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sexta-feira, 22 de abril de 2022

 


10.          A desigualdade instalou-se

A desigualdade veio para ficar!

É impossível negar que a partir daquele momento inicial, deixamos de partir em igualdade de circunstâncias.

Uma família que tenha possibilidade de oferecer aos seus filhos uma boa educação, sabe que lhe está a dar as ferramentas necessárias para que consiga uma vida mais confortável.

Por oposição, uma família pobre que não consiga suportar a educação dos seus filhos, geralmente não consegue evitar que acabem com trabalhos mais duros fisicamente, menos estimulantes e mais mal remunerados.

Os que podem, não negligenciam a educação dos seus filhos, e na maioria dos casos, não fazem grande esforços para pôr fim às desigualdades do sistema de ensino.

Ninguém nega que há vantagens em partir à frente.

Um sistema de ensino mais igualitário podia trazer mais competitividade, o que provavelmente resultava numa maior oferta em termos de qualidade.

Mas, a quem é que isso interessa?

Não se resume apenas aos estudos. Quem tiver dinheiro para investir, quem puder ser sócio ou patrão, tem muito mais possibilidades de criar riqueza e ter uma vida melhor, do que quem não tiver esses meios.

As coisas são mais complexas, mas no essencial é isto: não é impossível deixar de ser pobre, mas também não é nada fácil.

Em oposição, não é impossível deixar de ser rico, mas é preciso ter algum azar, ser esbanjador, ou cair em desgraça.

O normal é cada um continuar a ser o que sempre foi.

Há exceções? Claro que sim, mas são isso mesmo!

Não se trata de “o melhor vence”, embora muitas vezes nos queiram fazer pensar que sim.

É impossível dizer sempre, que venceu o que tem melhores genes, ou o que tem mais capacidades para aquela função, ou até o que se esforçou mais.

Muitas vezes, as diferenças com que partem, torna quase impossível ao que parte atrás chegar em primeiro.

Na maioria dos casos, não é uma competição justa! Nem creio que se possa chamar de competição, se a desigualdade inicial determinar, por si só, o vencedor.

Talvez possamos dizer que existem várias competições: as de uns, as de aqueles e as dos outros.

O homem a certa altura (a partir da agricultura) passou a definir a suas próprias leis. Não só para garantir a convivência em grupos que passaram a incluir estranhos, mas também para defender os interesses privados face aos coletivos.

Deixou de ser necessário ser-se o melhor para executar determinada tarefa.

Nada fere mais o espírito de pertença ao mesmo grupo, do que o contraste entre a miséria e a opulência.

Infelizmente, todos nós já lemos ou ouvimos notícias como a que se segue:

"Milhões de bebés e crianças não deveriam estar a morrer todos os anos por falta de acesso a água, saneamento, nutrição adequada ou serviços básicos de saúde" (…).

(…)

“A maioria das crianças menores de 5 anos morre devido a causas preveníveis e com tratamento, como as complicações durante o parto, pneumonia, diarreia, sepse neonatal e a malária”[1].

Imagine quantas destas crianças que morreram, por este mundo fora, não poderiam ter tido um futuro brilhante.

Ou seja, perdemos crianças que não podemos saber o que teriam sido.

Quantos Charlie Chaplin, Wolfgang Amadeus Mozart, Albert Einstein ou Diego Maradona se poderão ter perdido nos últimos milhares de anos.

Nada contra os ricos! Quem não gostava de não ter de se preocupar com o dinheiro e fazer aquilo de que mais gosta, ou simplesmente, poder pagar para não ter de fazer aquelas atividades de que menos gosta.

Não acho que devamos ganhar todos o mesmo. Não me pareceria justo.

Julgo que a pobreza e a miséria são evitáveis, e não creio que sejam indissociáveis da abundância excessiva.

Como é possível que nunca chegue?

Custa a entender porque leva tanto a livrarmo-nos de certos comportamentos (que trazem ao de cima o que de pior há no ser humano).

Não é aceitável (do meu ponto de vista) que a desigualdade atinja níveis tão elevados, principalmente enquanto não for garantido um salário mínimo que permita uma vida decente.

O argumento que o sistema premeia os melhores porque são esses que criam riqueza e trazem o progresso é falso.

O progresso e a riqueza vieram do conhecimento e da ciência.

Quase sempre, os mais ricos são pessoas bem-adaptadas a um sistema que os defende.

Nem sempre é o melhor que ganha. Certamente que algumas vezes o é, mas cada vez mais, depende das regras do jogo.

Se no futebol não houvesse fora de jogo, não me surpreenderia que a altura dos ponta-de-lança subisse consideravelmente.

Era colocar dentro da pequena área, “uma torre” (ou duas), com dois metros (ou mais), que jogasse minimamente bem de cabeça, e talentos como Pelé, Johan Cruijff e Alfredo Di Stéfano, poderiam ter sido preteridos por falta de centímetros.



[1] https://www.unicef.org/angola/comunicados-de-imprensa/cada-cinco-segundos-morre-no-mundo-uma-crian%C3%A7a-com-menos-de-15-anos

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