Mais uma vez o futebol português encontra-se nos holofotes da comunicação
social pelos piores motivos. Há uns anos foi o apito dourado que expôs a fórmula
do sucesso do FCP: controlar os órgãos de decisão do futebol português para
assim obter vantagem. E que vantagem! Durante anos acumularam títulos. Durante
anos, eram os melhores a vender jogadores, mais ninguém se mexia tão bem no
mercado de transferências como eles, eram indiscutivelmente a melhor equipa, eram
os melhores a descobrir talentos, eram os mais organizados, porque – e refiro
que ouvi anos a fio comentadores desportivos a usar esta frase nos meios de
comunicação social – tinham a “melhor estrutura”. Afinal, as escutas, que toda
a gente ouviu e percebe que houve corrupção, que houve fabricação de resultados
em benefício do FCP, as tais que foram consideradas ilegais e como tal inconsequentes,
vieram demonstrar que afinal não era apenas “estrutura”! Era uma Grande
Estrutura! Era a estrutura do prédio, as paredes, canalizações, caixilharia, eletricidade
e acabamentos! Era tudo! Valia tudo. Eu lembro-me. Eu tenho memória. Eu
lembro-me do SCP ter tido grandes equipas, que por um motivo qualquer – na altura
os comentadores utilizavam a expressão “ausência de mentalidade vencedora” ou “falta
de estrutura” – naqueles momentos cruciais do campeonato, em que podiam
aproveitar uma escorregadela do FCP, perdiam o jogo também!. Era sistematicamente
isto. Ou uma expulsão, ou um penálti inventado, havia sempre algo que
justificava o falhanço sistemático do SCP. Afinal, não era nada do que os
comentadores declaravam com uma certeza quase absoluta. Eram escutas. Eram
viagens Breu. Era fruta e chocolate.
Tudo isto se passou durante anos. Sempre se suspeitou mas era difícil de
provar pois para tal era necessário apanhar o corruptor e o corrompido em
flagrante. E como ambos tinham muito a perder é difícil conseguir a colaboração
de alguém.
Só com o virar do século e com o uso das novas tecnologias é que se
conseguiu apanhar os prevaricadores. O uso generalizado do telemóvel,
tecnologia a dar os primeiros passos nos anos 90 e a ser quase comum a partir
dos 2000, trazia perigos escondidos que ainda ninguém se tinha apercebido:
escutas. Foram incautos, não estavam alertados para este perigo e foram “agarrados”.
Aprendida a lição sobre as fragilidades do uso do telemóvel, os golpistas viraram-se
para a outra tecnologia a internet, as redes e os software de gestão. No
entanto, também tem as suas armadilhas: deixa rasto. Rasto esse que pode ser
descoberto sem ser necessário recorrer à Elite dos Hackers.
Todo este processo em torno do SLB e dos esquemas alegadamente montados
para tirar vantagem são mais que óbvios para quem tiver uma leitura séria e
isenta. Pode não se conseguir provar nada, à semelhança do que aconteceu com o
FCP, e não haver uma pena pesada para os prevaricadores. Ou poderá sempre haver
uma prova obtida ilegalmente que coloque em causa todo o processo. Mas uma
coisa é certa: é claro que houve uma tentativa de controlar órgãos, instâncias
ou corporações para tirar vantagem.
Se isto tudo terminar em nada, como terminou o FCP há uns bons anos atrás,
o futebol em Portugal continuará o mesmo: viciado. Se isto tudo terminar em
nada, novos esquemas se encontrarão, com outros protagonistas. Quem sabe o próximo
seja o SCP? Ou o SCB? Se isto tudo terminar em nada, veremos mais faturas de
valores que ninguém sabe de onde surgem, a serem pagas, às claras, como
aconteceu na semana que antecedeu a 2ª parte do Estoril x FCP.
Se tudo isto terminar em nada, o futebol português nunca vai ter interesse internacional.
Mesmo distribuindo as verbas das transmissões televisivas de forma mais
equitativa, ninguém vai comprar um campeonato que se sabe viciado.
Por muito que doa aos adeptos, tem de haver consequências, despromoções
perda de títulos etc. Não se pode assobiar para o lado no apito dourado, no
caso de tentativa de linchamento de um árbitro pelo Pereira Cristóvão ou para este
E-Toupeira. Os adeptos e sócios têm de perceber que têm de ser mais criteriosos
quando escolhem os líderes dos seus clubes. Têm de perceber que a ausência de
participação nas assembleias gerais, ou em atos eleitorais pode ter
consequências.
O FCP há muito que deveria ter sido punido com despromoção e perda dos
títulos conquistados. Se isso tivesse acontecido, tenho a certeza que Pinto da
Costa não seria sucessivamente reeleito pelos sócios do FCP com 90% dos votos. O
destino de LFV será traçado em função das consequências que este caso
E-Toupeira trará para o clube.
O futebol é hoje um negócio brutal, em que qualquer agente desportivo (futebolista,
empresário, treinador ou presidente) pode de um dia para o outro enriquecer de
forma quase pornográfica. Tal como pode cair em desgraça e nunca mais ganhar
dinheiro. Há muito dinheiro em jogo. Há muitos interesses. Há muita
distribuição de verbas em troca de favores e títulos. Foi assim com o FCP e tem
sido assim com o SLB.
Teria o SLB feito as vendas de jogadores que fez se não tivesse dominado o
futebol português como dominou nos últimos anos? Reparem na evolução das
receitas com vendas de jogadores 10/11, 2º ano de Jorge Jesus em que inclui as
transferências relativas ao 1.º ano, ano em que foi campeão. Depois têm uma
quebra fruto dos 3 anos em que o FCP venceu os campeonatos e em 14/15, furto de
o SLB ter sido novamente campeão em 13/14, as receitas volta a subir.
17/18: 131,92M€
16/17: 121,35M€
15/16: 104,30M€
14/15: 104,65M€
13/14: 44,30M€
12/13: 75,73M€
11/12: 41,14M€
10/11: 85,98M€
9/10: 6,83M€
8/9: 7,60M€
Será que, a confirmar-se que houve jogo fora das quatro linhas por parte do
SLB neste últimos anos, os outros clubes não foram lesados em termos
económicos? Não terão direito a indemnizações sobre os valores de
transferências realizadas pelo SLB?
Sem comentários:
Enviar um comentário