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sábado, 6 de agosto de 2022

Ricos em Qualquer Lado!


Há países onde nos podemos expressar livremente, e outros onde não.

Embora tenha nascido antes do 25 de abril, não posso dizer que saiba o que é viver em ditadura.

Mas prezo muito a liberdade de expressão e poder ouvir as mais diversas pessoas, quando bem informadas, a expressar livremente as suas opiniões e a fundamentá-las.

Podemos ou não concordar, mas é completamente diferente ouvir sempre a mesma lengalenga, do que poder escutar diferentes pontos de vista.

A vida não é monocromática e detestaria viver num país que o fosse, mesmo que fosse com mais dinheiro no bolso.

Alguém dizia, a propósito da guerra na Ucrânia e das suas implicações no crescimento económico, que até a China seria afetada, e que isso poderia pôr em causa a estabilidade social, baseada no acordo de melhor nível de vida em troca de obediência ao regime/partido. Ou seja, de acordo com o analista, o povo chinês abdicou de liberdade de expressão em troca de melhor nível de vida e de poder de compra.

O que me fez perguntar, quantos portugueses estariam dispostos a deixar de ter acesso ao contraditório, e a fontes de informação que nos proporcionam diferentes pontos de vista, em troca de mais umas centenas de euros no bolso?

Ou, colocando a questão de outra forma, quanto seria suficiente para atingir um número de eleitores que chegasse para mudar de um regime livre e democrático para um autocrático?

A grande questão é que isso pode acontecer, sem que venham efetivamente a receber os tais euros a mais no bolso. Basta criar essa ilusão. E, não nos esqueçamos: é sempre mais difícil reverter uma situação do que mantê-la.

Recordo que a França ficou a oito pontos percentuais mais um voto de ter uma presidente da extrema-direita. Um dos países mais ricos e com melhor nível de vida do mundo!

A Itália que pertence ao G7, vai a eleições em setembro, mas se fossem hoje, ganhava o partido da extrema-direita.

Nunca esteve tão perto…

Que implicações teria para a União Europeia?

Geralmente, países com democracias consolidadas e liberdade de expressão têm bom poder de compra. No geral, representam as nações mais desenvolvidas e com melhor nível de vida.

Mesmo assim, algo parece não estar bem…

Os Estados Unidos parecem estar á beira de uma guerra civil. A capacidade de diálogo entre democratas e conservadores nunca atingiu níveis tão baixos. Quem imaginava ser possível assistir ao ataque de 6 janeiro de 2021, ao Capitólio dos Estados Unidos?

Numa sociedade baseada no consumo, é compreensível que as pessoas se sintam frustradas quando não veem o seu esforço ser recompensado.

Atualmente impera o conceito que é o capital que gera dividendos, e que o valor humano é facilmente substituído, tirando uma muito pequena percentagem.

Assisto cada vez mais a quem abdique de uma carreira intensa e procure compensar dedicando-se a outras atividades, até como forma de conseguir obter o poder de compra desejado.

Ainda sou do tempo em que a empresa distribuía os lucros pelos acionistas e pelos trabalhadores. Hoje só distribui pelos acionistas por maior que seja o lucro.

Tirar uma licenciatura há 50 anos era praticamente garantia de um bom nível de vida. Atualmente, pode ser sinónimo de ir para caixa de um supermercado receber o ordenado mínimo.

Até os médicos se queixam. De acordo com o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, o salário médio de um médico, desceu de 4 salários mínimos para dois.

Recentemente ouvi na TV que muitos dentistas começam a trabalhar a receber o salário mínimo. Não me surpreenderia se se passasse o mesmo com outras licenciaturas.

Mas não era assim. E não o é agora porque haja menos dinheiro. Uma pequena percentagem continua a enriquecer e a ficar com uma percentagem cada vez maior do bolo.

Será que essas pessoas, os extremamente ricos, valorizam a liberdade de expressão?

Haverá diferenças entre sê-lo na China ou nos EUA? E valorizam-nas?

Aparentemente não parecem preocupados que possamos voltar a viver em autocracias/ditaduras. Se estivessem, faziam algo para travar o aumento da desigualdade.

Mesmo que do ponto de vista da racionalidade dos negócios estejam a tomar as melhores decisões, o facto é que existe o sério risco de cairmos num regime autocrático fruto de um crescente descontentamento.

É evidente que o esforço para a mobilidade social está a ser posto em causa.

Ou a maioria das pessoas passa a dar valor a outras formas de estar na vida, menos materialistas, ou corremos sérios riscos de mudar de sistema.

A recompensa vai cada vez mais para o capital. A possibilidade de alcançar um bom nível de vida, apenas com os rendimentos do trabalho, está em queda.

A que classe social pertence quem aufere dois ordenados mínimos mensais? Ainda compensa “marrar” para ter médias altíssimas?

Claro que há médicos a receber acima de 1420€/mês, mas o que está em causa é o conceito que recompensa cada vez mais o capital investido em detrimento do valor humano.

Um grupo de investidores gasta milhões a por um hospital a funcionar. Desde a compra do terreno até à abertura das portas.

Mas, os profissionais não são todos iguais e ainda há quem vá a determinado local porque quer ser atendido por determinada pessoa/s.

Dizem que não falta muito para que a robótica e a inteligência artificial enviem muitos profissionais para casa.

Vai acontecer num país livre e democrático, ou será que fica mais fácil se as regras estiverem bem definidas e os horários controlados?

Aparentemente, para os detentores do capital parece ser indiferente, afinal de contas, continuarão a enriquecer, seja aqui ou na Cochinchina. 

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