O primeiro-ministro diz que o único compromisso do Governo
“era o descongelamento das carreiras na função pública”.
Por outro lado, a Lei do Orçamento do Estado para 2018, de
29 de dezembro, estabelece no artigo 19.º que “a expressão remuneratória do
tempo de serviço nas carreiras, cargos ou categorias integradas em corpos
especiais, em que a progressão e mudança de posição remuneratória dependam do
decurso de determinado período de prestação de serviço legalmente estabelecido
para o efeito, é considerada em processo negocial com vista a definir o prazo e
o modo para a sua concretização, tendo em conta a sustentabilidade e
compatibilização com os recursos disponíveis.”
Ou seja, para aqueles setores do Estado em que o tempo de
serviço é determinante para a progressão nas carreiras, o Governo admite
considerar um período para efeitos de recuperação do tempo em que as mesmas
estiveram congeladas.
No caso dos professores, o Governo aprovou contabilizar dois
anos, nove meses e 18 dias “no momento da progressão ao escalão seguinte, o que
implica que todos os docentes verão reconhecido esse tempo, em função do normal
desenvolvimento da respetiva carreira”.
Entretanto, ficamos a saber que também as forças militares e
os juízes vão ver algum tempo considerado.
O país entra em crise e “pedem-nos a todos” um esforço que
inclui o congelamento dos salários, e agora o Governo vem dizer que para
aqueles que progridem na carreira de x em x anos vai ser contabilizado algum
desse tempo, e para os restantes não.
Porquê? Provavelmente o Governo acha que os trabalhadores do
Estado cujas progressões nas carreiras não dependem do tempo de serviço podem
ser aumentados todos os anos, ou a qualquer altura…
Será que o Governo não sabe que há profissionais de setores
do Estado (sejam funcionários públicos, sejam do setor empresarial) que ficam
anos e anos sem ser promovidos, mesmo com avaliação consecutivas de bom
desempenho?
E que esses períodos de tempo podem ser muito superiores aos
referidos de “x em x anos”?
E que existem cotas para progressão na carreira que servem
para impedir a grande maioria dos profissionais de progredir, durante anos e
anos, mesmo com muito boas avaliações de desempenho?
E que muitos dos trabalhadores do Estado estão há pelo menos
8 anos sem ser promovidos e que podem ficar ainda muitos mais anos (com
diminuição da qualidade de vida, primeiro no ativo e posteriormente na
reforma)?
E que as tabelas de progressão na carreira sofreram
recentemente aumentos dos escalões com a consequente redução no incremento
salarial?
Quem dera a muitos profissionais do Estado ter a
possibilidade de progredir na carreira de tantos em tantos anos, à semelhança
dos professores, militares ou juízes, desde que isso dependesse do bom
desempenho das suas funções.
Por tudo isto, não posso deixar de dizer que esta
descriminação que o Governo está a fazer ao tratar de forma desigual
profissionais de diferentes setores do Estado, me parece muito mal.
Será que tudo isto se deve ao facto de certas profissões
terem maior capacidade de fazer pressão sobre o Governo?
Seja como for, a mim parece-me injusto.
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