A semana passada – com uma grande ajuda, uma vez mais, dos
meios de comunicação social – o governo bradou em todas as direcções e no
máximo que os pulmões permitiram, que a troca de dívida realizada havia sido um
sucesso. Um sinal de confiança dos investidores na economia portuguesa. Será
mesmo assim?
1º - O governo queria trocar não 6,2mil milhões, mas sim
25mil milhões, ou seja só conseguiu 25% do que queria. Não sei o que parece aos
outros mas a mim parece-me um falhanço.
2º - Os 6,2mil milhões (mais coisa menos coisa) que foram
trocados, só o foram graças aos investidores portugueses – a banca nacional –
ou seja,os investidores estrangeiros, que no fundo são os que representam os
mercados, não foram na conversa e não trocaram a sua dívida, o que significa
que querem o seu dinheirinho já e não tencionam investir novamente na nossa
dívida. Já a banca nacional, como de costume, devido às ligações umbilicais que
tem com as finanças públicas, aceitou prolongar. E é fácil perceber o porquê.
Nem vou falar de quem é que beneficia com as PPP’s, ou com as rendas excessivas
(que permanecem intocáveis e sabemos o porquê). Relembro apenas que a banca
nacional comprou dívida nacional a 7 a 12% de juro em 2011, descapitalizando-se
e depois beneficiou através do empréstimo do FMI a Portugal de uma tranche
desse empréstimo a 1,5%. Ou seja esta relação de pura simbiose e dependência
(com lucro para os bancos) faz com que por vezes também tenham de fazer uma
ligeira vénia. Por serem só os investidores nacionais a aceitarem, esta troca parece-me
pura especulação numa tentativa de “enganar” os mercados, pura fantochada. Ou
seja, um falhanço.
3º - E no seguimento do ponto n.º2, os bancos fizeram a vénia,
sim, mas fizeram-na com os bolsos cheios. Porque trocaram dívida a 3% de juro,
por dívida com 5% de juro. Numa situação tão difícil, em que começam a ouvir-se
cada vez mais vozes a sugerir a renegociação da dívida para baixar os juros,
este governo conseguiu a proeza de os aumentar. Mas como os nossos políticos só
pensam no dia de hoje, em que são eles a governar e a mamar e não pensam no
amanhã, que serão outros a ter de pagar, para eles isto foi um sucesso, para
mim não – falharam.
4º - Para este ponto vou usar o gráfico que o jornal
Expresso publicou no suplemento económico. Ora “metam” mais 6mil milhões no
gráfico nos anos de 2017 e 2018 e vejam onde vai para a barrinha do gráfico.
Mesmo que distribuam 3mil por cada ano, não vão ser anos fáceis para quem
governar e para os contribuintes.
5º - Para quem gozou e insultou Sócrates quando disse que as
dívidas dos países não eram para ser pagas mas para ser geridas, sugiro que comece
a engolir o sapinho. Porque o que este governo fez, na pessoa de Maria Luís
Albuquerque é exactamente isso. Não pagaram, geriram, empurrando com a barriga
para a frente, justificando assim o tão empregue ditado popular “quem vier
atrás que feche a porta”.
6º - E último e em jeito de reflexão, deixo aqui um
considerando. Se vamos pagar uma taxa de juro de 5% por dívida a 3 anos quanto é que vamos pagar de juro
para dívida a 10 anos? Caso não se recordem a taxa de 7% foi considerada por
todos proibitiva e motivo suficiente para recorrer ao FMI…
Que belo sucesso temos aqui!!...
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