25.
Alterações climáticas
Durante algum tempo, para os
menos informados, e talvez mais ingénuos, ainda havia esperança que fosse
reversível.
Parecia difícil de acreditar
que íamos deixar acontecer uma mudança que de forma generalizada nos ia trazer tantas
e tão sérias dificuldades.
Podemos até questionar-nos se
haverá quem venha a beneficiar com as alterações climáticas, e nessa sequência
de pensamento, especular se houve quem fez força para impedir aqueles que as
tentavam travar.
Atualmente são uma certeza, de
tal modo que as palavras de ordem passaram a ser “mitigar” e “adaptar”.
Aqui é importante realçar que
uma depende da outra: quanto menos conseguirmos mitigar, mais será necessário
adaptar para tentar sobreviver.
Hoje sabe-se que a subida da
temperatura resulta de uma maior concentração de gases com efeito de estufa na
atmosfera da Terra, com forte destaque para o dióxido de carbono, que é
libertado pela queima de combustíveis fósseis: carvão, petróleo e gás natural[1].
Prevê-se que com as atuais
taxas de emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera, a temperatura
média da Terra possa aumentar 2ºC até 2050, atingindo o valor limite, para lá
do qual atingiremos valores perigosos.
Em 2019 a temperatura média da
Terra esteve ao redor de 1.1ºC acima dos níveis pré-industriais.
É importante sublinhar que se atravessarmos
o limite definido para 2050, teremos de enfrentar os efeitos irreversíveis de
uma crise climática sem precedentes na história da humanidade.
Podemos, portanto, concluir
que já não há forma de voltar atrás, que a subida da temperatura média da Terra
ainda não estabilizou e que quanto maior for, mais graves (ou catastróficas) serão
as consequências do que iremos ter de enfrentar.
É como se estivéssemos a bordo
do Titanic, com a certeza de que não vamos conseguir impedir o choque frontal
com o iceberg, apenas ainda sem saber com que estrondo, e quais as consequências
do embate.
É completamente diferente
viver com os fenómenos das alterações climáticas, uma vez por ano, ou, uma vez por
mês, isto sem falar na intensidade dos mesmos:
Fenómenos extremos como fortes
chuvadas com valores de precipitação num curto espaço de tempo, equivalente
a um longo período. Por exemplo, chover numas horas o mesmo que num ano.
A perda de humidade nas
florestas e consequente seca dos solos, resultado da subida da temperatura, tem
conduzido a incêndios cada vez mais difíceis de combater.
Longos períodos sem chuva que
tem levado a secas extremas com graves consequências na alimentação e
disponibilidade de água potável que tem afetado algumas populações, em
particular no continente africano, de forma extremamente severa.
Ondas de
calor, capazes de tirar a vida a quem estiver com a saúde mais debilitada e
não tiver meios para se proteger.
Caídas repentinas e
inesperadas de granizo que destroem por completo produções inteiras de cultivos.
Furacões (ou outros
fenómenos semelhantes: Tufões, Ciclones e Tornados) que atingem níveis
muito elevados e que têm a capacidade de provocar elevados danos, inclusive em
habitações próprias.
Acidificação
dos Oceanos, com significativas perdas de biodiversidade, como
por exemplo, a Grande Barreira de Corais da Austrália.
A subida do
nível de águas do mar que poderá atingir os dois metros de altura no
final deste século, irá deixar milhões de quilómetros de zonas costeiras
sujeitas à mercê de inundações, e levará muitas pessoas (estima-se perto dos
750 milhões) a ter de procurar estabelecer-se noutro local.
Parece evidente que devemos
fazer de tudo o que estiver ao nosso alcance para evitar chegar perto de
valores perigosos.
Mais, não devemos desprezar a
possibilidade de a certa altura dar-se um salto no aumento da temperatura, e
passarmos de um crescimento progressivo para uma subida exponencial.
Infelizmente continuo com a
sensação de que não estamos a dar a importância devida a este grave problema.
Mais, adianta muito pouco se
um determinado país faz tudo o que está ao seu alcance para combater as
alterações climáticas, enquanto o país ao lado não faz nada, desprezando o
problema e a ideia da necessidade de um esforço coletivo.
Mas há outro lado da moeda:
houve uma altura em que ainda era possível reverter as alterações climáticas
resultantes dos gases com efeito de estufa que continuamente enviamos para a
atmosfera.
A explicação que mais tenho encontrado
para explicar por que não agimos nessa altura, diz que optamos por não
desperdiçar a energia fácil e acessível disponibilizada pelos combustíveis
fósseis. Que essa energia nos permitiria atingir um nível de progresso e desenvolvimento
tecnológico, que nos daria as ferramentas necessárias para combater as
alterações climáticas.
Como se fosse vantajoso ter
meios mais sofisticados e eficazes para combater desastres, do que não o ter,
mas também não ter desastres para combater.
Parece-me que a verdade é
outra: já tínhamos as infraestruturas montadas e havia ainda muitos
combustíveis fósseis para retirar dos solos do planeta.
Claro que teria sido
preferível abrandar o progresso e o crescimento económico, “chegávamos lá na mesma”,
e teríamos evitado este “gigantesco problema para sempre”
Mas a decisão não foi “nossa”.
Não foi feito nenhum referendo. Os lóbis do petróleo (e do carvão e gás
natural) conseguiram pressionar políticos que souberam impor essa decisão.
Se tivéssemos iniciado a transição
para as energias verdes há várias décadas, certamente que não estávamos tão
desenvolvidos, mas teríamos evitado os custos que vamos ter, não se sabe por
quanto tempo…
O interesse egoísta de
muitíssimos poucos, sobrepôs-se ao interesse de todos nós, os restantes vários milhares
de milhões).
É importante não esquecer que esses
custos serão suportados por todos, embora mais por uns do que por outros, e
alguns estarem menos preparados para os combater.
Por ironia do destino, nem
sempre são os mais responsáveis aqueles que terão de pagar a maior fatura.
Mas uma coisa todos já
sabemos, houve quem tenha beneficiado muito mais do que todos os outros, com a
exploração até ao limite dos combustíveis fósseis.
Parece uma maldição!
Já sei o que vão dizer: É a
lei na natureza!
Os mais fortes impõem a sua
vontade aos mais fracos!
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