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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O (in)sucesso da troca da dívida


A semana passada – com uma grande ajuda, uma vez mais, dos meios de comunicação social – o governo bradou em todas as direcções e no máximo que os pulmões permitiram, que a troca de dívida realizada havia sido um sucesso. Um sinal de confiança dos investidores na economia portuguesa. Será mesmo assim?
1º - O governo queria trocar não 6,2mil milhões, mas sim 25mil milhões, ou seja só conseguiu 25% do que queria. Não sei o que parece aos outros mas a mim parece-me um falhanço.

2º - Os 6,2mil milhões (mais coisa menos coisa) que foram trocados, só o foram graças aos investidores portugueses – a banca nacional – ou seja,os investidores estrangeiros, que no fundo são os que representam os mercados, não foram na conversa e não trocaram a sua dívida, o que significa que querem o seu dinheirinho já e não tencionam investir novamente na nossa dívida. Já a banca nacional, como de costume, devido às ligações umbilicais que tem com as finanças públicas, aceitou prolongar. E é fácil perceber o porquê. Nem vou falar de quem é que beneficia com as PPP’s, ou com as rendas excessivas (que permanecem intocáveis e sabemos o porquê). Relembro apenas que a banca nacional comprou dívida nacional a 7 a 12% de juro em 2011, descapitalizando-se e depois beneficiou através do empréstimo do FMI a Portugal de uma tranche desse empréstimo a 1,5%. Ou seja esta relação de pura simbiose e dependência (com lucro para os bancos) faz com que por vezes também tenham de fazer uma ligeira vénia. Por serem só os investidores nacionais a aceitarem, esta troca parece-me pura especulação numa tentativa de “enganar” os mercados, pura fantochada. Ou seja, um falhanço.

3º - E no seguimento do ponto n.º2, os bancos fizeram a vénia, sim, mas fizeram-na com os bolsos cheios. Porque trocaram dívida a 3% de juro, por dívida com 5% de juro. Numa situação tão difícil, em que começam a ouvir-se cada vez mais vozes a sugerir a renegociação da dívida para baixar os juros, este governo conseguiu a proeza de os aumentar. Mas como os nossos políticos só pensam no dia de hoje, em que são eles a governar e a mamar e não pensam no amanhã, que serão outros a ter de pagar, para eles isto foi um sucesso, para mim não – falharam.
4º - Para este ponto vou usar o gráfico que o jornal Expresso publicou no suplemento económico. Ora “metam” mais 6mil milhões no gráfico nos anos de 2017 e 2018 e vejam onde vai para a barrinha do gráfico. Mesmo que distribuam 3mil por cada ano, não vão ser anos fáceis para quem governar e para os contribuintes.
 
5º - Para quem gozou e insultou Sócrates quando disse que as dívidas dos países não eram para ser pagas mas para ser geridas, sugiro que comece a engolir o sapinho. Porque o que este governo fez, na pessoa de Maria Luís Albuquerque é exactamente isso. Não pagaram, geriram, empurrando com a barriga para a frente, justificando assim o tão empregue ditado popular “quem vier atrás que feche a porta”.

6º - E último e em jeito de reflexão, deixo aqui um considerando. Se vamos pagar uma taxa de juro de 5% por dívida a 3 anos quanto é que vamos pagar de juro para dívida a 10 anos? Caso não se recordem a taxa de 7% foi considerada por todos proibitiva e motivo suficiente para recorrer ao FMI…

Que belo sucesso temos aqui!!...

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