10. A desigualdade instalou-se
A desigualdade veio para
ficar!
É impossível negar que a
partir daquele momento inicial, deixamos de partir em igualdade de
circunstâncias.
Uma família que tenha
possibilidade de oferecer aos seus filhos uma boa educação, sabe que lhe está a
dar as ferramentas necessárias para que consiga uma vida mais confortável.
Por oposição, uma família
pobre que não consiga suportar a educação dos seus filhos, geralmente não
consegue evitar que acabem com trabalhos mais duros fisicamente, menos
estimulantes e mais mal remunerados.
Os que podem, não negligenciam
a educação dos seus filhos, e na maioria dos casos, não fazem grande esforços para
pôr fim às desigualdades do sistema de ensino.
Ninguém nega que há vantagens
em partir à frente.
Um sistema de ensino mais
igualitário podia trazer mais competitividade, o que provavelmente resultava numa
maior oferta em termos de qualidade.
Mas, a quem é que isso
interessa?
Não se resume apenas aos
estudos. Quem tiver dinheiro para investir, quem puder ser sócio ou patrão, tem
muito mais possibilidades de criar riqueza e ter uma vida melhor, do que quem
não tiver esses meios.
As coisas são mais complexas,
mas no essencial é isto: não é impossível deixar de ser pobre, mas também não é
nada fácil.
Em oposição, não é impossível
deixar de ser rico, mas é preciso ter algum azar, ser esbanjador, ou cair em
desgraça.
O normal é cada um continuar a
ser o que sempre foi.
Há exceções? Claro que sim,
mas são isso mesmo!
Não se trata de “o melhor
vence”, embora muitas vezes nos queiram fazer pensar que sim.
É impossível dizer sempre, que
venceu o que tem melhores genes, ou o que tem mais capacidades para aquela
função, ou até o que se esforçou mais.
Muitas vezes, as diferenças
com que partem, torna quase impossível ao que parte atrás chegar em primeiro.
Na maioria dos casos, não é
uma competição justa! Nem creio que se possa chamar de competição, se a
desigualdade inicial determinar, por si só, o vencedor.
Talvez possamos dizer que
existem várias competições: as de uns, as de aqueles e as dos outros.
O homem a certa altura (a
partir da agricultura) passou a definir a suas próprias leis. Não só para
garantir a convivência em grupos que passaram a incluir estranhos, mas também para
defender os interesses privados face aos coletivos.
Deixou de ser necessário ser-se
o melhor para executar determinada tarefa.
Nada fere mais o espírito de pertença
ao mesmo grupo, do que o contraste entre a miséria e a opulência.
Infelizmente, todos nós já
lemos ou ouvimos notícias como a que se segue:
"Milhões de bebés e crianças não deveriam estar a morrer todos os
anos por falta de acesso a água, saneamento, nutrição adequada ou serviços
básicos de saúde" (…).
(…)
“A maioria das crianças menores de 5 anos morre devido a causas preveníveis
e com tratamento, como as complicações durante o parto, pneumonia, diarreia,
sepse neonatal e a malária”[1].
Imagine quantas destas
crianças que morreram, por este mundo fora, não poderiam ter tido um futuro
brilhante.
Ou seja, perdemos crianças que
não podemos saber o que teriam sido.
Quantos Charlie Chaplin,
Wolfgang Amadeus Mozart, Albert Einstein ou Diego Maradona se poderão ter perdido
nos últimos milhares de anos.
Nada contra os ricos! Quem não
gostava de não ter de se preocupar com o dinheiro e fazer aquilo de que mais
gosta, ou simplesmente, poder pagar para não ter de fazer aquelas atividades de
que menos gosta.
Não acho que devamos ganhar
todos o mesmo. Não me pareceria justo.
Julgo que a pobreza e a
miséria são evitáveis, e não creio que sejam indissociáveis da abundância excessiva.
Como é possível que nunca
chegue?
Custa a entender porque leva
tanto a livrarmo-nos de certos comportamentos (que trazem ao de cima o que de
pior há no ser humano).
Não é aceitável (do meu ponto
de vista) que a desigualdade atinja níveis tão elevados, principalmente enquanto
não for garantido um salário mínimo que permita uma vida decente.
O argumento que o sistema
premeia os melhores porque são esses que criam riqueza e trazem o progresso é
falso.
O progresso e a riqueza vieram
do conhecimento e da ciência.
Quase sempre, os mais ricos
são pessoas bem-adaptadas a um sistema que os defende.
Nem sempre é o melhor que
ganha. Certamente que algumas vezes o é, mas cada vez mais, depende das regras
do jogo.
Se no futebol não houvesse
fora de jogo, não me surpreenderia que a altura dos ponta-de-lança subisse consideravelmente.
Era colocar dentro da pequena
área, “uma torre” (ou duas), com dois metros (ou mais), que jogasse minimamente
bem de cabeça, e talentos como Pelé, Johan Cruijff e Alfredo Di Stéfano, poderiam
ter sido preteridos por falta de centímetros.
[1]
https://www.unicef.org/angola/comunicados-de-imprensa/cada-cinco-segundos-morre-no-mundo-uma-crian%C3%A7a-com-menos-de-15-anos
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