Portugal não é a Grécia, a não ser que falemos de poder de compra.
Aí sim, somos não só a Grécia mas também a Eslováquia, três dos quatro países
dos 17 que compõem a zona euro com os habitantes mais pobres (com 75% do poder
de compra do europeu médio). O Eurostat revelou ontem os dados sobre o PIB per capita de cada estado europeu em 2012,
valores que, cruzados com o cenário em 2009, mostram que os últimos anos
serviram para enriquecer os países já antes ricos, empobrecendo os
estados-membros que já antes da crise tinham os cidadãos mais pobres.
Assim, e olhando para a evolução
dos diferentes poderes de compra dos europeus de 2009 até 2012, os dados
mostram que o Norte e o Centro da moeda única enriqueceram nestes anos, ao
passo que os menos ricos, sobretudo situados no Sul, ficaram ainda mais longe
dos padrões de vida a norte. O resultado choca com os discursos de
solidariedade entre estados, mas resulta em parte dessa suposta solidariedade
de Bruxelas, Berlim e demais instituições.
Segundo os dados de ontem do
Eurostat, a zona euro fechou 2012 com um PIB per
capita equivalente a 108% da
média da UE27. Em 2009, a zona euro apresentava uma média de 109% face à média
dos 27. Contudo, olhando em detalhe para cada um dos países da moeda única,
notam-se evoluções completamente opostas: os países afogados em austeridade e
em juros impostos pelos pacotes de "ajuda" estão em queda livre em
termos de PIB per capita,
ao passo que os países que "ajudam" estão a enriquecer.
Os portugueses, por exemplo,
passaram de um PIB per capita de 80% da média da UE27 em 2009 para
75% em 2012; na Grécia a queda foi ainda mais abrupta, com um recuo de 94% para
75%, estando agora ao nível português. Em Itália e Espanha, sem pacotes de
ajuda mas entre os "maus da fita" do Sul, as quedas foram idênticas:
de 104% e 103% para 98% e 97%, respectivamente. Já fora do Sul, os alemães
reforçaram o poder de compra de 115% da média da UE27 para 121%; os austríacos
de 125% para 131%; os holandeses recuaram ligeiramente mas persistem acima dos
valores alemães; na Finlândia o PIB per
capita cresceu de 114% para
115% e no Luxemburgo o valor subiu para 271%.
Se é certo que opções, erros e
más políticas dos governos dos últimos anos de Portugal ou Grécia, por exemplo,
são os grandes responsáveis pela queda destes países em recessão, também é cada
vez mais evidente que os países ricos da zona euro souberam pôr a desgraça
alheia a render em seu proveito: os pacotes de "ajuda" impostos aos
países em dificuldades asseguraram uma enorme margem de lucro para estes,
através dos juros cobrados aos países "irmãos" do euro, que, não
fossem os elevadíssimos custos dos juros suportados pelos empréstimos
"solidários", estariam já mais longe do caos: Portugal gasta por ano
4,4% do seu PIB em juros - 7,2 mil milhões de euros -, valor que sai
directamente dos bolsos dos contribuintes e dos trabalhadores portugueses para
dezenas de cofres de Estados e bancos europeus.
Por Filipe Paiva Cardoso
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