudou. Já não temos que sobreviver aos perigos à nossa volta. O perigo, desde há algum tempo, vem de dentro. Temos que começar a ver e estar no mundo de outra forma, ou corremos sérios riscos de permitir que as características que nos ajudaram a chegar aqui sejam as que vão determinar o nosso fim.
Se o nosso grande trunfo sempre foi a capacidade de adaptação, está na altura de mudar e adaptarmo-nos a uma nova realidade: estamos a mudar o planeta.

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