Há países onde nos podemos
expressar livremente, e outros onde não.
Embora tenha nascido antes do
25 de abril, não posso dizer que saiba o que é viver em ditadura.
Mas prezo muito a liberdade de
expressão e poder ouvir as mais diversas pessoas, quando bem informadas, a
expressar livremente as suas opiniões e a fundamentá-las.
Podemos ou não concordar, mas
é completamente diferente ouvir sempre a mesma lengalenga, do que poder escutar
diferentes pontos de vista.
A vida não é monocromática e
detestaria viver num país que o fosse, mesmo que fosse com mais dinheiro no
bolso.
Alguém dizia, a propósito da
guerra na Ucrânia e das suas implicações no crescimento económico, que até a
China seria afetada, e que isso poderia pôr em causa a estabilidade social,
baseada no acordo de melhor nível de vida em troca de obediência ao regime/partido.
Ou seja, de acordo com o analista, o povo chinês abdicou de liberdade de
expressão em troca de melhor nível de vida e de poder de compra.
O que me fez perguntar,
quantos portugueses estariam dispostos a deixar de ter acesso ao contraditório,
e a fontes de informação que nos proporcionam diferentes pontos de vista, em
troca de mais umas centenas de euros no bolso?
Ou, colocando a questão de
outra forma, quanto seria suficiente para atingir um número de eleitores que
chegasse para mudar de um regime livre e democrático para um autocrático?
A grande questão é que isso
pode acontecer, sem que venham efetivamente a receber os tais euros a mais no
bolso. Basta criar essa ilusão. E, não nos esqueçamos: é sempre mais difícil
reverter uma situação do que mantê-la.
Recordo que a França ficou a
oito pontos percentuais mais um voto de ter uma presidente da extrema-direita.
Um dos países mais ricos e com melhor nível de vida do mundo!
A Itália que pertence ao G7,
vai a eleições em setembro, mas se fossem hoje, ganhava o partido da
extrema-direita.
Nunca esteve tão perto…
Que implicações teria para a
União Europeia?
Geralmente, países com
democracias consolidadas e liberdade de expressão têm bom poder de compra. No
geral, representam as nações mais desenvolvidas e com melhor nível de vida.
Mesmo assim, algo parece não
estar bem…
Os Estados Unidos parecem
estar á beira de uma guerra civil. A capacidade de diálogo entre democratas e
conservadores nunca atingiu níveis tão baixos. Quem imaginava ser possível
assistir ao ataque de 6 janeiro de 2021, ao Capitólio dos Estados Unidos?
Numa sociedade baseada no
consumo, é compreensível que as pessoas se sintam frustradas quando não veem o
seu esforço ser recompensado.
Atualmente impera o conceito
que é o capital que gera dividendos, e que o valor humano é facilmente
substituído, tirando uma muito pequena percentagem.
Assisto cada vez mais a quem
abdique de uma carreira intensa e procure compensar dedicando-se a outras
atividades, até como forma de conseguir obter o poder de compra desejado.
Ainda sou do tempo em que a
empresa distribuía os lucros pelos acionistas e pelos trabalhadores. Hoje só
distribui pelos acionistas por maior que seja o lucro.
Tirar uma licenciatura há 50
anos era praticamente garantia de um bom nível de vida. Atualmente, pode ser
sinónimo de ir para caixa de um supermercado receber o ordenado mínimo.
Até os médicos se queixam. De
acordo com o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, o salário
médio de um médico, desceu de 4 salários mínimos para dois.
Recentemente ouvi na TV que
muitos dentistas começam a trabalhar a receber o salário mínimo. Não me
surpreenderia se se passasse o mesmo com outras licenciaturas.
Mas não era assim. E não o é
agora porque haja menos dinheiro. Uma pequena percentagem continua a enriquecer
e a ficar com uma percentagem cada vez maior do bolo.
Será que essas pessoas, os
extremamente ricos, valorizam a liberdade de expressão?
Haverá diferenças entre sê-lo
na China ou nos EUA? E valorizam-nas?
Aparentemente não parecem
preocupados que possamos voltar a viver em autocracias/ditaduras. Se
estivessem, faziam algo para travar o aumento da desigualdade.
Mesmo que do ponto de vista da
racionalidade dos negócios estejam a tomar as melhores decisões, o facto é que
existe o sério risco de cairmos num regime autocrático fruto de um crescente
descontentamento.
É evidente que o esforço para
a mobilidade social está a ser posto em causa.
Ou a maioria das pessoas passa
a dar valor a outras formas de estar na vida, menos materialistas, ou corremos
sérios riscos de mudar de sistema.
A recompensa vai cada vez mais
para o capital. A possibilidade de alcançar um bom nível de vida, apenas com os
rendimentos do trabalho, está em queda.
A que classe social pertence
quem aufere dois ordenados mínimos mensais? Ainda compensa “marrar” para ter
médias altíssimas?
Claro que há médicos a receber
acima de 1420€/mês, mas o que está em causa é o conceito que recompensa cada
vez mais o capital investido em detrimento do valor humano.
Um grupo de investidores gasta
milhões a por um hospital a funcionar. Desde a compra do terreno até à abertura
das portas.
Mas, os profissionais não são
todos iguais e ainda há quem vá a determinado local porque quer ser atendido
por determinada pessoa/s.
Dizem que não falta muito para
que a robótica e a inteligência artificial enviem muitos profissionais para
casa.
Vai acontecer num país livre e
democrático, ou será que fica mais fácil se as regras estiverem bem definidas e
os horários controlados?
Aparentemente, para os
detentores do capital parece ser indiferente, afinal de contas, continuarão a
enriquecer, seja aqui ou na Cochinchina.
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